Chove no pequeno purgatório natal
e as borboletas não aparecem por aqui há dias
as crianças não mais correm descalças no asfalto quente
ou lutam nos gramados para provar quem é mais macho
Chove no pequeno purgatório vital
e eu só posso contar à ela um punhado de aventuras inúteis
das tardes nos fliperamas e sinucas que vendiam cerveja choca para os guris da redenção
É tanta água na ilha dos sonhos esquecidos
que o relento é o melhor abrigo para quem assistiu os puteiros transformarem-se em igrejas
e os velhos morrerem ou morrendo ou arrastando-se rua abaixo
Não é raro encontrar nos ônibus um camisa preta dos meus tempos
bêbado e gritando que só sai daqui em um caixão
Imbecil, já está morto e não sabe, sempre esteve
Agora também eu estou de volta à esse Hades suburbano
E se as ruazinhas de pedra não carregassem tanto charme
talvez já tivesse me deixado escorrer suave até o Gravataí
Por: Raskin