quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Trecho de "Noturnos - O Final Em Dez Capítulos"



(...) Quando caminhávamos pelo cemitério em dias de ventania, entre as lápides era só vento. Tudo era antigo. Até mesmo as fotos de criança envelheciam com o sol. Tudo era póstumo. Até mesmo nosso presente. Tudo era depois. Eles andavam querendo divertirem-se com os nomes esquisitos, apostando quem encontraria o morto mais antigo. Eu andava esperando encontrar o nome do meu pai em algum túmulo. Enxergar a foto dele. Conhecer o rosto que me negou de conhecer. Que há muito tempo foi queimado nos álbuns de fotografia. Nos porta-retratos são apenas dois. Ela e eu. Centralizados na imagem. Tentando inutilmente suprir o vazio que o segundo deixara desde o dia em que partiu para ser o primeiro de alguma outra mulher sem terceiro. Acho que fui um fardo pesado demais para ele. Sei que fui pesado demais para ela também, mas nunca falou. Ela nunca falaria. Mas eu percebia. Enxergava meu peso nas rugas de seu rosto. Cada calo nas mãos cansadas eram um pouco mais de mim que ela precisava suportar calada. Com falta de ar ela parecia mais triste, e tristes morremos mais rápido. Tristes, não passamos de fumaça em madrugada vazia. Por isso na noite em que ela se foi, tudo era frio. Tudo era fim. Tudo era tarde demais (...)


Por: Rimini Raskin

3 comentários:

  1. Trecho de meu primeiro romance, ainda em processo de criação.

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  2. Adoro o clima envolvente das tuas histórias. A leitura é sempre gostosa e emocionante. Textos nostalgicos tem sempre um efeito sobre mim. Parabens yu pelo teu primeiro romance. Bj rogers

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