quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Sobre a paixão e seus doentes


Há nos amantes uma loucura sórdida.
Um amor pelo sofrer e uma propiciedade à dor gratuita.
Tornam-se mais apaixonados à medida que suas aflições aumentam.
Passam a não mais dormir noites completas, assumem poses ridículas, criam ilusões de posses e uma falsa idéia de que o mundo se encontra por completo no ser amado.
Alimentam-se de sobressaltos, adquirem a desconfiança e a fragilidade de pequenos cães que amam mais seus donos à medida que vão sendo maltratados.
Reside no coração apaixonado tudo de mais vergonhoso, tudo de mais infantil e digno de pena.
Os amantes não mais vivem suas próprias vidas, andam de um lado para o outro como zumbis paranóicos à imaginar os passos do objeto de adoração.
Acabam por terem a idade reduzida ao ponto de encabularem-se com palavras ou simplesmente a presença do ser que dá razão à sua existência.
Afastam-se do que realmente importa, perdem quase por completo a afeição por suas amizades, tornam-se fantoches nas mãos da pessoa amada.
Não existem senão pelo prazer de ganhar um pouco de atenção do ser à quem dedicam todas as suas forças.
A paixão é um perigo inevitável, um inimigo íntimo necessário.
Nos pega de assalto e derruba todas as defesas, é impossível percebê-la à tempo de derrotá-la,
não que devêssemos negá-la, mas deveríamos ao menos ganhar o direito de aceitá-la aos poucos.
Mas não, a paixão é um governo tirano e possessivo, não há como desobedecê-la sem pagar um preço alto, é um parasíta que nos mantêm refêns de suas vontades, um senhor de engenho que atira migalhas à seus escravos em troca de sorrisos débeis e servidão.
A paixão é cruel e ao mesmo tempo linda como uma manhã de inverno, aguça-nos o olfato, a memória e a visão, eleva ao êxtase ou reduz à quase-morte nossos batimentos cardíacos, é inevitável como disse antes, é bela, arrebatadora, opressiva, redentora, é um banho frio no inferno, a água quente no inverno, mentora mentirosa, falsa profeta do eterno, uma torturadora com o poder de permitir-nos amar ou afogar-nos na lama da decepção.
Não existe parecer racional quando se está apaixonado, não existe sequer a razão, consciência não combina com emoção, auto-controle torna-se uma piada, não existimos como unidade diante da paixão, nos tornamos cobaias nas mãos de um destino sem nenhum futuro aparente.
Por isso, amantes da paixão, é a vocês que venho por meio destas linhas fazer um alerta.

Com sorte encontrarás o amor, o verdadeiro sentimento, não a farsa da paixão.
Encontrarás a plenitude, o carinho sem posse, o olhar sem dor,
o sorriso sem medo e as noites de sono.
Do contrário, serás mais um à chorar os estragos causados por uma experiência que mais traz a fome do que a satisfação.


Por: Rimini Raskin

Um comentário:

  1. "Com sorte encontrarás o amor, o verdadeiro sentimento, não a farsa da paixão,"

    Lindas palavras Yu.
    E eu resumo:

    O Amor liberta o ser amado
    A paixão aprisiona o objeto de desejo.

    Se as pessoas soubessem que não possuímos nada e não podemos ser possuídos por ninguém; saberiam então o que é o amor e que a paixão não passa de ilusão.

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