Santos de coração sujo e pés enlameados
Ocas imagens ansiosas por engolir
todo o ouro das manhãs sagradas
Ocidentais amargores cerebrais
devorando carne gelada
nas madrugadas primordiais do pensamento
Embriagados de vinho e juventude ancestral
por ruas e muros astronômicos
tagarelando convulsos
por medo da magia negra do tempo
--------------------------------------------
Ali, que sabíamos da vida
senão varrer calçadas imundas com as solas
de nossos sapatos?
Que poderíamos saber, com frio e risos de cumplicidade
por uma maldita realidade em comum?
--------------------------------------------
Tolos santos de coração etílico e pés de barro
Olhos semi-cerrados contra a ventania fantasmagórica
que feria quem nela pudesse enxergar os espectros negros de Satã
Clamando por Salvação durante o dia depois de ter encarado no escuro
a face de fogo de Moloch em sua ânsia por devorar almas infantis
com a capacidade de inspirar
Santos acuados pelo terror de que a doença cegasse os olhos da mãe
Que o pai morresse como naquele pesadelo em que as contas
não paravam de chegar pelo correio exigindo pagamento
Santos com a família na merda, cerveja e cigarros
Dependentes da caridade humana, comida e sapatos
Prostrados, de cabelos longos e olhos cheios de curiosidade
E então, seguir adiante
Montados em motores de sonhos e quilômetros rodados
Datas, estradas e tudo mais que nos deixasse o mais longe possível
dos caminhos pisados à exaustão
-----------------------------------------------
Mas o tempo é um criminoso nato. Um bruxo inatingível que rouba e mata corações ao conceder-lhes pequenos confortos - regalos ilusórios - que nos distraem enquanto a mão gelada de Beatriz segue seu rumo devastador de separação. Pobres querubins empoeirados de beira de estrada, extraviados cedo demais no caminho para o paraíso. Onde quer que estejam, quem quer que sejam, tenham o rosto que tiverem
- Que os caminhos lhes voltem a ser dourados uma última vez-
Por: R. Raskin