quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Poema de Resistência



Se identifica o grito
como um protesto forçoso
uma petição indignada
contra o mundo indigesto
de uma realidade sem flores

Se identifica o grito
no canto do pássaro contra o motor
na neblina contra a fumaça
na terra contra o asfalto
na abelha contra o despertador

Se percebe o grito no escuro do cérebro
e dentro dos pulmões
e no fundo dos olhos
Aquela angústia que te rouba o sono
é o grito

Há um tempo atrás
uma cigarra gritou na  minha janela
-desses privilégios de morar em bairro onde os velhos insistem
                                   em manter as árvores em frente a casa-
Mas foi tão alto que conseguiu me arrancar
do transe do trabalho

O grito da cigarra me despertou
para o tempo em que eu ainda percebia
a chuva e os lagartos
nas tardes de pescaria

O grito da cigarra é o grito contra a sonolência
O grito contra o supérfluo
O grito contra a queda da poesia
que é também a morte da imaginação

A resistência ao fim da vida
- um grito ensurdecedor


Raskin

3 comentários:

  1. Queria ser como essa cigarra e encontrar energia para continuar a gritar.

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    1. A cigarra grita por não saber fazer outra coisa que não seja gritar...nascemos privilegiados, é preciso reconhecer o milagre, utilizando-o na luta contra a opressão (supressão) do natural. Se nos cortam a garganta, que nossas mãos tenham feito vassouras (citando Neruda) para que os que vierem depois de nós varram essa sujeira para longe.

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  2. Que assim se faça, querido amigo. =)

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