São 4h da manhã &
acordei de um sonho em que
"Z" voltava de Londres
com neblina nos bolsos
e uma barba farta de santo ucraniano
Nos encontrávamos em um
Transcal azul-barulhento
cruzando a Av. Flores da Cunha
em uma Cachoeirinha da infância
que não passamos juntos
Daquele tempo de ruas de pedra &
casas de madeira que
ganhavam vida durante a noite
Falávamos do vazio
e do silêncio do que não ouvíamos
e da música e
da música e principalmente dela
Ele me convidava para um festa
com aquele entusiasmo de anos atrás
- vai ser foda - ele dizia, - descolei até um chocolate com o "V"-
& lá fomos nós
como nos velhos tempos
de vodca e apresentadores de TV
preocupados com a reputação
Me sentia tão feliz
O lugar era um emaranhado de níveis
e corredores repletos de portas
interligados por escadas traiçoeiras,
uma cena
Escheriana perfeita
Impossível descrever em detalhes,
mas estávamos lá, juntos em um desfile
de tristes ex namoradas esqueléticas
de vestidos negros e cigarros
nos desejando sorte e reclamando da vida
- Que loucura, velho! - ele gritava
enquanto suava em bicas naquele lugar infernal
- É nossa despedida, nossa última loucura -
Mas eu não entendia de que diabos ele falava
e dei de ombros bebendo minha cerveja
- A partir de agora vamos ser sérios e sofrer quietos
para não incomodar os vizinhos ou nossas mulheres! -
Senti uma tristeza enorme,
mas mesmo assim dei risada ainda sem entender
exatamente o que se passava.
- Em noites quentes como essa, as piscinas do tempo são oceanos -
ele continuou...
E nos perdemos entre as portas
de nossas próprias consciências
- Raskin