sábado, 10 de outubro de 2015

Ferroadas


escrevo outra vez
com lápis e borracha
disciplino a mente
instigo a coordenação
o computador amolece o empenho
sequestra o instinto
afasta até quase um nível
irrecuperável
a palavra do real

escrevo dessa vez
fitando a fuligem nas janelas
desse apartamento na esquina
da Av. Farrapos
lançando acenos às putas
travestis, velhas e mães de família
ouvindo ônibus comboios
cortando a luz da persiana
feito locomotiva e vagões
bebendo cerveja
fantasiando o cigarro que não fumo
os amigos que não estão aqui
a filha que dorme
a mulher que trabalha

escrevo como convêm
gozo excitado
tesão explosivo
a arte pedindo passagem
na fluidez cármica
da poética quase patética
que me esmurra o rosto
rápido feito Ali
flutuando na ponta dos pés plásticos
ágeis e poderosos
que me atiram de cara na lona literária
quase morto com sorriso no canto da boca

perdedor orgulhoso
da própria derrota

-Raskin

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