domingo, 18 de junho de 2017


No espaço vazio (ab)surdo
Entre Beethoven e os Depeche Mode
A pornopoética rompe com a blindagem das agências bancárias
temperando com vidro um enorme prato de sopa... 

- Raskin

Thoreau bateu à minha porta.
Eram 3 da manhã de um lugar comum
Destes tão ordinários quanto
a própria realidade.
Trazia consigo um cesto de maçãs
vermelhas e na mão esquerda
um calhamaço mágico...Anárquico
me chamava para fora
para que eu visse com meu próprio
espírito sujo da fuligem industrial
uma enorme fogueira que ardia
alimentada pelas leis do capital.
Thoreau como um xamã
aniquilava toda produção inútil,
a fome e a servidão.
Fazendo-as curvarem diante
de seu olhar caudaloso.
Ao nosso redor relâmpagos
Iluminavam o interior do fumo
espesso da fogueira enquanto
a Terra gritava e os Rios, com violência
arrastavam suas amarras...
De costas coladas à parede de pedra
chorei, entre maravilhado e confuso.


- Raskin
Foto: Dado Braz

Toda violência de uma vida
gasta a servir aos mecanismos
sórdidos de uma prisão de almas que 
julgamos sociedade
Toda violência, tudo,
toda delinquência do espírito,
dos vícios, das manhãs em que
se acorda excitado sem que se ouse
despertar a esposa que dorme ao lado
Toda a ânsia de vômito, toda, tudo...
o sentir-se como merda na presença do patrão,
nem ódio nem revolta...só um desejo de voar
O corpo pequeno no ar, a densidade do espaço vazio
entre a passarela e o asfalto
Toda a amargura, icebergs árticos, mendigos
beatificados pelo sereno, o conhaque feito o
universo através das lentes de um
supertelescópionorteamericano...
Toda essa merda, tudo, toda
e ainda assim, nada...
nada que valha sequer 

um poema imortal

-Raskin