Sempre achei que fosse sobre estar sozinho - ou pensar estar - procurar algo nas multidões do meu vazio sentimental, algo além do desejo de cura espiritual e um propósito maior que a dor. Achei que a luz azulada banhando o asfalto novo devorado pelas rodas desse ônibus pudesse me fazer dormir sobre as páginas subterrâneas do escritor sem vírgulas enquanto pequenos anjos adolescentes seguramente voam ao lado da minha janela para sussurrar segredos e mistérios que meu coração não consegue mais abrigar.
Deformado, intragável e ao mesmo tempo pouco me fudendo para o espelho, minha alma anseia por uma santidade barbuda de roupas simples e olhar profundo, mas ninguém canta para embalar meu sonho, ninguém nunca me segura nos braços e eu, tolo, sigo em frente achando tudo tão normal, durão fingido com o peito peludo encarando quem passa como aquele que poderia salvá-lo mas está muito ocupado no momento. Quantas vezes assisti o espetáculo calado? Quantas vezes levantei sem denunciar o tombo? "Ok, não foi nada" era sempre o que repetia até me convencer da nova mentira contada. Todas aquelas noites de porre me sentindo um merda na volta pra casa, porque é isso que o álcool faz, e quem não perceber é porque é um merda ainda maior.
Dominar o vazio exige esse desapego sacro de poeta russo que me é tão doloroso atingir, talvez o tenha sentido algumas vezes, nos olhos de um bebê que de tão puro me fez chorar 15 minutos ininterruptos e quase choro agora outra vez por lembrar daquele brilho divino capaz de cegar minha visão de mundo material e me colocar em contato pela primeira vez com o nirvana; Mas depois disso parece tudo ainda mais confuso por reconhecer que a perfeição é confusa e aceitar a confusão é perfeito e confortante, mas aceitar o vazio é complicado, lutar por aceitá-lo como uma ideia, como todas as outras, abstrata, exige de mim muito mais do que só uma boa capacidade de interpretação.
Então como proceder? Seguir adiante nesse mundo desolado que eu acredito ficar melhor à cada manhã - e realmente acredito nisso - me adaptando e me enquadrando e me escondendo sobre a túnica pesada da conformidade ou abrir mão de toda uma mentalidade ocidental criada em prol da recompensa material e afirmação social por base de acúmulos e desperdícios?
Nenhuma maldita montanha para escalar, apenas tempestades do lado de fora e um desejo incontrolável de voar...sempre...mais...alto
Por: Raskin
Acho que compartilho um pouco desse vazio. Um buraco negro que alimenta-se de coisas e momentos que passam e o deixam quase sempre como antes: vazio. Uma ânsia de buscar algo em algum lugar, e encontrar esse algo, para então sentir que tudo se encaixou perfeitamente. Nossa vida as vezes parece como um quebra cabeça de milhões de peças. As vezes a gente sabe bem a imagem que está montando, mas de repente se surpreende com a imagem que surge adiante. Mas parece que pra quase todas elas sempre falta uma peça. E talvez isso seja porque o quebra cabeça nunca foi apenas 2D, mas sim 3D. Talvez devêssemos procurar peças que poderiam se encaixar mais acima ou abaixo da visão plana que temos das coisas. No fim, essa ânsia talvez nem mesmo dê em nada, mas sem dúvida é o que nos mantêm vivos, ou nos mantêm sobrevivendo. Parar de buscar e aceitar o vazio inteiramente, sem nem ao menos sentir-se revoltado por isso, é o que imagino ser chamado de morte psíquica. A verdade é que nunca foi fácil, mas também nunca foi tão difícil que não pudesse ser levado adiante. É como aquela história de cruz, que nunca nos é dado uma que não possamos carregar, só que bem menos dramático. Por que de uma certa forma, tudo é meio que efêmero, mas ao mesmo tempo, belo, e poético.
ResponderExcluirÉ a busca que nos empurra, a inconformidade. Eu tento não exteriorizar tanto as minhas angústias e soluções. Cada dia me convenço e trabalho mais para que tudo seja resolvido no meu íntimo, no meu espírito, o mundo é apenas uma projeção da alma, basta eu mudar a luz que emito para receber a claridade que desejo. É difícil, dói, machuca, cansa....mas é vivo.
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