terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Poema de boca cortada



Ele nunca vai poder reclamar,
falar que não sou um bom amigo.
Pode até não conversar mais comigo
ou me olhar na rua

Ele nunca vai poder duvidar
que ao menos fui sincero
que enquanto ele dormia ela passeava de calcinha na sala
sabendo que eu não dormia

Maldição de mulher,
me ligando enquanto ele estava no trabalho
e eu não querendo estragar nada
eu não

Me mandou um bilhete uma vez
A irmã entregou
A irmã que eu já conhecia bem

Mas eu não

Caralho, não quero saber se os dois não dormem na mesma cama

Eu não

Mas ele sim
me acorda no meio da noite,
quer conversar
falar que já sabe de tudo
Que mandou ela embora

Por que eu não contei nada?

Eu não...

A mulher não é minha
mesmo que tenha vindo bater na minha porta na noite seguinte,
dormido comigo em um sofá velho
ou dividido um quarto com o papa-léguas e a namorada estranha dele

Depois de um tempo eles voltaram
Mas eu não

Eu acabei gostando dela
das mentiras e das vontades de ser o que eu já era
A questão não é quem somos
Era quem eu representava
Eu era o desapego
o anti-amor bêbado
trazendo a aurora com as costas e os joelhos queimados do carpete
enquanto ela vestia minha camisa e gozava pedindo perdão

Não vou mentir
que a situação me divertia,
Mas isso antes da merda da consciência me acertar em cheio na cabeça
e eu deixar de ser fiel ao meus desejos

Creio que ele não deva me odiar,
mas se pergunta
eu também me perguntei várias vezes.
Sei que deveria,
que poderia ter contado no início

mas eu não...

E quando, depois de tudo,
for 3:40 da manhã no futuro,
eu estarei pensando pela última vez,
que aquele presente merecia silêncio
e uma boca cortada na borda do meu copo de vinho...


Por: Rimini Raskin

Um comentário:

  1. Merecia uma boca cortada, um sangue vinho que derramava pelo corpo e a alma da outra que dele se embevecia.

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