quinta-feira, 28 de março de 2013

Porque o mar é longe e a lama é doce



Não consegui chorar por carcaças de automóveis empilhadas
Não consegui chorar por dúzias de garrafas vazias
Não consegui chorar por mães com filhos mortos na barriga de nove meses
Não consegui chorar por incompetentes tias suicidas
Não consegui chorar por policiais facistas de escudo e jovens desmaiados
Não consegui chorar por cristãos perseguidores e anjos apocalípticos
Não consegui chorar por girassóis arrancados pelo talo
Não consegui chorar por não ter tanta certeza
Não consegui chorar por velhos amigos apodrecidos
Não consegui chorar por antigos versos incapazes
Não consegui chorar por olhos cegos de tesão
Não consegui chorar por renagados irmãos nutrindo raiva no presídio
Não consegui chorar por linhas tortas de cuzão-zen-punheteiro
Não consegui chorar por todo maquinário bélico nuclear
Não consegui chorar por índios indesejados despejados pelo locador
Não consegui chorar por loucos profetas internados
Não consegui chorar por tantos pratos e nenhum pão
Não consegui chorar por ter pecado contra o amor
Não consegui chorar por malabaristas sujos de sinaleira
Não consegui chorar por jornais mentirosos e manipuladores
Não consegui chorar por televisores tagarelas de medo e silêncio e danação
Não consegui chorar por toda tragédia política do terceiro mundo
Não consegui chorar por todos vocês
Não consegui chorar por mim como um todo
Não consegui chorar por ninguém
Não consegui chorar por não ter visto mais cedo a face do deus sem face de deus
Sem face apenas não consegui

E se o sol ou a lua ou a morte não precisarem de mim
poderei deitar gelado e desperto
até a tristeza passar
até!


Y. Por: Rinkas

quarta-feira, 27 de março de 2013

As Coisas



Não está nas coisas
Elas não existem, as coisas
É entre elas, que não existem,
que está o Paraíso
Nesse estado de não vir a ser
de não estar
de existir na mente que não existe
e não nas coisas que existem na mente que não está

Abra os olhos
Respire pelo nariz
É tudo um sonho



Por: Raskin

sexta-feira, 8 de março de 2013

Supernova



Escorre entre as pedras
               a duras penas
                rente à grade
                           pupilodilatadas
Esvai-se em sopro
               em soco
               experimentais
                            cosmoexéquias

Brilha forte
       
          transparece ao longe
            aproxima o verso
              do meu ouvido
                 do meu ou
                    vido do
                      meu
                       ou

do nosso coração doído
tua visão cansada
não tem mais por que chorar



Por: Raskin