É de vagar, devagar, divagando, de vagão em vagão,
Que me faço homem.
Feito planta em temporal, completamente atemporal,
Que não sabe o quanto, mas o tempo faz.
Que não sabe o tanto, mas que o vento traz.
É de viajar, e de ver e de andar, sem prumo e sem lugar,
Que me faço outro.
Feito homem ocidental, sem luz no topo do crânio.
Que não sabe o pranto, mas que se derrama em dor.
Que não vê o sol, mas sente na alma o calor.
É de não saber, e de querer, mais do que o corpo aguenta,
Mais do que a mente sana, que a dor ensina, que o sangue ferva.
É de não ser senão estar.
É de olhar sem foco, sem tato e sem gosto definido.
É de não amar os sinos, aprender os ritos e queimar as vestes.
É por tudo isso, por todo esse nada, solidificado,
Que me faço traço, que me faço verso.
Que me levo à sério na grande piada do universo.
Outro cão, outra noite de trago e de calçada suja.
De carne fria e gordura, de cervejas quentes abertas à dente.
De passado vindo a tona com suas mulheres nuas.
Outras histórias que não serão contadas, banhadas a álcool e cana.
Tilintantes, incompletas, perfeitas se vividas ao contrário.
De ponta cabeça, como se sente o bêbado ao deitar-se na cama.
Por: Raskin