quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Saco de Ossos


Do processo cíclico
de viver não viver e viver novamente
tanto se retira ou se repõe através do crivo
que alimenta ou mata de fome a minha mente

Dessa maquinaria orgânica
azeitada por nossa energia espiritual
conflitante covalente iônica
um estado constante de morte ritual

Carrego na sombra um saco de ossos
das carcaças antigas que olvidei descartar
Um peso sufocante sobre cada um dos meus passos
Um castigo lento e atroz
                          um lembrete mordaz

A compaixão de um cão
é a redenção da alma imortal

-Raskin
 


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Poema de Resistência



Se identifica o grito
como um protesto forçoso
uma petição indignada
contra o mundo indigesto
de uma realidade sem flores

Se identifica o grito
no canto do pássaro contra o motor
na neblina contra a fumaça
na terra contra o asfalto
na abelha contra o despertador

Se percebe o grito no escuro do cérebro
e dentro dos pulmões
e no fundo dos olhos
Aquela angústia que te rouba o sono
é o grito

Há um tempo atrás
uma cigarra gritou na  minha janela
-desses privilégios de morar em bairro onde os velhos insistem
                                   em manter as árvores em frente a casa-
Mas foi tão alto que conseguiu me arrancar
do transe do trabalho

O grito da cigarra me despertou
para o tempo em que eu ainda percebia
a chuva e os lagartos
nas tardes de pescaria

O grito da cigarra é o grito contra a sonolência
O grito contra o supérfluo
O grito contra a queda da poesia
que é também a morte da imaginação

A resistência ao fim da vida
- um grito ensurdecedor


Raskin