sexta-feira, 26 de março de 2010

Sobre um dia no futuro





Fazia frio e o ar entrava como facas nos pulmões dos poucos pedestres sem pressa.
O vento soprava melodias vintage pelas esquinas de arquitetura antiga e fazia a cidade ganhar um ar lúdico com suas árvores agitadas, praças semi desertas e meninas de roupas retrô e sorrisos que lutam contra o bater de queixo.
Os meninos de cabelo bagunçado levantavam a gola de seus pesados casacos, encolhiam o pescoço e enrolavam o cachecol ao redor da boca.
Os velhos jogavam damas nas mesas de pedra com suas boinas cinzentas e olhares de cobiça inocente ao verem passar as mocinhas da Andradas.
Quintana e Drummond, imortalizados os observavam soprar hálito quente entre as mãos na tentativa de não enferrujarem as juntas.
Não haviam muitos artistas na rua, a estátua viva não criara coragem de enfrentar o frio com tão pouca roupa, e o pintor, adoecido, ficara em casa naquele dia.
Se não fosse o músico a cidade estaria imóvel, e quem de fora olhasse poderia jurar que eram as melodias Dylianas que faziam as coisas pulsarem.

Violão, gaita e uma voz antiga.

Eram esses os três elementos necessários para embalar os sonhos da menina de olhar perdido e ar de forasteira.
O frio não a incomodava, pelo contrário, a fazia se sentir em um filme. Sorria e arrumava a franja enquanto cantava baixinho.
Não perceberia de forma alguma o menino que a observava à semanas tentando criar coragem para puxar conversa.

O vento frio soprava folhas pelos parques, estimulava conversas animadas nas rodas de mate e fazia a cidade ser tomada por uma deliciosa preguiça.
As pessoas caminhavam tão confiantes, sentindo-se ainda mais lindas com suas roupas quentes e gorros de lã.
A noite glacial enchia clubs e pubs de mods, indies e todas aquelas denominações rotulantes que as pessoas adoravam usar para suas próprias definições.
A menina do parque sempre estava entre eles, mas nunca com eles, porém sozinha tão pouco ficava, passava o tempo acompanhada dos próprios sonhos, montando diálogos e atuando como uma atriz do cotidiano.
Sabia que chamava atenção pela beleza, mas sabia também que ninguém ali era seu Romeo.
Tinha dificuldade de entender as pessoas, seus dilemas eram profundos, seu pensamento porém era muito simples.

-"Porque não entendem que não preciso de muito? Um piquenique no parque bastaria para me fazer feliz!!" - Assim dizia ela ao mundo que se negava a ouví-la.

Viera um dia do centro do país em busca dos sonhos no sul, queria ser uma estrela, fugir de tudo que conhecia, queria o novo com a mesma força com que amava o clássico e fazia dos dias seus ensaios para a fama.
Fruto de uma familia desestruturada, aprendera a ser independente desde muito cedo, orgulhava-se de ser quem era e da força que tinha, e talvez por isso era tão severa consigo mesma.
Queria ganhar o mundo, receber a atenção que lhe foi negada na infância e bem no fundo não passava de uma criança durona que buscou na arte uma forma de dissimular e esconder as próprias dores, fazendo sempre acreditarem que pertenciam à uma personagem e nunca à ela mesma.

Em uma tarde qualquer uma criança chorava alto, talvez na rua de trás, mas isso não importava, afinal, não conseguiria incomodar os pensamentos do guri da Cidade Baixa, escorado no para-peito oxidado do apartamento que dividia com os amigos.
Olhava a estética quase estática do inverno de Porto Alegre e sonhava com a garota da praça da Alfândega, fantasiava conversas e sorrisos para logo depois ficar se punindo por tanta covardia.
Filho de uma família liberal que sempre incentivou sua arte, cresceu menino de sonhos fartos e pouca estabilidade sentimental, fazia da dor combustível para sua poesia e das paixões impossíveis sua maldição.
Rodava os clubs em busca de material novo para suas linhas e de uma Julieta para preencher o buraco que trazia no peito, a primeira tarefa sempre fora disparado a mais simples, afinal, a noite sempre reservara dezenas de pessoas bêbadas dispostas a contar uma boa história.
Era despojado, nunca tivera problemas em se relacionar com estranhos, por isso se castigava tanto por não conseguir olhar a menina nos olhos e falar um simples "Olá".
Talvez fosse o fantasma dos natais passados fazendo questão de lembrá-lo sempre sobre seus fracassados relacionamentos anteriores.
Cerrou os olhos com força por alguns segundos e retornou a abrí-los, passou o cachecol ao redor do pescoço e correu rua abaixo.

O músico não demorou a montar seu arcaico equipamento de som no costumeiro ponto da praça. Sorriu e acenou com a cabeça para a menina de casaco branco que já o esperava para ouvir as mesmas três músicas serem tocadas repetidamente durante as próximas horas.

- "Dylan?" - Perguntou o homem.

Sorrindo a garota responde - "Sim, Hurricane."

As notas enchiam o ar de saudades de um tempo que talvez nunca tenha existido senão nos seus próprios sonhos. Cantando de olhos fechados o tempo voava como os pombos destemidos que catam pipoca entre os pés de passantes destraídos.
Submersa na melodia confortante da voz daquela estrela suburbana, a menina não notaria nada a sua volta, nem mesmo o garoto que sentava a seu lado e cantava em uníssono as palavras de protesto do velho Dylan.
Quando as cordas emudeceram seu coração disparou, e por algum motivo não pode abrir os olhos.

- "Oi!" Com voz embargada disse o menino, mal acreditando que estivesse fazendo o que fazia.

Ela abriu os olhos e sorriu, sem responder nada.
Ele, envergonhado, se desculpa e levanta para ir embora, sentindo-se o maior idiota do mundo.

- "Não...fica, por favor!" Disse com boca de sonho a menina da praça.
- "Eu sou a Joan, e você quem é?" Continuou ela.

Antes de receber uma resposta o violão volta a soar:
"Lay, lady, lay, lay across my big brass bed..."

Os dois juntos olham para o músico que sorri de volta.

- "Gabriel!"
Destraída a garota responde - "O quê?"
- "Meu nome. Meu nome é Gabriel, tu tinha perguntado."
- "Ah, claro, desculpa, sabe, adoro essa música, ela não te faz sonhar?"
- "Faz, sempre." - Responde Gabriel com sorriso de criança sem graça.
- "Eu não sou daqui, cheguei a 2 meses, sou de Brasilia."
- "Legal ... eu nunca saí de Porto, aqui é meu mundo. Tenho medo de ir pra Paris e ela não ser como eu imagino."

Joan ri e Gabriel completa com ar mais relaxado.

- "A frase não é minha, é daquele velhinho simpático sentado alí no banco batendo papo com o Drummond."

Joan continuava sorrindo com satisfação, contente pelo novo amigo, sentia-se quente, esquecera o frio que a fazia tremer até pouco tempo atrás, não poderia explicar o que sentia, satisfação talvez, mas não, era muito mais do que isso, era como estar pela primeira vez em contato com uma alma que a entendesse.
Porém rapidamente deixou os pensamentos de lado, seria precipitado demais confiar em um garoto que mesmo que timidamente, tentava impressionar.
Gabriel notou o semblante de Joan se tornando um pouco mais sério, mais distante, praticamente alheia a tudo o que o menino falava.

- "Falei alguma besteira?" Perguntou Gabriel constrangido.

- "Não!" Disse sorrindo, Joan.

- "É que eu tava pensando, desculpa...é que...você é a primeira pessoa que prende minha atenção. Bom, tirando o músico da praça, mas com ele é diferente." Continuou ela.

Gabriel não sabia se ficava contente ou preocupado com o comentário e então replicou.

- "Entendo, quer dizer, eu acho que entendo. Eu mesmo achava loucura ficar te olhando de longe durante as últimas semanas, não sabia porque tua presença me chamava tanta atenção."

Joan gargalhou para o desconcerto de Gabriel.

- "A quanto tempo você me olha aqui? Porque só agora veio falar comigo?"

- "Não sei, me faltava coragem."

- "E como encontrou coragem para vir hoje?"

- "É que hoje percebi o quanto sou infeliz, incompleto. Rodo as noites conversando com estranhos, tenho amigos ótimos em quem não posso confiar meus segredos e não tenho ninguém que consiga ao menos entender o que eu sinto."

- "E eu sou essa pessoa?" Perguntou Joan com cara de surpresa e vaidade.

- "Não sei.....mas se não viesse aqui hoje, nunca teria a chance de saber."

- "Mas porque eu? Existe tanta gente muito mais interessante na cidade, porque eu te faria ser alguém melhor?"

- "Nessa vida nada somos, todos sempre estamos, por isso precisava vir aqui hoje, não teria outra chance de tentar deixar de estar sozinho."

Joan sorria incrédula diante da sinceridade apaixonante de Gabriel, era como se a praça fosse um enorme palco para o espetáculo da paixão instantânea, um cenário digno de uma nouvelle vague de Truffaut, uma Paris imaginária, uma Nova York preguiçosa ou simplesmente uma Londres cenográfica.
Dois velhinhos observavam o casal a uma distância relativamente próxima, lembraram da juventude e se encheram de saudade de uma Porto Alegre onde as sereias da Rua da Praia usavam vestidos finos para impressionar os cavalheiros de terno cinza e chapéu de feltro que tomavam café e espiavam o movimento por sobre os jornais da manhã.
O músico também os acompanhava de forma discreta, cantarolava Mr. Tambourine Man e lembrava do grande amor que um dia deixara em Uruguaiana.

- "Acredita que pessoas possam se completar?" Indagou Joan.
- "Não sei, acho que podemos sempre somar."
- "Como assim somar?" Replicou a menina.
- "Somar...todos temos uma carga de vivências. Felicidades, tristezas, conquistas, frustrações. Podemos somar alguns de nossos conhecimentos, mas sempre vai caber a outra pessoa pegar apenas o que julga benéfico."
- "Concordo...falta essa ligação na nossa geração. Falta união, me sinto estranha por ser tão sozinha, por me achar caótica ao ponto de não aceitar praticamente ninguém na minha vida. Mas afinal, de quem é a culpa? Minha? Do mundo?...Já nem sei mais, mas sinto falta de me sentir parte de algo...ou de alguém."

Houve um silêncio entre os dois, apenas se olhavam, tentando talvez reconhecer na face alheia um passado em comum, ou pelo menos um futuro em que pudessem acreditar.
O vento soprou com mais força, jogando os cabelos de Joan sobre os olhos. Gabriel sentiu-se tentado a tocar seu rosto, ajeitar-lhe a franja...mas não o fez.
Baixou os olhos e buscou coragem para falar o que sentia, e novamente não fez.

-"Gabriel."
-"Oi."
-"Que houve? Ficou tão calado, sinto como se quisesse me dizer alguma coisa."
-"Não sei, não sei o que dizer, as tuas palavras me deixaram um pouco estático, surpreso de uma forma boa, mas sei lá...me fazem pensar em tanta coisa. Sabe...Qual o propósito de tudo isso?"
-"Tudo isso o que?"
-"De tudo isso...da vida, dos sentimentos, dessas angústias...das tuas dúvidas que são também minhas dúvidas...me sinto bem, aqui, conversando contigo, alheio de toda rotina estéril do mundo. Aqui, como em um conto de amor escrito por um aspirante a escritor. Sabe? Tipo, sem regras, sem preocupações estéticas...somos nós dois e essa praça...todo resto é cenário, todo o mundo é um set de gravação de algum romance non-sense."

A menina não sabia o que dizer, apenas sentia as palavras de Gabriel lhe tocarem em alguma parte do peito que a muito tempo ninguém ousara tocar. Flutuava em pensamentos novos, vontades novas de ser...de fazer.
Admirava o modo como o hálito do garoto virava fumaça em contato com o ar gelado do mundo.
Sentiu ganas de tocar-lhe o rosto...mas não fez.

-"Nunca ninguém conversou assim comigo...achei que pessoas assim, como você, só existiam em filmes."

Gabriel sorriu lisonjeado.

-"Não sou diferente de ninguém eu acho...é que ao contrário da maioria, acho que nós conseguimos derrubar o muro de hipocrisias que o mundo construiu ao nosso redor desde o nascimento. Não sinto medo de te contar o que eu penso, o que eu sinto e o modo como eu vejo tudo que nos cerca. Sei que não me achará louco, e se achar, será de uma forma admirável."

-"É...eu sinto o mesmo... e isso me assustaria se eu não estivesse me sentindo tão bem."

O garoto cerrou os olhos com força novamente, e outra vez voltou a abri-los.
Afastou os cabelos que o vento fizera cobrir os olhos da menina e tocou-lhe o rosto com ternura.
Joan estremeceu, fechou os olhos e se permitiu ser tocada.
Agarrou-lhe a mão e beijou-lhe a ponta dos dedos.
Deixaram com que seus rostos se tocassem, sentindo todo o calor que o frio do mundo os negara durante todo esse tempo.
Beijaram-se em toque longo e sutíl, quase como crianças, como se o primeiro fosse já o último beijo do resto de suas vidas.

O músico sorria com angústia, com saudade, e por isso tocou ainda mais lindamente para o casal da praça da Alfândega.
Os velhinhos riram e continuaram o jogo de damas com suas tampinhas de garrafa.
Não existia mais o frio, nem a dor e nem a solidão.
Não existia mais a dúvida, o vazio ou o desânimo.
Enterrados por aquele beijo, os problemas sufocavam no rio de lava incandescente que corria no peito.
E como em um conto bobo de amor escrito por aquele que projeta em linhas o próprio sonho, naquela tarde de inverno a vida sorriu.



Por: Rimini Raskin




"No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo

um carinho no momento preciso

o folhear de um livro de poemas

o cheiro que tinha um dia o próprio vento..."

Mário Quintana


Os Famosos e os Duendes da Morte

segunda-feira, 22 de março de 2010

My Baby


Em algum lugar, não muito longe de mim, existe uma estrela.
Ela brilha como fogo vivo e quando sorri até a noite se rende a sua luz.
Entristeço quando a vejo tão descrente do próprio brilho.
Entristeço tbm (e principalmente) por não estar mais perto, por não segurar sua mão ou falar frases bonitas ao pé do ouvido.

Existe uma atriz, my baby é como a chamo.
Ela é linda e tem luz como nenhuma outra.
A amo tanto que morreria se visse seu brilho se apagar.

Por isso:

"Não pare de sonhar estrelinha,
Pois teu nome está rodeado de lâmpadas em algum lugar do futuro!"



Por: Yuri Pospichil

domingo, 21 de março de 2010

Música que me faz sentir bem




Acordei cansado hoje.
Mas foi um bom cansaço.
Jack na sexta, banho de chuva e falta de ar na manhã de sábado.
Trabalho à tarde, dor nas pernas e garganta ferrada de tanto repetir as mesmas explicações.
K.Y.V. HOUSE à noite, caras cansadas, sinuca e drinks de abacaxi.

Mas o esquema é hoje.
Levantei com o Vitor me chamando e lembrando que eu precisava almoçar com meus avós.
Meio-dia...caramba...
Beijo na Kaory e tchau.

Mas é sobre hoje que quero falar.
Meu dia preferido.
O dia que acordei com a certeza de que poderia mandar o mundo para o inferno.

Não preciso agradar, não preciso sentir vergonha, não preciso me importar com porra nenhuma.
Foda-se esse mundo de monges, de gente padronizada, de "jovialidade medrosa".
De preconceitos babacas, de preocupações físicas, estéticas babacas, comportamentos controlados.
Falsas modernidades, libertinagens artificiais e liberdades limitadas.

Não sou o mais bonito, nem o mais inteligente muito menos o mais agradável.
Mas sou eu, e pra mim pouco importa teu corpo, teu rosto, tua forma de falar, de se vestir, o que me importa é gostar ou não de estar contigo e saber apreciar em ti o que me encanta.

Existem muros entre todos nós, é isso o que eu vejo, enormes muros de medos e preconceitos.
Grande geração a nossa...até a rebeldia foi padronizada, rebeldes estéticos, sem carinho, sem o menor valor.

...MENOS CONTATO...MENOS CONTATO...EU FALEI MENOS CONTATO...

...CONTATO NENHUM...

!Mas só tenho vocês!



Por: Yuri Pospichil

quinta-feira, 11 de março de 2010

Geração Inacabada


Somos uma geração de inacabados.
De incapazes de terminar o que quer que comecemos.
Crias de pais que nos mentiram quando disseram que poderiamos ser o que quiséssemos.

Nós não podemos!!!

só podemos ser nós mesmos.

Mas quem somos??

Temos tantas opções que preferimos nos esconder atrás de vontades de ser.
Acreditamos que não existe mais nada para ser criado e que só algo muito grande nos colocaria na história.
Odiamos o novo, por isso maquiamos o passado pondo-lhe novos nomes.
E acreditamos assim que nossa parte está feita.

Diante da dificuldade de criar, preferimos nos acomodar no velho, esperando a história entregar em nossas mãos o mapa para o caminho do futuro.

Não existe sorte, não existe evolução, não existe uma geração que não existe.

Que belo livro vazio daríamos.


Me pego pensando que meu pai com 25 anos já tinha uma carreira, casa própria, um casamento apaixonado e uma mulher grávida.


E eu? O que eu tenho?

22 anos, um emprego de salário razoável, pais que ainda ajudam a me bancar e amigos tão inacabados quanto eu; adolescentes sem consciência de que o tempo passou.
Talvez meus filhos, se eles existirem, salvarão o mundo que eu fiz questão de não ajudar a melhorar.
Nos criaram crianças egoístas e geniosas, donos de um mundo que nossos pais conquistaram... e por medo de estragá-lo, nos mantemos sentados esperando um sinal que nunca vêm.
Sabemos mais de filosofia, moda, música, cinema e história do que nossos pais....

E DAÍ??????

No que isso nos ajudou?
Continuamos nos achando caóticos incompreendidos, incapazes de nos sentirmos parte de alguma coisa.

Somos ridículos.

Apaixonados de coração razo e necessidade de sofrimento.

Não passamos de malditos hypes retrógrados e sem futuro.


Por: 
Rimini Raskin

domingo, 7 de março de 2010

Por Adentro


Este invierno de lluvia fina y ramas secas
Mira pa'dentro del pecho hasta tocarme a los huesos.

Por la ventana mojada miro a la calle en tu busca.
Personas que pasan y fantasmas tranquilos
Hacen la vida un tanto más bruta.

Del jardin llegan a mís oídos las risas de los niños
Que para el terror de sus mamás, molestan a los vecinos.
Saltan, gritan y desafian al mundo con sus pequeñas bravuras.
Miro a los pájaros y canto, canto, canto por la cura.

Me convierto en pan, vino y queso.
Me siento vivo, bueno y pleno.
Me regalo amores, me construyo a lejos.

Porque de Dios quedó el adiós.
Y de mí,
Quedó los sueños.


Por: Rimini Raskin

sexta-feira, 5 de março de 2010

Los Heraldos Negros



Hay golpes en la vida, tan fuertes... ¡Yo no sé!
Golpes como del odio de Dios; como si ante ellos,
la resaca de todo lo sufrido
se empozara en el alma... ¡Yo no sé!

Son pocos; pero son... Abren zanjas oscuras
en el rostro más fiero y en el lomo más fuerte.
Serán tal vez los potros de bárbaros Atilas;
o los heraldos negros que nos manda la Muerte.

Son las caídas hondas de los Cristos del alma
de alguna fe adorable que el Destino blasfema.
Esos golpes sangrientos son las crepitaciones
de algún pan que en la puerta del horno se nos quema.

Y el hombre... Pobre... ¡pobre! Vuelve los ojos, como
cuando por sobre el hombro nos llama una palmada;
vuelve los ojos locos, y todo lo vivido
se empoza, como charco de culpa, en la mirada.

Hay golpes en la vida, tan fuertes... ¡Yo no sé!


Por: César Vallejo


*Foto de uma das cenas do filme peruano Máncora, minha dica de cinema do dia, não esperem nada de novo do filme, mas para quem gosta de road movies latinos é um prato cheio, fotografia linda, trilha sonora ótima e uma mescla muito boa de liberdade e drama.