terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Ponte

Há algo errado, definitivamente alguma coisa morreu.
Me sinto desconfortável
e cada vez com menos vontade de fingir.

Não estou feliz, não suporto minha própria imagem,
Já não choro, não perco o sono e não sinto sequer a tristeza.
Estou dormente, gelado, cansado demais das mesmas coisas,
mesmas roupas e mesmas vozes.
Tornei-me sombra, cria do vazio.
Não há amor, nem ódio,
nem mesmo nuvem que esconda o sol.

Há amigos, uma familia desmoronando,
um trabalho que me faz querer morrer de tédio
e um album de sonhos antigos.
Não existe crise existencial e esse é o problema.
O que me deprime é saber quem sou, quem fui e o que tenho.
Já fui criança e não sinto falta,
já fui adolescente e quis crescer,

Agora sou adulto e não vejo diferença.
Fui o idiota mais esperto da turma
e mesmo assim de nada valeu.

Aproveitei os meios e conheci
os finais mais cedo do que queria.

Não serei levado à sério porque um dia quis assim.
Não serei levado à tona,
pois à ninguém interessa o meu naufrágio.

Todo esse mar de sentimentos de amizade
e meu coração segue razo,

Toda essa fogueira de amores e minha chama tão gelada.
Talvez me falte vontade, me falte paixão pela vida,
E antes que venham me falar sobre
o quanto todos gostam de mim,

Saibam que eu sei muito bem disso e agradeço.
Mas de uma forma ou de outra, já não vejo graça.
Tudo voltou às telas, às páginas e à imaginação,
As novidades se repetem,
as pessoas desvanecem, e mais do que isso,

Me tornei desinteressante à meus próprios olhos.
Talvez o problema nem seja o desânimo,
nem a tristeza e nem a saudade.

O que eu sinto é o vazio do olhar para o nada,
é o pensar à esmo e correr em vão.
Gritar por dentro para que não ouçam,
Gritar até ficar rouco e calar a alma.
Ver todos com tanta pressa e sentir vergonha
de pedir um abraço para alguém que talvez possa remendar
o filho da puta que fui a vida toda.
Mas peço que não tente entender, no fim não há culpados.
E as coisas acabam por retornar ao começo.

Por: Rimini Raskin


P.S.: O que me dá mais medo é saber que não tenho mais 16 anos e minhas mãos não tremem tanto!

sábado, 18 de setembro de 2010

Espera

É a ti, personificação de Helena,
Que de assalto capturou minha atenção com sorrisos alvos!
É a ti, exemplo do que é belo,
Que direciono hoje minha canção!

Ainda que me falte a coragem do jovem Paris,
Ponho-me a sonhar com teus cabelos que do sol,
como mágica, roubam o brilho.
E com a elegância de teu corpo, que qual Euterpe,
Fazes de ti um encanto à meus olhos mortais.

E talvez por capricho, os deuses cansados pelo tédio da imortalidade
Fazem de meu coração um tabuleiro.
Obrigam-me a sofrer por semanas essa dúvida.
Por medo de perder-te, busco-te até nos lugares mais improváveis,
Mas é como fantasma, tal como miragem,
Que tua presença se oculta sempre à minha procura.

Oh linda Helena, seriam os céus capazes de negar-me tua presença?
Seriam os deuses sádicos a este ponto?

Rogo à Khronos que se faça veloz, e nessa velocidade,
Me traga a surpresa de teu rosto à sorrir!


Por: Yuri Pospichil

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Extremo

"A simples idéia de poder ser tudo,
me basta para desejar o contrário.

E feito isso, me ponho à provar outra vez que sou capaz de ser
o que nenhum outro jamais ousou sonhar."

Por: Rimini Raskin


O Barqueiro

Despediu-se entre acenos emocionados
vindos do outro lado da cortina de transparência enfumaçada.
Achou divino apesar de tudo, afinal por que não estaria feliz?
E assim se foi, com moedas sobre os olhos,
um coração cansado a bordo do barco de Caronte.


Por: Rimini Raskin

A arte de fingir

A arte de fingir é tão mais difícil que a de falar a verdade,
que o ator se vê obrigado constantemente a revisar
seus gestos, falas e fantasias.

Pois até o menor tropeço, incongruência ou máscara partida,
tem o poder de denunciar o artista por detrás
das vestes brilhantes
e voz bem colocada.
Ao se denunciar o artista, o mesmo acaba por se revelar
homem de carne, finito, mortal.

Quase como se fosse, à um minuto, pássaro.
Para que logo depois, por culpa de um deslize,
cortem-lhe as asas e arranquem-lhe as penas

uma-a-uma em um ritual sádico e boçal.
Sendo assim, reinvoco minhas primeiras palavras:
A arte de fingir é infinitamente mais difícil que a de falar a verdade.
E por isso, ao ser carnal, parte morte e parte arte,
é que escrevo esses versos.

Cuida-te ao ceder a tua vida à esta prática,
pois corres o risco de que te sejas a última entrega.

Por: Rimini Raskin

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Quando a música já não faz tanto sentido

De repente seja verdade quando me falam
que caminhar ao lado é como andar para trás.

Que a música, as luzes, os remédios e o alcool

se tornaram nada mais que uma escada
para um lugar
tão vazio e triste quanto um coração de vidro.

Criamos nossa própria "Terra do Nunca".

Um lugar onde o tempo passa quando queremos que passe.
Um lugar onde não poçamos crescer
e a realidade
se molda conforme nossas vontades.

Por isso quebramos os espelhos,

para nunca mais vermos os efeitos que a natureza proporciona.

Fingimos que não existe ordem crescente para os números

E maquiamos o pavor da velhice com essa adolescência infinita.


"Nós somos a festa!" Não foi sempre assim?

Então porque o desejo desesperado de diversão todo fim de semana?


"A festa é infinita!" Será que acreditamos mesmo nisso?
Então porque o medo de ficar sozinhos em casa?


Até que ponto minhas palavras fazem sentido?
Não sei!
Até que ponto realmente acredito em tudo que escrevi?
Não faço a menor idéia.

Mas uma coisa há de se concordar!

Algo mudou, e não foi para melhor!



Por: Yuri Pospichil