terça-feira, 23 de setembro de 2014
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Só mais uma sexta feira
O ser humano naturalmente destrói o que admira
extingue, empurra para o abismo, dizima, mata
nem sempre come, outras vezes só queima por queimar
O feio também é morto, porque ofende, fede, assusta
e o homem não aceita concorrência quando o assunto
é destruir ou até mesmo canibalizar.
Só o insignificante se salva, escapa do chumbo e da faca
o invisível, o não inspirador, o meio termo, o medíocre
esse tem a perpetuação garantida
Eu costumava sentar em uma praça na hora do almoço
comia macarrão frio direto de um pote plástico
enquanto senhoras levavam cachorrinhos para cagar
Nessa época eu lia Sartre e sentia náuseas em dias de vento
imaginava o mundo vazio de seres humanos, como mágica
e eu o único sobrevivente, sem trabalho, sem hora, sem nada
Me via invadindo aquelas casas bonitas que cercavam a praça
comendo a comida dos armários, dormindo em camas king size
e batendo carros potentes que nunca aprendi a dirigir
Mas é tudo uma grande bobagem, como não haveria de ser?
os homens não desaparecerão assim, de uma hora para outra
eles não podem ser extintos, exauridos, dizimados, devorados
Apenas eu, que sequer existo, posso dar cabo do sonho sinistro
que se abate sobre o coração, que teimoso, insiste em bater
entre frequências de rádio e miséria e gás napalm e bombardeios.
Crianças mortas e tecnologia assassina e poesia quebrada e
leiteveneno e carnedoença e barrigas negrovazias
por toda parte o homem caminha como um senhor de porra nenhuma
Meu Deus! e o Diabo na terra do sol, na cabeça do homem que não aprendeu
que não foi ensinado, que ainda não acordou para o fato
que é preciso respirar em algum momento dessa desgraça que chama de vida
Hoje vi meu rosto no espelho do quarto de meu pai
o espelho era meu próprio pai refletido no meu rosto
cada ruga e cada fio branco de barba era eu
Espelho e pai e calvície e caveira triste anunciando o apocalipse
do corpo e da mente sem cama nem flores,
só chamas e nenhuma montanha que se possa escalar
Só vozes humanas e grandes cães que entre grades insistem em tentar me atacar
o dedinho dela aponta a lua - Olha pai, a lua...a lua! -
e a lua sorri de volta com um foguete cravado no olho direito
Mas não basta estuprar o próprio mundo, penso
nossa viagem segue rumo contrário
e um dia não haverá mais como retornar ao coração
Esse planeta vermelho e pueril, cada vez menos pulsante
seco e esquecido, gritando por ajuda em um cantinho
frio e escuro do peitogaláxia ... mais nada ...
Só o dedinho dela apontado pra lua
- Raskin
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