sábado, 31 de março de 2012

O velho de chapéu preto as vezes chora atrás das cortinas, mas ninguém ouve



Penso na morte
como um velho cansado
que calça os sapatos
e veste a melhor camisa
toda manhã

Penso na morte
como esse velho doente
de cueca branca e cigarro na boca
passando à ferro uma calça de linho
toda noite em que não vai dormir

Barbeado e bem vestido para puxar gatilhos
afiar lâminas e esvaziar garrafas
em dias e noites que não enxergamos passar
ocupados com futilidades e contas de luz

Penso na morte
como um funcionário mal remunerado
descontente por fazer o serviço sujo de Deus
incompreendido
deprimido pelas más interpretações

Vagando por becos e vielas
cafés iluminados e mesas de poker
sentado à mesa do cidadão comum
descansando na cama do magnata
parado sob os postes, soprando as luzes do semáforo
rondando escolas, sentado a beira da estrada
passeando pelo lado escuro da mente de ditadores
no controle das mãos dos assassinos passionais
e línguas de poetas loucos
Vagando mascarado
em uma cidadezinha quente no interior do México

No geral, é assim

Penso na morte
como um velho subordinado
que se lamenta por não ter tempo para si

Consumido pela inveja
de não poder apostar em cavalos
ou perder tudo em uma mesa de jogo
sabendo que jamais terá o coração partido
em uma noite de inverno

Eternamente fadado à amargura de se reconhecer necessário

e inevitável


Por: Rimini Raskin

Um comentário:

  1. Já eu, penso na morte todos os dia.s
    Todas as noites e tardes que tenha livre para pensar.

    A morte me é como uma fixação indesejável.
    Quase somos unha e carne, ou algo assim.

    Talvez, a paixão que mais temo possuir.
    Penso nela quando deito a cabeça no travesseiro.

    As narinas logo vão se fechando como se o ar faltasse.
    Penso porque me é curioso saber de onde vim,
    mas ter dúvidas de para onde irei.

    E, o mais intrigante de tudo é que, há o risco
    de haver nenhum motivo para tudo isso.

    Vida e morte andando de mãos dadas a cada segundo,
    desde o início de tudo.

    Então, penso em mim como a bomba
    que a cada tique taque chega mais perto de explodir.

    Mas a morte, creio eu,
    é como explodir pra dentro de si, e ao contrário.

    Um Big Bang reverso!

    Mas sim, há várias formas de sentir-se morto,
    E uma delas é não sentir-se vivo (quando se deveria estar).

    Talvez, essa morte seja pior que aquela em que se morre
    e nada se saberá ou sentirá, pois deixa-se de existir (quem sabe).

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