quarta-feira, 27 de junho de 2012

10 centavos



Meus pais devem ter trepado em casa porque faltou 10 centavos para pagar o motel no dia em que eu fui gerado e isso me afetou geneticamente. Papo sério. Não importa o que eu faça sempre me falta 10 centavos para o café. E não fica só no café, se um sanduíche custar, sei lá, 2 reais, eu vou ter somente a merda de 1,90 no bolso. É frustrante, cara. Se eu não tivesse dinheiro nenhum, vá lá, seria uma bosta, mas eu entenderia.
E quando eu ando pela rua e encontro 10 centavos? Cara, eu sou tão fodido que quando encontro, a maldita moeda está cravada no asfalto.
Conspiração, e das grandes!
Até os vendedores, mesmo aqueles de parada de ônibus que vendem balinhas ficam se encolhendo para me vender alguma coisa.

- Quanto custa a bolacha, amigo?
E o cara faz o número 1 com o dedo, o miserável nem se digna a me responder em palavras.
- Me faz por 90? Só tenho 90.
Digo com cara de parceirão.
- Não, é 1 e não 90.
Filho da puta, que grande filho da puta.

E o pior é que nem tenho argumento para convencer o cara.
Em casa eu assalto o Buda, minha mulher fica louca com isso, mas eu já vi ela pegando moedas do gordinho para comprar pão. Em suma, na minha casa o Buda tem tanta grana quanto eu, por isso eu compenso em incenso, sem brincadeira, ele deve ser o barrigudo mais perfumado do mundo.
É foda não ter 10 centavos, quando eu era criança sempre me enrolavam no troco e eu voltava pra casa com umas balinhas na mão, hoje nem isso, 10 centavos sequer compram balas, mas aparentemente terão sempre o poder de empatar o meu café.


Por: Yuri Pospichil

terça-feira, 26 de junho de 2012

Faça!





Abra uma 
         
Luz 
                                 
No seu

Tórax


Por: R. Raskin

domingo, 24 de junho de 2012

A Máquina



Tenho essa velha Lettera 82 verde me olhando, sussurrando nos meus ouvidos que se trata da herança de um homem ainda vivo. Maldita máquina intocável, fiel à mãos que não lhe davam atenção há anos. Mas assim também são algumas pessoas. É difícil entender que chega uma hora em que nos tornamos inúteis para quem um dia juramos amor. Eles apodrecem, eu apodreço, mas a Lettera 82 verde espera sem tinta que os velhos dedos esgotados lhe façam um carinho. Usá-la agora seria um estupro.

Por: Rimini Raskin

Passagens...



- Tu não sabe fumar! Ela me dizia, e ria com aquela cara de quem cresceu na rua vendendo bugigangas .

- Não sei e odeio fumar! Respondi indiferente.

- E por que tu fuma?

- Tem gente que não sabe e outras que odeiam viver e mesmo assim seguem insistindo no erro.

- Que mundo de merda, né?

- Somos todos uns filhos da puta.

- Pelo menos nós dois temos consciência disso.

- E temos uma cama para trepar depois da festa... Pensando bem, até que não estamos tão mal assim.


Por: Rimini Raskin

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O Homem



Olhe o homem
Atravessar a rua
Olhe o homem
Comer seu sanduíche de queijo
Olhe o homem
Olhando você o olhar

Olhe o homem
Gritando palavrões no parque
Olhe o homem
Correndo como um louco atrás do dinheiro
Olhe o homem
Pressentindo a doença chegar

Olhe o homem
Com suas contas em dia
Olhe o homem
Carregando sua filha
Olhe o homem
Morrendo de frio a cada esquina

Olhem o homem, meus senhores
Está em todas as partes
Olhe o homem, minha irmã
Dentro de todas as coisas
Olhe o homem, meu deus-do-céu-da-terra-de-lugar-nenhum
que chega tarde demais em si mesmo
que evoca vezes demais seus fantasmas
sofre demais seus problemas e
pensa que pensa que pensa que...

Ele não é especial - O Homem -

Ninguém além de nós todos.

Pedaços de carne.


Por: Rimini Raskin 





O vento é um diabo que nos carrega



Meu peito é cinza-chumbo
e encobre o sol
Toda manhã é meu peito
e tudo que é cinza também é meu

Peito, ponte e até os elefantes
A África e os polos
os índios e os tolos
São chumbo
Sol e manhã

Amanhã

Será sempre amanhã
quando o hoje for cinza
e o peito for feito cascata
em queda livre contra o sol

É meu
Esse todo que não vale nada
Esse mundo tudo que não fala nada
É tudo
E é cinza
Porque é meu

Por: Rimini Raskin