sábado, 22 de dezembro de 2012

A (NÃO) POESIA



A poesia é uma menina chorosa
que manda cedo demais a gaita para o conserto
Uma flor roxa de ipê
que a chuva carrega pelo canto da rua até a próxima boca de lobo
Uma lembrança desbotada que talvez nunca se apague
diante das velas crepitantes da desesperança humana
A poesia é uma palavra que dança na mão que alcança
o verso contido nas pequenas coisas
É a naturalidade da rima rota e disforme
da vida louca de criança
Acordar é poesia, amar é poesia, discordar, minha querida,
também é poesia!

O sexo, a noite, o dia, o banho de rio, apartamentos de fundos,
despertadores quebrados, o beijo, os livros sagrados,
travesseiros, a fome, o frio, o gozo, as ruas, pontes, viadutos,
árvores de maçã, vermes de goiaba, velhinhos asmáticos,
os estudantes ofegantes em uma aula de educação física,
o (TUDO) e o (NADA), (não) (é) POESIA

Até o ar que não se enxerga, mas que se sente na pele,
que se escuta assustado no quarto da infância enquanto uiva lá fora
nas tardes frias do minuano invernal,
(Não) É POESIA!

Por isso acreditei em Leminski, lá atrás, quando me convenceu da nossa inutilidade,
nessa nossa incapacidade de desistir dos devaneios da ilusão.
Pois poesia, em suma, minha pequena, é tudo aquilo que não carece explicação.


Por: Raskin


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