Com mangas de camisa saindo da camisa
até
as mãos frias do outono
Quinze anos de vida sedenta dividida com violência
por pássaros
negros do campo irregular
Memórias turbulentas de cabelos compridos e cimento fresco
com amigos deitados em
rampas de concreto
Noite gelada partindo em três nosso espírito ligeiro e espectral
sem que ninguém
soubesse haver o verbo
Assim nasciam as primeiras palavras paridas pela dor do
nascimento
de prematuros condenados a maldição do querer saber
&
Só os deuses sabem o quanto
dói não conhecer outra saída
Ou a ferida do tédio sombrio
Ou a incerteza do amor futuro
Ou ainda a angústia dos mortos que teimam em não deitar
Nesse tempo o poema foi a desconfiança interna em face da
vida de menino
Esquecido na beira
de uma estrada poeirenta
enquanto caminhões de sonhos e automóveis fantasmas
elevavam ao céu o
gosto de todas as coisas
O poema foi uma biblioteca chuvosa de primeiros versos
Neruda vulcânico e
salitre araucano
Tardes inteiras de mergulho no fabulário russo de barbas e
mofo carcerário
França romântica e rebeldia fatal
Deslumbre ocultista
misturado a preguiça adolescente de acreditar no que quer que seja
Mas ainda assombrado
pelo inferno impiedoso inculcado no berço
Perseguido no escuro
por demônios saídos da boca do homem
Rezando sem vontade
para o teto do quarto
Enquanto o deus do
céu ficava cada dia mais parecido com meu pai
Que noites aquelas
Que dias
intermináveis
Se ao menos soubesse
o que ainda estava por vir
Por: Raskin
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