Cruzo
através do vermelho difuso
das horrorosas sinaleiras
contrapostas
ao manto azul escuro
da noite precoce
(Sinto que a poética se aguça)
Caturritas gritam impropérios
do alto de seus coqueiros impostores
E no chão molhado
o reflexo de mil constelações de carne
hipnotizadas
aguardam impacientes
a contagem regressiva
nos mostradores de LED
Suas carcaças vazias
titubeiam tilintantes
por bulevares estéreis
onde assassinos sem libido
descontam frustrações
em enormes sanduíches
de carne e de desolação
Ah, se meu coração
não fosse essa pequena bola de plasma
e parasse de bater
nem que fosse por algumas horas
Com toda certeza
descansaria minhas angústias
em um agradável banho Maria
(Mas ele insiste)
Ou...Ah, e se meu corpo
não fosse esse milagroso amontoado de átomos
e desmanchasse no espaço
nem que fosse por um instante?
Meu ônibus decolaria do asfalto
e as caturritas cagariam
na cabeça de deus
em explosivas gargalhadas
(Assim teria certeza de que tudo pode ficar um pouco mais leve &
abraçaríamos o abraço que não existe)
- Raskin