domingo, 30 de setembro de 2012

Santos



Santos de coração sujo e pés enlameados
           Ocas imagens ansiosas por engolir
    todo o ouro das manhãs sagradas
Ocidentais amargores cerebrais
            devorando carne gelada
    nas madrugadas primordiais do pensamento
Embriagados de vinho e juventude ancestral
             por ruas e muros astronômicos
    tagarelando convulsos
por medo da magia negra do tempo

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Ali, que sabíamos da vida
senão varrer calçadas imundas com as solas
de nossos sapatos?
Que poderíamos saber, com frio e risos de cumplicidade
por uma maldita realidade em comum?

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Tolos santos de coração etílico e pés de barro
            Olhos semi-cerrados contra a ventania fantasmagórica
     que feria quem nela pudesse enxergar  os espectros negros de Satã
Clamando por Salvação durante o dia depois de ter encarado no escuro
            a face de fogo de Moloch em sua ânsia por devorar almas infantis
      com a capacidade de inspirar
Santos acuados pelo terror de que a doença cegasse os olhos da mãe
            Que o pai morresse como naquele pesadelo em que as contas
       não paravam de chegar pelo correio exigindo pagamento
Santos com a família na merda, cerveja e cigarros
            Dependentes da caridade humana, comida e sapatos
       Prostrados, de cabelos longos e olhos cheios de curiosidade

E então, seguir adiante
            Montados em motores de sonhos e quilômetros rodados
       Datas, estradas e tudo mais que nos deixasse o mais longe possível
dos caminhos pisados à exaustão

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Mas o tempo é um criminoso nato. Um bruxo inatingível que rouba e mata corações ao conceder-lhes pequenos confortos - regalos ilusórios - que nos distraem enquanto a mão gelada de Beatriz segue seu rumo devastador de separação. Pobres querubins empoeirados de beira de estrada, extraviados cedo demais no caminho para o paraíso. Onde quer que estejam, quem quer que sejam, tenham o rosto que tiverem
- Que os caminhos lhes voltem a ser dourados uma última vez-


Por: R. Raskin

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