terça-feira, 8 de junho de 2010

Fim



Lembro de estar carregando algo.
De estar sentindo calor.
Lembro de como teu rosto parecia perdido
enquanto todos diziam teu nome a sorrir.

Sempre me soou falso.
Mas contigo de repente a rebeldia era real.
Nos teus cabelos o cinema me saltava aos olhos.
E nos teus olhos buracos negros apontavam o vazio de uma alma química.

Me entreguei ao corpo que se entregava.
Partilhei da loucura doce de voltar a ter 15 anos.
Sujei-me de sangue, do meu e do teu sangue.
Lavei-me com lágrimas, as tuas, as minhas e dos anjos.

Escrevemos linhas convulsas,
Presenteamos um ao outro dores e incertezas.
Sorrimos, gargalhamos, transgredimos um mundo de regras.
Te perdi, te busquei e perdi de novo.
Nunca à tive, à mim mesmo sequer cheguei um dia à ter.

Dois personagens de um romance-dramático
Parte comédia, parte non-sense.
Mas olhe pra nós agora.
Quem somos?

NADA.

Nada além do que éramos.
Nada além do que fomos.
Andamos em círculos.
Cuidando um do outro à uma distância segura.
Correndo de volta sempre que a luz apagava.

Seria lindo se não doesse tanto.
Se as mágoas fossem esquecidas.
Mas olhe pra nós agora.
Quem somos?

TUDO.

Tudo que nunca quisemos ser.
Por isso me afasto de um corpo que afasta.
Te olho de uma distância maior.
Não seguro mais a tua mão.

ESCOLHAS.

São elas que decidem os rumos.
O tempo não concerta.
O tempo escorre,
E com ele nossos planos.

Sinto que posso ser melhor.
Sinto em ti uma tristeza que meu toque não cura.
Não há raiva.
Não existe paixão.
E o amor, bem, ele está tão cansado que decidiu dormir.

Só resta carinho por antigas fotos.
Não há pesar.
Não há culpados.
Não há o que não há.

Bem vinda de volta, minha vida.
Sorrisos me brindam.
Os amigos me chamam
E corações dispostos me aguardam.

Como uma parte minha que fostes,
Amo-te como deveria.
Só peço-te que fuja, Amélie.
Pois a solidão aguarda por aqueles que a perseguem.
E ainda espero te encontrar bem longe dela.


Por Yuri Pospichil

3 comentários:

  1. Tudo
    Nada
    Escolhas

    E a verdade é que só ficamos com o desejo alheio de que fiquemos seguros por um Deus muito falado e pouco conhecido.

    Tens a cara de pau de me falar que sou bom com as palavras. Será que consegues ver o quanto trata as palavras de uma forma muito mais sutil que a minha?

    A crítica não é para ti; mas para nós.
    Percebes como não conseguimos fugir de nossos temas inspiradores? Até quando a nostalgia fará parte de nossas vidas?

    "Poetar" sobre nossos comflitos me parece uma boa forma de manter o equilibrio que tanto defendo para o alcance de algo realmente concreto.

    Como sempre; uma obra lindíssima.
    Fique com Deus!

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  2. è verdade, parece que não conseguimos nos livrar dessa inspiração "maldita", recorremos a fantasmas para escrevermos boas linhas.
    Não que seja ruim, mas enfim, concordo que temos que mudar o disco, escrever sobre o futuro seria talvez um bom começo! rsrs

    E não é cara de pau, tu escreves de forma magistral, realmente roubo tuas linhas sem tu nem perceber..hahaha.
    E nem adianta pedir, continuarei com meus furtos sempre que me der vontade! =p

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  3. Linhas tão profundas e sutis me fazem viajar em um mundo perfeito, ou não tão perfeito.
    Tuas palavras faz com que a gente vá ao encontro do nosso interior, fazem penetrar e absorver cada palavra que escreves, com fome e sede...

    Te admiro Yuri!
    Beeeijos meu querido!

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