sexta-feira, 31 de julho de 2009

B.T.


Queria poder pisar aquelas noites novamente.
Queria poder sentir o cheiro do vinho barato e as estrelas incandescentes!
Queria também poder rir com os mesmos sorrisos,
e acima de tudo queria poder olhar-nos lado a lado outra vez.

Todos caminham, o mundo caminha e nós também não poderiamos ter deixado de caminhar.
Mas o que realmente faz falta não são as noites de astrologia atormentadas pelos mosquitos.
Nem as tardes de conversa fiada, nem mesmo o frio solidário e nunca solitário.
O que realmente faz falta é o simples fato de poder sonhar juntos.

Lembrar é o que me faz olhar para o céu no inverno.
Me faz voltar no tempo ao sentir o vento quente de tempestade tocar o rosto.
Éramos nós três, vocês lembram?
Eu sei que lembram, e sei também o quanto lamentam o destino.

Lembram da kombi?
De como os planos eram feitos?
E de como ele foi agregando outros grandes amigos igualmente arrancados pelo tempo?

Era nossa calçada!
Éramos nós os donos da noite.
Juntos pela tragédia e fortificados pela amizade e pelo mistério.
Quando foi a última vez que olharam o sol nascer com alegria de verdade no rosto?

Hoje não somos mais do que três partes carregadas de lembrança.
Sinto falta de cada um como de um todo.
Fomos irmãos de verdade.
Nos separaram com crueldade.

Pisando as mesmas ruas sozinho eu posso ver as sombras.
O vento quente ainda suspira por ai a nossa lenda.
E o velho muro lamenta nossa falta.

Os três inseparáveis.
Vocês foram meus verdadeiros heróis da adolescência.

Sejam felizes onde estiverem.

Por: Yuri Pospichil

terça-feira, 14 de julho de 2009

OBRIGADO


Ah, poeta!
Ainda lembro de nosso primeiro encontro.
E como poderia esquecer?

Era inverno. Lembra, poeta?
Lembra como a chuva da manhã deixou sujos os meus sapatos?
Como a pouca luz da sala fazia de todos nós fantasmas?

Eu era uma criança ainda.
Tinha em mim todos os sonhos e todos os medos do mundo.
E tu, poeta?
Ah, tu tinha todos eles também.
Todos guardados em suas linhas.

Como meus olhos brilhavam com as tuas histórias.
Me imaginava pisando vulcões à teu lado,
sentindo o cheiro úmido das florestas.
E muitas vezes podia jurar que a água do mar tocava os meus pés.

Lembro como o cheiro do metal conquistador e assassino me chegava às narinas da imaginação.
Como chorava ao ouvir de ti a realidade do pobre mineiro
com sua face queimada pelo salitre impiedoso.

Lembro das lições sobre o amor e a igualdade.
Lembro das manhãs na tua companhia,
aprendendo a também falar a língua dos rios.

De como me falavas da tristeza ao ver a maldade no coração do homem.
De como me narrava os feitos de heróis de verdade,
de carne e osso e coração.

Ah, poeta!
De ti roubei palavras para toda uma vida.
De ti roubei os mares, as lutas, as raízes e os sonhos.
Em tuas linhas vivo e não vivo em vão.

E tu, poeta,
daquela criança
roubaste o coração.

Por: Rimini Raskin

ATRAVÉS




Sou uma criança de riso fácil e coração angustiado.

Angustiado por uma esperança morta
mas intermitente o bastante para me fazer chorar uma noite inteira.

Abrigado da chuva da loucura em versos e poemas.
Simples reflexos de abstratos fragmentos de alma,
companheiros inseparáveis de todo aquele
que em vão espera a volta da amada.

Sou uma criança de riso fácil.
Porém tão real quanto a maquiagem borrada por lágrimas
de um triste palhaço esquecido pelo amor.

Por: Rimini Raskin

Encontros


”…Pessoas se conhecem por ordem de um acaso supostamente planejado por uma força maior, por uma espiral de tempo que coloca almas antigas novamente em contato, promovendo encontros ancestrais de forma delicadamente harmoniosa com seus novos corpos. Mentes ligadas de maneira sincera, sentimentos que se confundem em sua ordem mas nunca em suas verdades. A amizade é uma força cósmica, uma energia tão poderosa e tão prazerosa que teima em se repetir plano após plano, vida após vida; ciclos se partem o tempo inteiro, mas reatam-se quando chega a hora, não a nossa hora, mas a hora secreta, escrita em língua secreta..."

Por: Rimini Raskin

Fúteis Loucuras


Tudo aquilo que a gente esquece
num subconsciente que eu faço e desfaço
poeira do espaço
de um amigo da gente
que mora ao lado
esquerdo da vida
direito da morte
que manda e desmanda
o destino e a sorte
mãos dadas ao acaso
e o descaso descansa
ao lado do fogo
eterno da vida
e a fome e a guerra
e deus e o diabo
entre céu e inferno
o monstro interno
o yin e o yang
o feio e o belo
o certo e o errado
e um sonho desperto
entre a água e o vinho
amor e desprezo
textos tão bárbaros
vikings suecos
cultura descrente
ideologia burra
mentirosas verdades
informação sobressalente
que eu logo esqueço
num subconsciente que a gente descarta
FÚTEIS LOUCURAS.

Por: Rimini Raskin

segunda-feira, 13 de julho de 2009

BAILE DE MÁSCARAS


Enquanto muitos procuram um rosto,
eu encontrei um coração.
E mesmo em teu baile de máscaras
me alegro em sentir teu sorriso.

Descobri que somos tão semelhantes;
semelhanças que o coração não procura,
mas que o destino faz questão de criar.

Guardo teu sorriso em meus lábios e teu coração em meu peito.
E ainda que jamais conheça teu rosto ou sinta teu beijo,
sempre estarás em meus sonhos,
fazendo de cada sono um sonho perfeito.

Por: Yuri Pospichil

LOUCURA ?


É estranho como o tempo as vezes tenta castigar.
Quando estou feliz um ano dura um dia,
Mas quando estou triste, um dia dura eternamente.

O destino adora conspirar,
adora me deixar confuso.
Me faz rir e chorar, amar e odiar.
Tudo ao mesmo tempo, no mesmo instante.

E ainda tem ele, o belo e injusto amor.
Arrebata corações e fadiga a imaginação.
Te deixa sobressaltado, noites acordado.

Seria essa a maldição perfeita posta em mim como vingança?

Dia e noite fitando o reflexo de minha janela na esperança de vê-la surgir por minhas costas.
E me devolver sua presença há muito perdida.
Ignorando tempo e espaço,
de volta ao começo
e agora pra sempre.

Por: 
Rimini Raskin

PARA SRTA. COISAS BONITAS


Minha metade tão distante.
Minha confidente tão sincera.
Te ouvir me encanta e me transporta,
Me eleva a um estado de naturalidade comigo mesmo,
E para isso não tenho palavras.

Sei que também te proporciono prazer.
Sei também que minha presença distante te alegra.
Afinal como não saberia?
Partindo da premissa que conheço teu pensamento,
Conheço o teu como se fosse o meu.
Conheço teus medos porque são meus medos também.
E conheço teus amores porque são lindos e puros.

Admiro nossas diferenças.
Por menores que sejam, mas admiro.
Platão riria de nós dois.
Riria de si mesmo,
Se orgulharia de si mesmo.
Somos suas melhores cobaias.
Por isso fico por aqui,
Sem mais palavras,
Não preciso escrever o que bem sabes que quero dizer.
Está tudo ai dentro de ti.
Quando pensares no que sinto por ti, olhes para dentro de si mesma.
As respostas estão todas ai dentro.

Por: Yuri Pospichil

LEMBRANÇA


Não sei bem se posso chamar de lembrança algo que ainda parece vivo.
Nunca pensei poder sentir os extremos com tanta facilidade.
Te ver me alegra e me transtorna,
Teu novo sorriso carrega algo de falso.
Algo de outra pessoa, quase como uma máscara.

Oh pequena Amelie de nossos primeiros tempos,
Como podes dissimular o que bem sei que sentes?
Acaso não seria o mesmo que eu sinto?
Olhar para ti como meu espelho feminino me causa vertigem,
Confesso-lhe que uma queda livre me seria menos intensa.

Toda essa cidade, todas essas ruas nos pertencem de algum modo.
Cada esquina possui uma conversa gravada,
Um gesto feito ou um sorriso de plenitude.
Nossos rostos estão tatuados em cada muro.
Lembrarte é uma aventura para os sentidos,
Um gosto, um som, um cheiro ou uma cor ou todos eles.
Sim, todos eles somos só nós dois.

Como fui imaturo, que criança geniosa fui.
Pulando de colo em colo para me sentir pleno.
Buscando em outro peito a dor que não encontrava no teu.
É ironico como o mesmo espirito poético que te aproximou, acabou por afastarte.
Afastarte de meu físico é claro, pois em meu coração cravaste tuas unhas de maneira tão violenta que jamais conseguiria soltá-las.

Sou um covarde, eis os fatos.
Um covarde capaz de admitir a maravilha que viveu,
Mas incapaz de se entregar a ela totalmente.
Não te mereço por mais que te queira.
Mas sem ti não sou completo, e nem tu completa serás. Disso bem o sabes.

Oh pequena princesa de coração bondoso e gênio egoísta.
Que mais posso-te dizer além de que te amo?
Escrevo teu nome de boneca em folhas arrancadas do pequeno livro da vida.
Quando durmo é a tua pele que sinto abraçar-me.
Não confundiria teu cheiro mesmo entre um milhão de perfumes.
És meu ideal de hedonismo..
O tesouro que minha covardia impede de tocar.

Por: 
Rimini Raskin

domingo, 12 de julho de 2009

SEGREDO


Não me olhe com esses olhos que não posso roubar,
Muito menos me sorria com essa boca que nunca beijarei.
Tuas zombeteiras provocações me machucam mais do que imaginas.
Sofro por saber que em cada gesto existe uma verdade deliciosa,
Um prazer raro que não posso tocar.

Não te reconheço quando estamos cercados.
Ou será que na realidade não conheço-te quando estamos a sós?

Não exibas este corpo de alvura provocante.
Muito menos me toques com essas mãos que não posso segurar.
Tuas palavras de criança levada, adquirem um tom quase celestial combinadas com teu rosto de anjo renascentista.
Não imaginas como me enlouqueces durante os sonhos.
Uma loucura de proibida atração.

Como ririas de mim se soubesses que já chorei por tua ausência.
Como te divertirias se ouvisses de minha boca essas palavras.
Mas como posso resistir a tua beleza enigmática?
À essas brincadeiras de dizer a verdade?

Teu encanto é eterno como o de Dorian Gray e tua beleza divina como a de Afrodite.
Mesmo que nenhum outro o aches, eu o acho.
Por isso guardarei só para mim essa obssessão.
Só peço-te que não deixes de provocar-me.
Pois mais doloroso do que ver-te torturar-me, seria não mais te ver.

Por: Rimini Raskin

ANJO DE ALMA VIOLETA



Feche os olhos enquanto te marco.
Não! Não os abra por favor.
Consegue sentir o gosto em teus rubros lábios?
Não te assustes por favor, esse gosto se chama luxúria.
Te matarei a sede essa noite, e em todas as noites
que de mim necessitares.
Peço-te que só faças disso segredo para os que não lhe atraiam.

Abra os olhos agora divina rosa!
Oh, como é encantador esse brilho no canto de teus olhos.
Como amo a maneira que enrubece teu corpo ao meu toque.
Não se envergonhe lindo jasmim.
Não há por que censurar-se pela delicia que experimentas.

Cale-se enquanto te toco.
Hoje não é de tuas palavras que preciso.
Prometa-me que jamais morrerás por amor,
Pois é dele que se vive e por ele tudo há de ser belo essa noite.
Faça de meu corpo teu templo e adore-me.

A partir dessa noite serás responsável por tudo aquilo que tocares.
Cada centímetro de pele, cada suspiro, gesto ou palavra.
Tudo será de tua inteira responsabilidade.
Cuide-me como de ti cuidei pequeno anjo de alma violeta.
Só assim tudo será nosso.

Por: Rimini Raskin

O QUARTO





Uma cama de solteiro.
Branca e barulhenta.
Uma estante pintada com giz de cera,
Verde e laranja com espirais e um toca discos.
Um roupeiro para dois.
Uma televisão que não funciona.
Outra estante,
Mas esta para guardar livros.
Colocada sobre um tapete comprido
para proteger o chão de madeira marrom encerada.
Um elefante triste apoiado sobre suas pernas quebradas
olha para um abajur de louça muito antigo.
Os posters parecem velar os sonhos.
E as mulheres do quadro, muito tempo
resolveram dar as costas aos companheiros de ambiente.
Estão mais interessadas em recolher gravetos secos.
Para não se sentirem sozinhas, ficam o tempo todo de mãos dadas.
Talvez só o esqueleto colorido ainda ache graça da situação.
Sinto inveja, mas só as vezes.
O fato de ser de cartolina não o incomoda.
As vezes acho até que ele gosta de se sentir tão leve.
Mas o que mais gosta mesmo,
é o fato de ser tão lindamente articulado por cordinhas.
Isso permite que ele dance ao ritmo do ventilador.
Balançando suas pernas verdes e compridas pelo ar.
É engraçado, mas ele adora tudo no quarto.
Bem, quase tudo.
Afinal ainda não acostumou com o desconfortável
percevejo cravado na cabeça.
A vida das coisas é como a vida das pessoas,
Curta, agitada e ao mesmo tempo vazia.
E apesar dos percevejos na cabeça,
todos nós ainda podemos sorrir como o esqueleto.
Afinal a vida sempre vai ser estranhamente bela
para quem pela beleza procura.

Por: Rimini Raskin