Mãe, existe um lugar que eu gosto. Lá tem uma praça com estátua e tudo, mãe. Tem criança que posa pra foto e namorados que riem alto depois de cada beijo. Mas tem moça solitária também, mãe. Uma que segura o telefone como quem espera uma notícia de morte. Mas, mãe, também há um velho que segura o joelho direito com as duas mãos. E um cachorro querendo abocanhar os pombos -- como o Faísca aquela vez, te lembra, mãe?... Tem um rio, um muro e lugares para tomar café. E também existem, imagine a senhora, muitas mães, mãe. E nenhuma como a senhora. Mas as nuvens são negras e a espada da estátua parece pronta para rasgá-las a qualquer momento. Sinto saudades de coisas das quais não sei o porque, mãe. Te olho aqui do meu quarto e não consigo atravessar a porta para te dar um abraço. Talvez porque nada disso exista, mãe. Ou talvez porque nenhum de nós precise agora senão de um olhar.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Mãe
Mãe, existe um lugar que eu gosto. Lá tem uma praça com estátua e tudo, mãe. Tem criança que posa pra foto e namorados que riem alto depois de cada beijo. Mas tem moça solitária também, mãe. Uma que segura o telefone como quem espera uma notícia de morte. Mas, mãe, também há um velho que segura o joelho direito com as duas mãos. E um cachorro querendo abocanhar os pombos -- como o Faísca aquela vez, te lembra, mãe?... Tem um rio, um muro e lugares para tomar café. E também existem, imagine a senhora, muitas mães, mãe. E nenhuma como a senhora. Mas as nuvens são negras e a espada da estátua parece pronta para rasgá-las a qualquer momento. Sinto saudades de coisas das quais não sei o porque, mãe. Te olho aqui do meu quarto e não consigo atravessar a porta para te dar um abraço. Talvez porque nada disso exista, mãe. Ou talvez porque nenhum de nós precise agora senão de um olhar.
Benjamin C.
Amargura.
Pesar de uma vida fracassada.
Pesar desta morte que, fatalmente, será também fracassada.
Como não lembrar uma última vez da época em que eu sonhava com a minha morte?... Da época em que eu a queria bela, nobre, condicionada a altos valores?...Como deixar de me lembrar daquele tempo, na Avenida Ingres, minha cabana, depois mais tarde, já homem, quando eu procurava razões para morrer como se procuram razões para viver? Daquele tempo em que eu queria dar um sentido à minha morte tanto quanto um sentido à minha vida? Sim, como deixar de lembrar do tempo em que estava pronto para morrer contanto que fosse lutando, em pé, afirmando alguma coisa imperecível?
Hoje, nada. Nada senão uma morte por nada, à imagem de uma vida por nada.
Nada senão uma morte insensata, à imagem de uma vida privada de sentido.
Nulidade, nada senão nulidade, após uma vida inteira a serviço da nulidade.
E ninguém para me prantear; ninguém para lamentar minha perda; ninguém por quem morrer; ninguém até para saber que morri -- e meu corpo encontrado um dia, por acaso.
Morre-se como se viveu: circunstancialmente, como um cão.
Contudo, resta este texto.
O resto dessa vida sem resto.
A única coisa que deixo, eu, que nada deixo.
Meu primeiro texto.
Meu último texto.
Este texto em que, durante quatro noites sucessivas, tornou-se para mim uma mortalha.
Esse texto em que falei de meu pai e minha mãe, do diário dela, de Paradis e de tio Jean.
Que vou fazer dele?
Que posso fazer dele?
Queimá-lo? Destruí-lo? Enterrá-lo? Levá-lo comigo? Deixá-lo aqui, sobre esta mesa -- e aconteça o que acontecer?
Uma outra coisa talvez...
Uma última ideia...
Uma ideia absurda, eu sei -- porém não mais do que toda essa comédia a que, durante quarenta e dois anos, eu me prestei.
Esta ideia é que bastaria um homem, um só homem, uma só memória de homem...
É que basta um cérebro de homem, mesmo estéril, mesmo mudo, para, face ao mundo, face à horda...
Não é uma remissão. Não é uma esperança. Mas sem dúvida tampouco é o acaso que colocou, anteontem, esse homem no meu caminho...
É tarde.
Está em tempo.
Está na hora de partir -- como está dito, como está escrito: com medo de que o dia volte.
Agora, morrer depressa. Sem grandiloquência nem cerimônia. Sem toalete fúnebre nem palavra final. Morrer como se dá um passo em falso.
Assim se encerra a confissão de Benjamin, tal como veio ter às minhas mãos um dia em Paris, sem outra explicação. Tudo ali estava. Todas as pistas do caso. Todos os fios entrelaçados.Todas as indicações que, dispostas em desordem, iam me permitir refazer o curso de uma existência de que, aparentemente, eu fora uma das últimas testemunhas.
Na verdade não faltava senão a expressão do último ato -- aquele corpo que, misteriosamente, jamais foi encontrado.
Das Madrugadas Em Que Me Condenso e Não Convenço
Faz tanto frio. Tanto frio quanto insônia dessa madrugada. Tanta madrugada quanto frio...e insônia pelo frio da madrugada acordada. Faz tanto que não sofro tão pouco. Mas faz pouco, isso sim, que não durmo o tanto que deveria dormir. Tenho as mãos tão geladas que não encontro coragem para me tocar a dias. E se não me toco, como poderia tocar a música que imaginei?... Sinto medo pelo vão da porta. Um medo pelo silêncio do escuro. Sinto pena. E se sinto, é porque hoje é meu aniversário. Quero os óculos escuros de Andy Warhol e o poder de me fazer morrer ao contrário sem ter que me sentir uma lata de sopa de tomate. Quero um trampolim para o próximo passo. Serão três longos meses. De espera. De desespero por antecipação. Preciso de alguém que leia minha mão. Que diga que minha linha da vida não é de um todo interrompida. Leio esse livro a mais de um mês. Degusto devagar as palavras e a sensação de ser um peruano tão parisiense quanto qualquer parisiense da Paris de maio de 68. Já não busco senão a mim mesmo. Qualquer um desses me serviria. Como um garçom de memórias da minha própria vida. Estou impaciente com toda essa agitação subterrânea/subcutânea. Estou porque sei. Sei que sob meus pés os vermes ensaiam guerras sangrentas e invisíveis ao olho nu. E por isso acredito que nossos governantes tenham sido ótimos em biologia. E por isso acredito na dor de dente que sinto. O gato corre sobre a casa com elegância maior que o que cai por entre as telhas em dias de teimosia. Os cães estão mudos. Talvez seja o frio que lhes trave a garganta. Assim como acabou por travar para sempre a vida do pobre andarilho na madrugada passada. Ainda que para sempre não exista senão para a estupidez. E o que importa se sou eu quem sente ganas de latir por toda angústia na casa do lado e na outra e na outra que assim como na minha, também se angustia com todo silêncio dos que dormem para descansar?. Não se incomode pois não me importa se faço sentido. Não se incomode pois não me importa se te incomodo. Não me incomoda tua visão de talento. Apenas me importo em ser verdadeiro até mesmo nas minhas mais sórdidas mentiras. Por fim. Feliz aniversário pra mim. Que mesmo com vinte e quatro capítulos ainda não consigo completar um livro que valha a pena ser lido...senão vivido.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Sobre a mecânica nos espíritos da escrita
Acho que a mecânica à qual tu te referes é na verdade minha tentativa de criptografar a naturalidade. Com certeza o emocionalmente natural é sempre mais tocante, mas esse texto em especial não deveria ser tratado como um desabafo, ele é um devaneio, uma visão de final de madrugada onde o sono e o sonho se confundem e nos confundem de maneira que nem tudo o que parece ser é, e nem todo aquele que se diz algo, necessariamente diz algo.
Por: Rimini Raskin
Sobre o Eterno, o Nada e o Infinito!
O "infinito" é abstrato, na verdade ele é como o "nada", não existem senão em palavras. O "eterno" completa a santa trindade do imaginário. Nenhum deles me serve, apesar de não conseguirmos fugir deste conjunto de fatores. Ao nascer, o Infinito são as possibilidades, o nada representa a vida e suas frustrações adquiridas ao longo do tempo; e para completar, eterno é o silêncio da morte! Real? Imaginário? Pouco importa. Afinal, o que me interessa de verdade são as experiências e não os seus motivos!
Por: Rimini Raskin
Assim sendo
Todos nascemos livres e assim o fomos por bem pouco tempo. Desde a primeira infância com as ordens dadas por adultos, que censuram e moldam nossa natureza à seus próprios ideais. Depois a adolescência, fase em que a consciência nos toma de assalto e que novamente nos moldam e podam com discursos de que não sabemos nada da vida e que tudo não passa de uma fase a ser superada, uma rebeldia sem causa. Mas tínhamos uma causa, nobre e infinita, retomar nossa natureza roubada. Selvagem e desregrada, mas sincera como as chuvas. Nos tornamos adultos, amadurecidos à força, descontando nossa frustração em nossos filhos, criando a nova geração de controlados e desacreditados intelectual e sentimentalmente. Partindo dessa idéia, fica fácil entender os avós que fazem todas as vontades dos netinhos, tudo não passa de remorso, uma maneira de compensar o dano que provocaram nos próprios filhos, que por consequência criticam sua forma de tratar os pequenos. Tudo não passa de um grande ciclo de frustração, vingança e arrependimento. Uma prisão de sentimentos que nos mantêm escravos à valores seculares, criados única e exclusivamente por mentes que pretendiam a criação do "homem rebanho", uma raça frágil e desequilibrada, as ovelhas que se permitem ao abate sem resistência. A saída seria, talvez, nunca perdermos a consciência do gigantismo de nossa pequenês. Sermos eternos deuses-crianças, donos de nossas verdades, soldados de nossa própria natureza.
Sobre o que não sei ao certo
Por vezes até acredito que certas partes de mim foram levadas embora no peito de outros.
E não há uma vez sequer em que não torça para estar enganado.
Para que um dia, quem sabe, as encontre no fundo de uma gaveta, intactas,
Conselho de um velho safado
Se vai tentar
siga em frente.
Senão, nem comece!
Isso pode significar perder namoradas
esposas, família, trabalho...e talvez a cabeça.
Pode significar ficar sem comer por dias,
Pode significar congelar em um parque,
Pode significar cadeia,
Pode significar caçoadas, desolação...
A desolação é o presente
O resto é uma prova de sua paciência,
do quanto realmente quis fazer
E farei, apesar do menosprezo
E será melhor que qualquer coisa que possa imaginar.
Se vai tentar,
Vá em frente.
Não há outro sentimento como este
Ficará sozinho com os Deuses
E as noites serão quentes
Levará a vida com um sorriso perfeito
É a única coisa que vale a pena.
Por: Charles Bukowski
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Talvez não seja por falta de coragem, mas alguns cães preferem a noite para se fazerem mais cães. Parte II
domingo, 14 de agosto de 2011
Luxúria (Repostagem Corrigida)

Amo-me, especialmente quando o álcool guia meus passos entre todas essas silhuetas insinuantes de começo de noite e final de esperança.
Algo mais forte que qualquer diferença, e mais simples que qualquer desejo.
Adoro-os quando não os escuto. É sinal de que suas línguas estão ocupadas.
E se ainda não me escuto, é porque suas línguas estão ocupadas com a minha língua.
Peço-lhes que encarem o fato de que nossas mãos possuem um compromisso sagrado com nossos corpos, um laço de sangue e suor.
Juntem-se a mim na missão de não darmos nomes a nossos prazeres, socorram-me no caminho dos desejos onde não se limita o paraíso à apenas uma palavra.
Esqueçam as teorias sobre o céu e o inferno que lhes foram ensinadas na infância, esqueçam de tudo que não seja carne, saliva e sussurros.
Levem-me pela mão, acolham-me em seus braços, recebam-me em suas camas. Entrelacemos agora nossas pernas, tornemo-nos um.
Silêncio! Não os quero escutar. Calem minha boca com suas bocas e sintam!
Descubramos juntos que não há prazer maior que matar a sede de um corpo sedento. Não importa a sede, apenas matem-na. Por favor matem-na em mim.
E quando já estiver morta, lhes imploro que matem-na de uma nova morte sem fim. Purifiquem-me pelo desejo. Façam-me acordar ainda sentindo o gosto do pecado de suas peles.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Olfato
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
O peso de quem já tão leve aprendeu a voar

terça-feira, 9 de agosto de 2011
Talvez não seja por falta de coragem, mas alguns cães preferem a noite para se fazerem mais cães.
domingo, 7 de agosto de 2011
"O Diabo na Cabeça" de Bernard-Henri Lévy
Na sinopse original o livro é descrito como:
"A investigação sobre a vida misteriosa de um certo Benjamin C. revela uma complexa personalidade que reúne em sí todos os segredos e paixões da humanidade.
Bernard-Henri Lévy, eminente filósofo representante da nova geração de intelectuais franceses passa a romancista. E constrói uma trama fascinante que engloba mais de quarenta anos de tumultos e conflitos ao fim dos quais o diabo sempre vence. Usando como pano de fundo as maiores catástrofes do século atual (séc. XX) Lévy manipula em O Diabo na Cabeça personagens que são meros joguetes nas malhas da história."
Mas para mim o livro tem um significado ainda mais oculto e representativo. É o retrato de toda uma geração criada entre um furacão de novas idéias e tendências e a consequência poética, mas não menos catastrófica, que isso causou na geração do pós-guerra e que consequentemente alcançou à mim mesmo mais de quarenta anos depois.
As inquietudes e a rebeldia quase sempre intrínseca porém mal direcionada, ou direcionada a todos os lados, as fugas pela literatura, o cinema, a arte de vanguarda, os excessos e a auto-destruição iminente e frustrante, ainda que inocente.
Tudo isso é Benjamin C., tudo isso sou eu, e ao mesmo tempo não posso afirmar ou negar nada que nem mesmo meu próprio espírito refletiu e ainda reflete.
Os depoimentos de familiares e pessoas próximas, todos tão certos de sí mas tão falhos em relação à realidade do ser em questão.
As mentiras, as ideologias disfarçando o egoísmo pessoal, todo o falso romantismo dos atos que encantam os olhos alheios dispostos à uma aventura e igualmente suficientes para angariar inimigos que hoje olham com desdém para o objeto que já representou o motivo de seu ódio e inveja.
Sendo tudo isso coroado com um relato, também falho, do próprio Benjamim C., em uma carta onde para desatar nós sobre sua vida acaba por criar outros tantos.
Realmente uma obra a ser lida por todos que sentem dentro de sí a existência de uma força maior, um "diabo" que dita direções adversas e caóticas, muitas vezes até cruéis e de extremo egoísmo.
Mas que no fundo, não passam de consequências impostas à mentes que como diria Oscar Wilde "(nasceram para) Viver, enquanto a maioria apenas existe!
Por: Yuri Pospichil
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Sobre a Vulgaridade Sadia da Felicidade e a Tragédia Poética da Tristeza
Avec Tranquillité
