segunda-feira, 30 de maio de 2011

Rotinas de quem não existe


É essa minha mania de achar noventa e cinco por cento da humanidade patética e entediante.
É esse meu costume de beber sentado, falar alto e rir sem motivos quando me divirto.
Minhas hipocrisias corriqueiras que renomeei para "crescimento".
É esse meu desapego ao ato de impressionar quem quer que seja.
De não fazer a barba todos os dias e falar pelos cotovelos quando meus ouvidos não se interessam por nenhum assunto que possa ser discutido pelos presentes.
É esse meu hábito de querer sair da estrada pela sensação de tentar chegar ao meu destino por caminhos que ainda não existem.
De não ser regrado, de não gostar de pressão, de responder atravessado, de ser debochado, de esquecer as datas e deixar tudo para a última hora.
Minhas fantasias de grandeza sempre carregadas de verdades incompletas.
Minhas mentiras frequentes, sempre usadas com o intuito de não ferir ou me ferir.
Poder ser e não querer, sonhar com a normalidade enquanto a maioria busca o diferencial.
De invejar o mais sujo e feio dos homens ao ponto de ser detestável mas nunca imperceptível aos sentidos daqueles que cruzarem meu caminho.

E tudo isso para depois dar uma risada e perceber que estou mais uma vez criando um personagem, que junto com outros tantos, um dia irá ser esquecido em um canto qualquer da minha memória.


Por: Rimini Raskin



terça-feira, 17 de maio de 2011

Antes de Mais Nada


Não, não te amo.
Tão pouco estou louco por ti.

Então por que deverias tu sentir-se feliz?

Pois respondo com a calma de uma tarde de sol,
Tu tens de mim coisa muito maior que o amor ou a loucura.
Isso outras antes de ti obtiveram e atiraram ao vento.

Tu não, contigo é diferente.
Tens minha paz e minhas mãos quentes em teu rosto.
Tens meu carinho e equilíbrio perante um futuro sem pressa.
O que já foi, se foi.
O que passou, passou.

Agora estamos juntos como imperfeitos que somos!


Por: Yuri Pospichil



A Luz Que Queima Nos Eleva ao Absurdo


Ele caminhou ao contrário das pernas
E assistiu morrer o sentimento ruim
E gritou tão alto que nenhum ouvido o escutaria.
Fez o silêncio da palavra ensurdecer a rua de pedras brancas
E viveu aquilo que ninguém nunca o havia negado
E saltou tão alto que as formigas olhariam suas patas para vê-lo voar.
Desprendeu-se da matéria morta que sufocava o espírito
E mergulhou em desertos tão imensos quanto grãos de soja
E praguejou amores impossíveis contra muros de seda.

Vivo como uma rocha milenar...
...Assistiu a história ser feita antes de rolar sobre o mundo.
Singelo como um olhar...
...Observou o horizonte dissipar-se sobre a palma da mão direita.

Era livre para não ter medo do que não existe
E assim o faria enquanto fosse possível!


Por: Rimini Raskin







segunda-feira, 2 de maio de 2011

Nanquim




Sou um Deus e trago em mim todas as possibilidades.

O rosto que esconde, o coração que omite, mãos que não tocam
E olhos que revelam mais do que deveriam, sou eu.
Alma aprisionada à vulgaridade da existência humana.
Um messias de porra nenhuma.
Rastejando na imundície da minha própria consciência
Para roubar inspiração de um emaranhado de memórias olfativas.

Sou um Dandy do fim do mundo.

Revelo meu nome à bocas vazias e me entrego à esses
Vermelhos baús de fechadura arrombada
Que guardam segredos mais afiados que as facas
De um assassino em série.

Sou o último Rei de uma terra sem rosto e sem raça.

Um ator, uma mentira e um poeta.
Ou todos eles juntos e ao contrário se assim desejar.
Um pássaro de neón azul exposto à luz de mil sóis.
A força de imaginar em silêncio.

Mas acima de tudo...

...Sou tua incapacidade de desmentir ou confirmar sequer uma vírgula deste texto.


Por: Rimini Raskin