terça-feira, 29 de setembro de 2009

Comece a brigar!


Se você está lendo esse aviso, então isso é para você.
Cada palavra lida deste texto inútil é um segundo perdido da sua vida.
Você não tem mais nada para fazer?
Sua vida é tão vazia que você não consegue vivê-la melhor?
Ou você está tão impressionado com a autoridade que você respeita todos aqueles que a exercem em você?
Você lê tudo o que deveria?
Pensa tudo o que deveria?
Compra tudo o que lhe dizem para comprar?
Saia do seu apartamento/casa.
Pare de comprar tanto e de se masturbar tanto.
Peça demissão.
Comece a brigar. Prove que você está vivo.
Se você não fizer valer pelo seu lado humano, você se tornará apenas mais um número.

Você foi avisado.


Por: Tyler Durden (Clube da Luta)

Presente especial!!




Por: Fabíola Alcazzar

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Bosque


A luz da lua guia meus passos através das árvores.
Orientado somente por um cheiro, por uma voz e por um desejo.
E lá está ela, perdida entre suas juras de amor e ódio.

A observo atentamente com o coração cheio de curiosidades
e com a cabeça cheia de perguntas.

Como uma voz tão linda pode ser capaz de pronunciar palavras tão feias?

Ou como uma criatura tão frágil possui essa paixão tão incandescente?

As lágrimas que caem de seu rosto,
dão um tom todo especial à seus lindos olhos verdes.
E seus poemas queimam em meu peito como raios de sol.

Por instante sinto como se ela é que me vigiasse.
E nem toda a eternidade me faria entendê-la.
Me sinto vulnerável e derramo lágrimas de fogo.

Fico aqui em pé entre essas árvores possivelmente mais velhas que eu.
Tentado a observá-la até o fim de seus dias.
Mas a luz ameaçadora da manhã vem lembrar-me
que é hora de me despedir.

Por: Yuri Pospichil

domingo, 20 de setembro de 2009

Sete (música)


Já fiz de tudo só pra me fazer notar
Mas tua alma é cega.
Uma olhada no espelho mostra um mundo que eu não quero ver.
E nenhuma chuva vai lavar as lágrimas que por você eu derramei.

Maldição tão doce em uma noite fria.
Rasga o véu tão branco da minha agonia.
Uma alma solta ao descaso.
Cacos de amor que me cortam quando tento juntá-los.

Filosofia barata, honesta e inconsequente.
Resquícios de vida, insana, inconsciente.
O vermelho e o negro e uma triste saída.
Duas faces de si mesmo no espelho da vida.

Quando venço a noite e retorno ao dia
Se dissipa a sombra e me remete à vida.
Mas nem mesmo o fogo no meu peito
Me purifica do medo ou cauteriza a ferida.

Sete vidas, sete sonhos, sete noites bem vividas.
Sete mentiras.
Sete chaves, sete guerras, sete medos.
Sete estigmas.

E nenhuma chuva vai lavar as lágrimas que por você eu derramei.

Por: Rimini Raskin

Cantiga Para O Meu Chão / Eis o homem


Sinto na goela a força desta cantiga
Que certamente há de irmanar o meu povo
Pra que a esperança e humilde se acolherem
E se entreverem na busca de um mundo novo

Erguendo ranchos de santa fé e pau a pique
Bolcando a terra com mariposas e arados
Semeando vidas na imensidão deste pampa
Mantendo a estampa do Rio Grande abagualado

Foi junto aos tauras que nasceram das peleias
E os que entregaram corpo e alma ao nosso chão
Que veio à tona este apego sem costeio
Que faz floreio e nos golpeia o coração

Temos nas veias o mesmo sangue dos guapos
Temos no peito a mesma gana dos outros
Que se extraviaram em faturas de gado alçado
Ou nos banhados sumiram boleando potros

Esta querência falquejada a ferro e fogo
Fez do gaúcho um centauro sobre a terra
Trazendo adiante uma trajetória que encanta
E na garganta um bravo grito de guerra

Este gaudério que cortou várzeas e grotas
Desdobrou léguas na volta dos corredores
Costeou matreiros sovando garras e laços
Abrindo espaços pra ginetes e pealadores

Um sentimento dentro de mim se alvorota
Por isso eu canto clamando por liberdade
A esta gente que luta changueando uns cobres
E além de pobres enfrentam desigualdades

Mas algum dia há de brotar campo à fora
Frutos de um sonho que um dia serão tronqueira
Pra palanquear uma tropilha de mouros
E os índios touros vão surgir na polvoadeira!


Por: Rogério Villagran / César Oliveira

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"...BROTEI DO VENTRE DA PAMPA
QUE É PÁTRIA DA MINHA TERRA
SOU RESUMO DE UMA GUERRA
QUE AINDA TEM IMPORTÂNCIA
E ANTE TAL CIRCUNSTÂNCIA,
SEGUI OS CLARINS FARROUPILHAS
E DEVORANDO COXILHAS
ME TRANSFORMEI EM DISTÂNCIAS
SOU ENFIM O SABIÁ QUE CANTA ALEGRE
EMBORA SEMPRE SOZINHO
SOU GEMIDO DE MOINHO
NUM TOM TRISTONHO QUE ENCANTA
SOU O PÓ QUE SE LEVANTA,
SOU TERRA, SANGUE SOU VERSO
EU SOU MAIOR QUE A HISTÓRIA GREGA,
POIS SOU GAÚCHO E ME CHEGA
PRÁ SER FELIZ NO UNIVERSO!..."


Por: MARCO AURÉLIO CAMPOS

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Björk - Venus as a boy



Seu malicioso senso de humor
De sugerir sexo excitante
Seus dedos focalizados nela
Tocando, ele é Vênus em forma de menino

Ele acredita na beleza
Ele é Vênus em forma de menino

Ele está explorando
O gosto dela
Estimulando
Tão cuidadoso
Ele ressaltou
A beleza nela
Ele é Vênus em forma de menino

Ele acredita na beleza
Ele é Vênus em forma de menino

domingo, 13 de setembro de 2009

Até um dia, linda Têmis!


Assassino! Monstro! MORTE!!!
Sim, morte.
É isso que eles querem, o doce espetáculo do fim da vida...a morte!
A multidão adora, aquela raiva misturada com euforia, o desespero estampado na cara do condenado, o suor que lhe escorre gelado pelo rosto.
Coitado? Sim, por que não?
Culpado? Talvez.
Mas como talvez?
A justiça não mostrou a verdade.
Mas a troco de que mentiriam?
Incompetência? Engano? Pressão???
Ah, a pressão, afinal a vítima era rica, poderosa.
A "justiça" deve ser rápida, eficiente.
...Dinheiro, pressão...
O tempo está passando e a família quer resultados...VINGANÇA!
Sim, é isso que eles querem, uma fria e sórdida vingança...seja qual for, com quem for...alguém tem que pagar.
Mas entre muitos suspeitos e poucas provas, a "lei" não obtêm respostas conclusivas.
Oh! E agora? O quê fazer?
Dizer desculpe mas falhamos?
NÃO! Nada disso, a justiça não falha!!
Eles pensam, pensam...a família pressiona, pressiona.
E então, como uma inspiração divina eles chegam a uma conclusão!!
"Bravo! Bravíssimo! Eles não falham mesmo!" - pensa o povo.
Será mesmo?
É simples, queriam um culpado não é? Eles lhe darão um culpado!
Um garçom, um pai de família, um preto,
um pobre coitado que saía do trabalho na hora do crime.
O público vibra, afinal, para quê provas? O importante é que alguém pague.
E ironicamente, a culpa cai mais uma vez no alvo favorito da lei, um pobre!
Coincidência? Será?...acredito que não!
Ele é condenado à morte!
A família da vítima chora de alegria, em seus pensamentos um único desejo...morte!
A execução já foi marcada, é o fim.
A televisão transforma o acontecimento em espetáculo!
O maravilhoso show da hipocrisia, da vergonha!
A execução será em praça pública, enforcamento...para lembrar os velhos tempos, sabe?
A imprensa chega cedo, brigam, se acotovelam por um lugar mais perto do palco.
Querem filmar bem de pertinho, querem registrar o medo dentro dos olhos do condenado.
O povão não demora para lotar a praça, estão eufóricos, gritam palavras de ódio, erguem faixas com mensagens de "justiça", todos querem aparecer na TV.
E então um apresentador, tipo esses de circo mesmo, entra no palco anunciando a barbárie.
Incita a ira da multidão contra o condenado, espalha sorrisos e atira brindes ao "respeitável" público.
"Tragam o assassino!" - Grita ele.
A multidão vibra como final de copa do mundo de futebol!
E preso à algemas, empurrado por guardas, entra um senhor magro, de olhar amedrontado
e pele castigada pelo trabalho pesado.
O povo grita, xinga, humilha um pobre pai de família. Eles querem ver o que lhes foi prometido...a morte!
O condenado olha para a família da vítima, eles parecem felizes, sentados na primeira fila, na altura dos olhos do futuro enforcado.
Ele olha para o público e vê animais...NÃO...animais não seriam tão cruéis, ele vê a decadência humana no seu nível mais crítico. Alí, bem na sua frente, vibrando pela morte de um irmão.
"O show deve continuar!" - Continua o apresentador.
E então os guardas passam a corda ao redor do pescoço de João.
...SIM!...um simples João, um joão ninguém, o fiel retrato da displicência brasileira.
Ele está lá, a um passo da morte, a um passo do acerto de contas com a sociedade, desesperado, morto de medo, a sua vontade é de chorar...mas não!
Ele não derrama uma só lágrima. O público vibra, xinga, grita, mas ele não chora.
...Isso mesmo João, não de esse prazer a eles!!...
Mas a hora chega, os tambores rufam, o publico fica mudo.
João segura firme, engole seco, e vê sua última imagem...o último retrato antes do golpe fatal!
Ele vê sua mulher abraçada com seus dois filhos, e só então deixa cair uma única e última lágrima.
A multidão volta para casa satisfeita. Aplaudem, se abraçam, alguns até gritam: "Hoje foi feita a justiça!"
A família da vítima faz questão de cumprimentar desde o secretário de segurança até o apresentador do espetáculo. E para demonstrar toda sua gratidão, convidam os competentes agentes da lei para um grande banquete com música e fogos!
Na praça fria e silenciosa restaram apenas três fantasmas, três espectros indigentes com lágrimas nos olhos.
Uma vez me falaram que não há nada mais apavorante do que os olhos de um homem que sabe que vai morrer! - Concordo. Agora, em casa, ligo a TV e acendo um cigarro antes de adormecer assistindo um programa de humor qualquer.



Por: Rimini Raskin

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A face oculta do amor (22/07/2001)


Você foi amaldiçoada pelo tempo.
Condenada à viver no passado,
caminhando entre tristes fantasmas,
presa no canto mais escuro, fechado.

Todas essas pessoas conversando,
isso te enlouquece não é?

Se torna tão fácil saber para onde fugir quando lhe resta somente a noite como saída.
Uma amiga invisível pronta para escutar uma boa história.

E então sentada na mesma calçada colocando sua fé em dúvida, seus amigos, um a um, acabam por lhe dar as costas.
Porque as pessoas em geral são como jóias baratas.
Fascinantes, porém falsas.

Entregue totalmente à sua arte repleta de exageros.
Todos eles como monstros de olhos claros e dentes afiados, sempre prontos a te aceitarem.
E só então o sorriso toma de assalto sua face.
Um riso convulsivo, semi insano, que rapidamente se espalha por todo seu corpo em forma de calor.
-"Por que?" ...Você se pergunta.
-"Por que me enlouqueces ao ponto de amá-lo?"
-"Como podes tu fazer de mim, de amante do fugaz, uma escrava do eterno?"

E assim, aos poucos acabarás matando em ti o teu dom.
E com ele morrerá o sagrado.
Até o ponto que nem mesmo um sentido haverá.
Condenada a morrer de amor.
Enquanto não revelar a verdadeira face das mulheres no quadro.


Por: Yuri Pospichil

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Quando só lembrar não basta!

Houve um tempo em que nada era fantasia,
mas também realidade tão pouco era.
O mistério se revelava em cada centímetro de novo território.

Em cada ação uma aventura e em cada certeza uma nova dúvida.

As pessoas eram enormes,
como gigantes de palavras complicadas e gestos apressados.
E até mesmo o menor dos mundos nos parecia imenso, infinito.

Houve um tempo em que o queijo nascia em árvores,
acordar cedo não era problema e os heróis ainda usavam capas.
Falar sozinho não era loucura, criar amigos então, era saudável.
A noite caía e com ela os barulhos,
com os barulhos o medo e com o medo os abraços.

A cada aniversário um novo desafio para as mãos.

Pois a cada ano que passava, contar nos dedos mais difícil ficava.
Não importava o presente, mas tinha que ser colorido.
Ganhar roupa era chato, mas sorriamos para alegrar a vovó.

Um cachorro era um companheiro de aventura.

Se fosse magro ou gordo, preto ou branco, limpinho ou fedorento,
isso pouco importava, ele era o nosso amigão.

As velinhas sobre o bolo aumentavam,e com elas nosso fôlego.
Chegava a hora de ir para a escola, a tão sonhada escola.
Mas o que é isso? Minha mãe não vai ficar comigo?
Não era assim que eu imaginava, quero ir pra casa!!!
E a mãe com toda paciência nos observava da porta,
esperando nossa distração para ir embora.

Depois a escola se tornava parte de nós e a mãe já não precisava mais nos levar até lá.
Os amigos se multiplicavam e o mundo ficava cada vez maior.
Brincar, brincar e brincar.
Até mesmo o chocolate era mais doce.
E os remédios bem mais amargos.

Não consigo lembrar quando cruzei a fronteira.
Quando me despí da infância.
Mais cedo do que gostaria, disso eu lembro.
Mas como saber quando estamos prontos?
Quando é a hora certa?


Quanto mais penso a respeito,
mais me convenço que não importa a hora.
Sempre é cedo demais.


Por: Rimini Raskin

Por uma vida mais colorida!!

Por um vale de paz quero vagar,
e nem o vento em meu corpo gerará atrito.

Ligados a um grande sentimento de amor,
fazendo de todo ser um amigo.

Unidos para sempre em um longo abraço,
um como todos e todos em um.

Respeitar toda forma de vida
e fazer da diferença o comum.





Por
: Yuri Pospichil

terça-feira, 8 de setembro de 2009

De um sonho plástico e outras belezas


Olhe para nós, de fora, porém mais perto, por favor.

Conversamos sobre arte, suas cores, seus formatos, seus sabores.
Sorrimos e falamos enquanto sorrimos.

O clima é agradável, a luz é branca.
Não sei ao certo onde estamos, mas é lindo.

Uma sala enorme, pouco mobiliada,
dividida em dois níveis por um degrau decorado com um código do futuro.
Paredes brancas, teto em um tom de bege, muito claro.
Chão de vidro, brilhante como se tivessem lâmpadas acesas sob ele.

Há uma música no ar, sintética, mas bonita.
Não há cheiros ou sons externos.
Apenas uma espécie de lareira por onde escorrem quadros.
A maioria retratos.
Todos em tons claros, preto e branco e preto não tão preto.
Mas branco muito branco.

Porém o nosso preferido não.
Ele sim tem cor,
como um grito de protesto contra toda a realidade plástica e estéril.

Um fundo constituído por uma fotografia desfocada de uma paisagem doméstica um pouco obscura iluminada somente pela luz do fim da tarde.
Sobre ela, pequenas flores pintadas com tinta óleo,
de um verde e vermelho maravilhosamente vivos.
Como um código secreto.
Como um símbolo de tudo que precisamos.

E então entre olhares de sono bondoso,
dormimos, sorrimos, sonhamos.

Por: Rimini Raskin

domingo, 6 de setembro de 2009

Primeira Página 26/04/2004


Não vejo momento mais oportuno para começar um diário do que esse.
Minha cabeça fervilha e minha boca é forçada a abrir-se continuamente por uma tormenta de idéias revoltosas.
A confusão está implantada a minha volta e em cada uma de minhas vidas. Já não possuo os mesmos olhos, a sistemática frívola da "sociedade civilizada" me incomoda de tal forma, que sou forçado a segurar minha língua (e algumas vezes meus punhos), para evitar um conflito com suas mentes estreitas e preconceituosas.
Ontem fui ao centro de Porto Alegre. Encontrei-a da mesma forma que a havia deixado, com suas milhares de pessoas atarefadas, seus prédios altos, seu clima húmido, suas ruas sombrias, os mesmos mendigos e a mesma indiferença para com os tais.
Indiferença essa que aprendemos ainda na infância, tão enraizada no subconsciente que já nem percebemos mais.
Ensinam nossas crianças a temerem os mendigos como bestas horrendas, corrompidas pelas próprias escolhas erradas.

Não discordo que muitas vezes são frutos de más escolhas, mas para mim é tão difícil julgar essas escolhas sem levar em consideração toda uma realidade sócio-política e cultural que a aquela pessoa enfrentou.
Por isso me revolta tanto o descaso com esses irmãos, com a falta de interesse nas políticas de reinclusão.
Não percebemos que com nossa renúncia estamos obrigando seres humanos a lotarem nossas calçadas como cães e viverem do nosso lixo mais imundo. O frio e a fome e a imundice, são apenas reflexos de um corpo que teve a alma roubada e seus sonhos destruídos por um mundo que ainda se divide em classes, entregue a corrupção.

Mas nada me tocou tanto quanto a visão de uma indiazinha que atravessava a Borges para se juntar a sua mãe e irmãos, sentados na outra calçada, dividindo espaço com pedestres que os ignoravam.
Sobreviviam da venda de sua arte, uma arte que não interessa em nada ao homem branco.

Não posso aceitar ver os filhos da terra sendo tratados como vermes, ou pior, como intrusos em seu próprio chão. Um povo já quase sem identidade, sem cultura, sem liberdade, todas corrompidas ou esmagadas pelo "progresso" assassino. Senti vergonha, senti muita vergonha.
À noite, na escola, decidi dar minha contribuição em uma discussão sobre reforma agrária durante a aula de história. Meu professor me classificou como um comunista utópico. O rótulo não me desagradou não, acho que precisamos de utopias, pois elas nos forçam a buscar sempre pela melhora, nunca nos acomodando enquanto não alcançarmos o objetivo final. Como em uma utopia a meta é inalcançável, nos obrigaremos a buscar pela melhora eternamente.
Não posso negar também as barbáries cometidas por lideres comunistas mal intencionados, corrompidos pelo poder e pela ganância.
Homens que desgraçaram a imagem do socialismo.
Mas a idéia segue viva, nas mentes e corações dos que realmente lutam pela justiça.

Quando Ernesto falou que constituímos todos uma única raça mestiça, percebi que não era só a asma que nos assemelhava. E realmente acho que nunca estivemos tão perto de criar uma América Latina unida como nos tempos de hoje.
Devemos unirmos a nossos irmãos, sócio-político e culturalmente, contra o despotismo norte americano, criando uma espécie de integracionismo latino americano.

Isso é só uma parte do que tem por vir.
A revolução tem sono leve e está a muito tempo adormecida.
É melhor os cowboys de Washington e seus "aliados" não fazerem muito barulho, pois a revolta é uma jovem senhora que normalmente acorda zangada!!


Por: Yuri Pospichil

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Joquim - Vitor Ramil



Satolep
Noite
No meio de uma guerra civil
O luar na janela não deixava a baronesa dormir
A voz da voz de Caruso
Ecoava no teatro vazio
Aqui nessa hora é que ele nasceu
Segundo o que contaram pra mim

Joquim era o mais novo
Antes dele havia seis irmãos
Cresceu o filho bizarro
Com o bizarro dom da invenção
Louco, Joquim louco
O louco do chapéu azul
Todos falavam e todos sabiam
Quando o cara aprontava mais uma

Joquim, Joquim
Nau da loucura no mar das idéias
Joquim, Joquim
Quem eram esses canalhas
Que vieram acabar contigo?

Muito cedo
Ele foi expulso de alguns colégios
E jurou: Nessa lama eu não me afundo mais
Reformou uma pequena oficina
Com a grana que ganhara vendendo velhas invenções
Levou pra lá seus livros, seus projetos
Sua cama e muitas roupas de lã
Sempre com frio, fazia de tudo
Pra matar esse inimigo invisível

A vida ia veloz nessa casa
No fim do fundo da América do Sul
O gênio e suas máquinas incríveis
Que nem mesmo Julio Verne sonhou
Os olhos do jovem profeta
Vendo coisas que só ontem fui ver
Uma eterna inquietude e virtuosa revolta
Conduziam o libertário

Dezembro de 1937
Uma noite antes de sair
Chamou a mulher e os filhos e disse:
Se eu sumir procurem logo por mim
E não sei bem onde foi
Só sei que teria gritado a uma pequena multidão
Ao porco tirano e sua lei hedionda
Nosso cuspe e o nosso desprezo!

Joquim, Joquim
Nau da loucura no mar das idéias
Joquim, Joquim
Quem eram esses canalhas
Que vieram acabar contigo?

No meio da madrugada, sozinho
Ele foi preso por homens estranhos
Embarcaram num navio escuro
E de manhã foram pra capital
Uns dias mais tarde, cansado e com frio
Joquim queria saber onde estava
E num ar de cigarros
De uns lábios de cobra, ele ouviu:
Estás onde vais morrer

Jogado numa cela obscura
Entre o começo do inferno e o fim do céu
Foi assim que depois de muitas histórias
A mulher enfim o encontrou
E ele ainda ficou ali por mais dois anos
Sempre um homem livre apesar da escravidão
As grades, o frio, mas novos projetos
Entre eles um avião

O mundo ardia na guerra
Quando Joquim louco saiu da prisão
Os guardas queimaram os projetos e os livros
E ele apenas riu, e se foi
Em Satolep alternou o trabalho
Com longas horas sob o sol
Num quarto de vidro no terraço da casa
Lendo Artaud, Rimbaud, Breton

Joquim, Joquim
Nau da loucura no mar das idéias
Joquim, Joquim
Quem eram esses canalhas
Que vieram acabar contigo?

No início dos anos 50
Ele sobrevoava o Laranjal
Num avião construído apenas das lembranças
Do que escrevera na prisão
E decidido a fazer outros, outros e outros
Joquim foi ao Rio de Janeiro
Aos órgãos certos, os competentes de coisa nenhuma
Tirar uma licença

O sujeito lá responsável por essas coisas lhe disse:
Está tudo certo, tudo muito bem
O avião é surpreendente, já vi
Mas a licença não depende só de mim
E a coisa assim ficou por vários meses
O grande tolo lambendo o mofo das gravatas
Na luz esquecida das salas de espera
O louco e seu chapéu

Um dia alguém lhe mandou um bilhete decisivo
E claro, não assinou embaixo
Desiste, estava escrito, muitos outros já tentaram
E deram com os burros n´água
É muito dinheiro, muita pressão
Nem Deus conseguiria
E o louco cansado, o gênio humilhado
Voou de volta pra casa

Joquim, Joquim
Nau da loucura no mar das idéias
Joquim, Joquim
Quem eram esses canalhas, covardes
Que vieram acabar contigo?

No final de longa crise depressiva
Ele raspou completamente a cabeça
E voltou à velha forma com a força triplicada
Por tudo o que passou
Louco, Joquim louco
O louco do chapéu azul
Todos falavam e todos sabiam
Que o cara não se entregava

Deflagrou uma furiosa campanha
De denúncias e protestos
Contra os poderosos
Jogou livros e panfletos do avião
Foi implacável em discursos notáveis
Uma noite incendiaram sua casa
E lhe deram quatro tiros
Do meio da rua ele viu as balas
Chegando lentamente

Os assassinos fugiram num carro
Que como eles nunca se encontrou
Joquim cambaleou ferido alguns instantes
E acabou caído no meio-fio
Ao amigo que veio ajudá-lo, falou:
Me dê apenas mais um tiro por favor
Olha pra mim, não há nada mais triste
Que um homem morrendo de frio

Joquim, Joquim
Nau da loucura no mar das idéias
Joquim, Joquim
Quem eram esses canalhas
Que vieram acabar contigo?



Por: Vitor Ramil

Um presente em ritmo de Tangos e Tragédias!


Noite iluminada!!
Assim começo esse texto, pois com que outras palavras poderia eu começar um relato sobre a realização de dois sonhos de infância em uma mesma noite??
Eu sabia que receberia uma surpresa essa noite, mas em nenhum momento imaginei que o presente seria algo tão mágico, tão lindo.
Saí de casa para buscar a Paula na loja, e pela primeira vez o inevitável atraso por parte dela não me incomodou, enfim, acho que já acostumei!! rsrs
Nem mesmo a chuva se mostrou um problema. Na verdade eu estranharia se ela não nos acompanhasse. Pois nos últimos anos é ela quem dita nossos melhores passeios.
Pegamos um ônibus na Av. Sertório em direção ao centro de Porto Alegre. Paula não estava em um dia bom, mas nem por isso perdeu aquele brilho que me apaixonou no primeiro dia que a vi. Antes de chegarmos ao centro ela me revelou a surpresa, colocou na minha mão 2 ingressos para o Tangos e Tragédias. Não consegui segurar o riso, nos abraçamos, trocamos assuntos diversos e sem muita demora alcançamos nosso destino.
Do terminal Parobé, atravessando a Praça XV, seguindo pela Av. Borges de Medeiros até a Rua da Praia e enfim até o shopping; parada obrigatória para os dois famintos. Mas encurtando um pouco a história, caminhamos até o Theatro São Pedro, nos divertimos com o free shop da Sbornia montado no hall do teatro. Bebemos espumante e seguimos até o camarote 12. Chegamos cedo, pegamos os melhores lugares, e logo nossos companheiros de camarote ocuparam os assentos restantes. Tudo parecia perfeito demais, e cá entre nós, nada nunca foi perfeito demais para nós dois. Foi então que o destino nos pregou uma peça, nossos ingressos vieram errados, nos venderam entradas para o show do dia seguinte, acarretando assim nossa retirada do camarote para dar lugar para os reais donos das cadeiras. Demos risada, ficamos constrangidos, mas não abalados, conversamos com os organizadores, explicamos o ocorrido, e pedimos novos lugares. Sabe aquela história de que existem males que vêm para bem?..Pois então, ela é verdadeira, nos deram lugares muito melhores, na altura do palco, lateral direita, primeira fila!!
O show como era de se esperar foi impecável, mesclando humor inteligente, músicas maravilhosas, danças malucas e uma cumplicidade entre platéia e artistas que Kraunus & Pletskaya sabem administrar como ninguém. Me senti uma criança, não saberia definir de outra maneira, gargalhei, me emocionei com temas maravilhosos, cantei, aplaudi, realizei um sonho.
Ver as caras e bocas do personagem do Hique Gomez e o carisma espetacular de Nico Nicolaiewsky não tem preço. Por isso aconselho a todos que ainda não tiveram o prazer de assistir Tangos e Tragédias, vá!! Pois não é à toa que esses caras lotam espetáculos a 25 anos.
Quando pensei que não poderia me sentir mais criança, eis que surge o convidado especial da noite, O Barão de Satolep!! Nada mais nada menos que Vitor Ramil, transformado em um corcunda de rosto pálido e feições amedrontadoras, mas particularmente engraçado.
Eu não conseguia acreditar que diante de mim estavam três personagens que encantaram minha infância, três personagens que eu sempre sonhei ter o privilégio de ver tão de perto.
Quando Vitor cantou Joquim, meus olhos se fecharam inconscientemente, e por alguns minutos um episódio lindo da minha infância me voltou à memória. Me vi novamente com 5 anos de idade, acordando com a voz de Vitor Ramil vinda do rádio da sala, levantando desastradamente da cama e correndo para os braços de meu pai que chegava do trabalho e preparava o café. Aproveitava meu tempinho com ele, a minha 1 hora, as vezes nem isso. Pois depois ele iria dormir e eu iria para a escola, quando regressasse eu sabia que ele já não estaria mais em casa.
Sentado na cadeira do teatro, de olhos fechados, cantando baixinho, podia sentir o cheiro do meu pai. Quis chorar, mas o momento era de sorrir.

Essa noite experimentei uma sensação maravilhosa, um sentimento que perdemos na infância, e somente algo tão mágico quanto Tangos e Tragédias pode trazer de volta.
Obrigado Nico, Hique, Vitor e principalmente obrigado Paulinha, por um dos presentes mais significativos e maravilhosos que já recebi em toda minha vida!!!

Por: Yuri Pospichil


terça-feira, 1 de setembro de 2009

O mundo de bicicleta!!


Essa noite quero andar de bicicleta pelo teto.
Explorar cada quarto,
Cada canto.
Toda cor.

Quero ultrapassar as paredes.
Me liquefazer no espelho.
Ou simplesmente sorrir no fim do corredor.

Quero acariciar o leopardo enquanto ele come os incensos ainda acesos.
Ou apenas terminar uma partida de xadrez com os seres de fumaça.

Quero sentir o calor que vêm do chão.
Ouvir a banda tocar na minha cabeça.
Quem sabe, até cantar bem alto.

Quero admirar o homem com terno de zebra.
Brincar com a velocidade.
Confundir a realidade.
Sentir medo do barulho.

Quero poder também correr entre os coqueiros.
Demorar no banheiro.
Ou só dançar sem música alguma.

Sem guerras,
sem ódios,
sem egoísmos
e sem desrespeitos.

Assim me sinto ao voltar pela toca do coelho apressado.

Lembro que amanhã começa a semana.
E quando a menina do vestido azul me saúda com um sorriso,
penso comigo - "Não há nada como a nossa cama"!

Por: Rimini Raskin