quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Dualidade



No atormentado coração adolescente do protótipo de poeta libertino
nas esquinas mornas de pequeninas cidades subtropicais
na rebeldia nórdica de alvura desafiadora
na pureza africana cuspindo-nos na cara milênios mágicos
nas mentes greco-romanas maquinadoras de séculos
nos impérios tribais pré-colombianos erguendo sangue virgem aos céus
nas mãos fortes e seminais dos primeiros homens das cavernas
na bactéria aquática quântica peixe réptil mamífero alado
nas estéreis histéricas bombas nucleares
nas circundantes metálicas sondas espaciais
na paixão assassina de psicopatas gélidos
nos noturnos vícios desregrados e imorais do pensamento livre
nas tentações demoníacas à minar os alicerces dos bons costumes
no vaso verde de vermelhas flores sobre a mesa
no bondoso olhar cansado dos mais velhos que já viram muito só não viram tudo
no aperto de mãos que sela um compromisso de cavalheiros
na face angelical de bebês recém saídos do útero
na compaixão
no amor fraterno
no limpo e iluminado abraço materno
nos bons hábitos de higiene
nas palavras doces do pastor
no sermão dominical do bom padre
na outra face oferecida ao tapa
na cordialidade esfuziante do pretenso homem de bom coração
na retidão luminosa dos que caminham durante o dia
na languidez beatificada dos filhos de Abel

No abraço criador de Abraxas


Por: Raskin

2 comentários:

  1. Isso que chamo de poder de síntese sem perder a essência. Só que não vi a dualidade... mas vi, sim, e muito, a pluralidade da vida. Um caleidoscópio vivo e intenso, plural, mas visto de longe, homogêneo.

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    1. Fico feliz por ti, afinal não enxergar a dualidade é a melhor forma de saber que estamos no caminho certo em direção ao auto-conhecimento. Cada coisa carrega em si muito mais do que apenas um lado, e a vida é sempre mais complexa do que se pressupõe. Obrigado pelo teu comentário, Rogers.

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