quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Estranhos Sinais



Está tudo perdido
Na velocidade do jato
As imagens
Como gorilas diamantados
Arrebentam as retinas
E estupram o pensamento crítico

Um verdadeiro crime de guerra
Uma bowie reluzente
Afiada em ambos os lados
Fatiando um córtex adolescente
A fim de rearranjá-lo
Como um gráfico de pizza

Medo consumo narcisismo
O cinismo nas bochechas gordas
Dos senhores de engenho

Está tudo perdido

Pendendo do cosmos gelatinoso
Feito almas careadas
Tudo se arrasta de volta ao mar
Tudo vai se arrastando

E a televisão esperneia gritando ódio
Enquanto projéteis luminosos fazem mira para
Espetar o peito de uma estrela cadente
Que sangra um poeminha olho-do-cu

- Alguém aí sabe a semelhança entre um pai de família e um astronauta?
Ambos choram no banheiro enquanto todos estão dormindo -

Está tudo perdido
E por isso acredito em solução

Eu sei porque aprendi a ler os sinais
Aquele passarinho
no corredor de laticínios do supermercado
                                                    [Era um sinal]
O gato me acordando às 3h da manhã  
                 [Era um sinal]
Flávio Viegas Amoreira
em uma metralhadora de postagens poéticas
lembrando aquela frase do Piva que
os anjos sussurraram no meu ouvido o dia inteiro
[Era tudo um sinal]

De que talvez exista uma saída
através do experimentalismo poético
expandido à todas as esferas do cotidiano

Orquestras invisíveis nos metrôs
Políticas que ultrapassam o pão    
      e entregam também o sonho
Polícias armadas com pocket books de Rimbaud
      em seus coldres
Tecnologia limpa e necessária
Sem caretices ou paumolismos
      Um não-governo
sob a direção do povo
Um que garanta o direito universal e irrevogável
de ser ducaralho

Um Kerouac ministro das estradas
Antonin Artaud ministro da saúde
                 [incendiando sanatórios] 
Ginsberg inspetor de mictórios
Um Augusto dos Anjos curador de necrotérios
Akhmátova no ministério dos mistérios

[Uma explosão nas próstatas de Wall Street]


-Raskin