Está tudo perdido
Na velocidade do jato
As imagens
Como gorilas diamantados
Arrebentam as retinas
E estupram o pensamento crítico
Um verdadeiro crime de guerra
Uma bowie reluzente
Afiada em ambos os lados
Fatiando um córtex adolescente
A fim de rearranjá-lo
Como um gráfico de pizza
Medo consumo narcisismo
O cinismo nas bochechas gordas
Dos senhores de engenho
Está tudo perdido
Pendendo do cosmos gelatinoso
Feito almas careadas
Tudo se arrasta de volta ao mar
Tudo vai se arrastando
E a televisão esperneia gritando ódio
Enquanto projéteis luminosos fazem mira para
Espetar o peito de uma estrela cadente
Que sangra um poeminha olho-do-cu
- Alguém aí sabe a semelhança entre um pai de
família e um astronauta?
Ambos choram no banheiro enquanto todos estão
dormindo -
Está tudo perdido
E por isso acredito em solução
Eu sei porque aprendi a ler os sinais
Aquele passarinho
no corredor de laticínios do supermercado
[Era um sinal]
O gato me acordando às 3h da manhã
[Era um sinal]
Flávio Viegas Amoreira
em uma metralhadora de postagens poéticas
lembrando aquela frase do Piva que
os anjos sussurraram no meu ouvido o dia inteiro
[Era tudo um sinal]
De que talvez exista uma saída
através do experimentalismo poético
expandido à todas as esferas do cotidiano
Orquestras invisíveis nos metrôs
Políticas que ultrapassam o pão
e entregam também o sonho
Polícias armadas com pocket books de Rimbaud
em seus coldres
Tecnologia limpa e necessária
Sem caretices ou paumolismos
Um não-governo
sob a direção do povo
Um que garanta o direito universal e irrevogável
de ser ducaralho
Um Kerouac ministro das estradas
Antonin Artaud ministro da saúde
[incendiando sanatórios]
Ginsberg inspetor de mictórios
Um Augusto dos Anjos curador de necrotérios
Akhmátova no ministério dos mistérios
[Uma explosão nas próstatas de Wall Street]
-Raskin