quinta-feira, 1 de março de 2012

Sleep: 60 min.




Tocam a campainha, já não sei que horas são. Mas é noite, eu sei porque olhei por uma fresta da cortina. Sei que é um pouco tarde, o mercadinho da esquina já fechou, posso enxergar daqui do quarto andar. Continua tocando, maldição. Deve ser algum vizinho, um testemunha de Jeová, talvez. Seja lá quem for, é insistente e acordou o cachorro do apartamento em frente. Talvez seja importante. Pode ser o sindico querendo me entregar a correspondência ou um policial para dar uma noticia de morte. Uma intimação, uma ordem de despejo, quem sabe. Não para de tocar e agora bate na porta. Deve ser sério, algo urgente, talvez alguém vindo informar que ganhei uma herança de um tio distante que não conheci. Talvez seja a mulher do apartamento ao lado querendo ajuda para consertar o chuveiro, ou uma velhinha precisando de uma xícara de açúcar. A campainha não para, e além de bater na porta, agora chama meu nome. - Tem uma voz agradável, lembra o timbre do Scott Walker – penso. Quem sabe possa ser um cobrador, aqueles malditos não perdoam dívidas de jogo, era questão de tempo até me acharem. Mas chamam por meu nome completo, meu nome de verdade, não podem ser os cobradores nem os agiotas. Talvez seja um amigo de infância que decidiu fazer uma visita e perguntar como me sinto. – Bobagem, não tenho mais amigos, ninguém do passado sabe que moro aqui. – refuto de imediato a ideia. Deu uma pausa. Acho que se foi. Mas não, merda. A campainha agora toca sem intervalos, o cidadão aperta e segura a chave fazendo o aparelho berrar a todo volume. Bate na porta com violência incitando a fúria do vira-latas que a essa hora já acordou o prédio inteiro. Me chama mais duas vezes e depois silêncio.

Ainda consigo escutar os passos pesados e irritados se distanciando no corredor.

– Que loucura, seria Jesus vestido de mendigo para testar minha fé? – 


Por: Rimini Raskin

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