domingo, 26 de abril de 2015

Feirinha



O rosto daquele menino, meu deus
era o meu rosto de menino
as minhas roupas feias de menino
que pegávamos na sacola de doações

O rosto daquele menino
que me fez pensar em ti, tão diferente
e que é ainda mais diferente hoje em dia

Pensar no anjo ardente sob tua saia de pombas
e no cavalo branco no pátio da escola
naquele sonho que de tão vivo
quase me fez ligar pedindo
que me abrisse a porta da tua inocência
uma última vez
antes da morte do nosso perfume

O rosto daquele menino
mastigando a realidade
com os dentes em pranto
mirando quase assustado
um demônio invisível
sentado sobre o terminal

Um rosto pálido
talvez um signo definitivo
marca indelével
da morte de toda
uma geração


- Raskin