segunda-feira, 19 de agosto de 2013

POA-TE


As lojas de peças para veículos
Enegrecidas pela fuligem
Compondo paisagens intragáveis
Alternam-se de tanto em tanto
Para dar espaço a locadoras de vídeo
Ou algum cinema pornô recém incendiado
Bugigangas e quinquilharias
Aposentados panfleteiros
Bancas de verdura fresca
Pressa e pressa
Presas fáceis para batedores de carteira
E aleijados esmoladores
Crianças índias comendo batatas fritas do Mcdonald
Executivos de cavanhaque ensaiando ataques cardíacos
Cegos vendedores de bilhetes de loteria
Passeatas de professores tilintando sinetas ensurdecedoras
Pichações maoístas sobre a cabeça de mendigos ignorados
Arquitetura esquecida derrubando suas marquises diante dos pés de quem passa
Pasteis gordurosos de cinquenta centavos acompanhados de um copo de suco
Passeio no cais para assistir o sol mergulhar no Guaíba
Enquanto casais de mãos dadas observam tudo de maneira apaixonada
Venta sempre mais forte perto do rio
E escurece cedo no inverno
E os shoppings lotam
E os hospitais ficam sem vagas
Mas quando cai a noite
Com meu poema em ereção
Penetrando corações despedaçados
Doces prostitutas colocam os filhos na cama com um beijo na testa
antes de encarar outra vez o gelo da madrugada.


Por: Raskin

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