Reviro a casa feito um louco, de cima à baixo.
Olho atrás dos armários e dentro da geladeira...
Nada!
Quebro a cabeça pois sei que o deixei aqui em algum lugar.
Arrasto a escrivaninha e levanto as almofadas...
Nada!
Talvez tenha caído entre as tábuas do assoalho e então arranco-as,
uma a uma, para espiar com minha lanterna minuciosamente.
Ratos e baratas, olhos vermelhos e patinhas frenéticas, de resto...
Nada! Nada! Nada!
Abro a cristaleira e lanço os copos contra a parede.
Arremesso pratos e talheres através da janela,
estouro lâmpadas com meu cabo de vassoura
"INFERNOS, EU SEI QUE ESTÁ AQUI, EU SEI DISSO!"
Me desespero
Rasgo as fotos
Incendeio roupas sobre o colchão
Espanco até a morte a pustulenta televisão
"MALDITO SEJA, MALDITO SEJA!"
Espalho as garrafas de bebida pela casa entre goles maiores que minha própria garganta
Afogo as flores em álcool
Me arrasto, serpenteando, até o banheiro
Nu como um filhote de cão sarnento
Meu rosto no espelho é profundo e nele as nebulosas concentram todas as estrelas
Mesmo as que não mais existem
"SOU CINZA!"
Choro tanto e tremo tanto,
que vai ficando difícil continuar em pé...
Sento no chão e dou cabeçadas contra os azulejos
A fumaça das roupas e da cama e do que mais estiver queimando
entra sorrateira sob a porta
Logo, logo estarei sufocado...
"VOU SUFOCAR!"
Abro a gaveta por reflexo, por um último reflexo
E então lá está ele!
Entre o pente aposentado e uma enferrujada lâmina de barbear
"SEU SACANA MISERÁVEL, ESTEVE AÍ O TEMPO TODO?"
Saio despido senão por sorrisos e uma tosse que quase me faz vomitar
Enfrentando fumaça, móveis em brasa e cacos de vidro antes de chutar a porta de entrada e gritar atirado no gramado:
"OLHEM PRA MIM, NÃO TENHO MAIS CASA, NEM ROUPAS, NEM NADA DE NADA...ESTOU LIVRE, E O NIRVANA É MESMO DOURADO COMO UMA CRIANÇA!"
Completamente coberto pela fuligem de toda uma vida
E é a primeira vez que me sinto limpo de verdade.
Por: R. Raskin
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