Penso na morte
como um velho cansado
que calça os sapatos
e veste a melhor camisa
toda manhã
Penso na morte
como esse velho doente
de cueca branca e cigarro na boca
passando à ferro uma calça de linho
toda noite em que não vai dormir
Barbeado e bem vestido para puxar gatilhos
afiar lâminas e esvaziar garrafas
em dias e noites que não enxergamos passar
ocupados com futilidades e contas de luz
Penso na morte
como um funcionário mal remunerado
descontente por fazer o serviço sujo de Deus
incompreendido
deprimido pelas más interpretações
Vagando por becos e vielas
cafés iluminados e mesas de poker
sentado à mesa do cidadão comum
descansando na cama do magnata
parado sob os postes, soprando as luzes do semáforo
rondando escolas, sentado a beira da estrada
passeando pelo lado escuro da mente de ditadores
no controle das mãos dos assassinos passionais
e línguas de poetas loucos
Vagando mascarado
em uma cidadezinha quente no interior do México
No geral, é assim
Penso na morte
como um velho subordinado
que se lamenta por não ter tempo para si
Consumido pela inveja
de não poder apostar em cavalos
ou perder tudo em uma mesa de jogo
sabendo que jamais terá o coração partido
em uma noite de inverno
Eternamente fadado à amargura de se reconhecer necessário
e inevitável
Por: Rimini Raskin