Meus pais devem ter trepado em casa porque faltou 10 centavos para pagar o motel no dia em que eu fui gerado e isso me afetou geneticamente. Papo sério. Não importa o que eu faça sempre me falta 10 centavos para o café. E não fica só no café, se um sanduíche custar, sei lá, 2 reais, eu vou ter somente a merda de 1,90 no bolso. É frustrante, cara. Se eu não tivesse dinheiro nenhum, vá lá, seria uma bosta, mas eu entenderia.
E quando eu ando pela rua e encontro 10 centavos? Cara, eu sou tão fodido que quando encontro, a maldita moeda está cravada no asfalto.
Conspiração, e das grandes!
Até os vendedores, mesmo aqueles de parada de ônibus que vendem balinhas ficam se encolhendo para me vender alguma coisa.
- Quanto custa a bolacha, amigo?
E o cara faz o número 1 com o dedo, o miserável nem se digna a me responder em palavras.
- Me faz por 90? Só tenho 90.
Digo com cara de parceirão.
- Não, é 1 e não 90.
Filho da puta, que grande filho da puta.
E o pior é que nem tenho argumento para convencer o cara.
Em casa eu assalto o Buda, minha mulher fica louca com isso, mas eu já vi ela pegando moedas do gordinho para comprar pão. Em suma, na minha casa o Buda tem tanta grana quanto eu, por isso eu compenso em incenso, sem brincadeira, ele deve ser o barrigudo mais perfumado do mundo.
É foda não ter 10 centavos, quando eu era criança sempre me enrolavam no troco e eu voltava pra casa com umas balinhas na mão, hoje nem isso, 10 centavos sequer compram balas, mas aparentemente terão sempre o poder de empatar o meu café.
Por: Yuri Pospichil