segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Uma coisa é simples, uma tinha cheiro, a outra não


Ela bateu na porta do meu quarto
Não lembro que horas eram,
Deixaram ela entrar.

Roupas de loja de conveniência
Um pouco largas no corpo magro
De peitos pequenos

De cabelo curto e uma carteira de cigarro no bolso
De desejo pré festa
De colchão no chão para não ranger a cama de ferro

Os ônibus na madrugada
não são muitos
Carregam poucos, extraviados ainda cedo
Embebedados por antecedência

Eu não conheço a festa, ela tão pouco
Quem leva é um amigo, quem convida é ele
Quem nos coloca na fila e cumprimenta o travesti na porta

A música é péssima,
A cocaína no banheiro unisex
é uma droga
A velha que tenta me vender pastilhas
é uma droga
Mas a pequena é quem eu escolhi para passar esse aniversário
Me esforço por ela que se esforça por ele

Mais tarde vou ganhar meu presente
No banheiro nojento
Sem papel
De chão escuro e grudento

E as portas não tem tranca
E alguém nos espia
E nos pede para entrar
Mas eu não deixo
é meu presente

O amigo deve estar no darkroom
Com um cara baixo e forte que ele viu na pista
Vejo uma vizinha no sofá com um cara
Me olha com cumplicidade
e tesão de reconhecer alguém

A música realmente é uma droga
O filme pornô no telão
é uma droga
A dançarina gostosa
é uma droga
Minha namorada ligando a noite inteira
é uma droga

Não gosto que encostem em mim
Nem quando aceito comprar água
para o cara passando mal,
pastilhado demais
talvez

Ela passou na porta por mim.
Linda, quase uma criança
Mas aqui dentro ela não é
Não tem peitos

Fico bêbado com cerveja cara
volto pra casa que não é minha
É do amigo
E ela dorme no meio
até eu acordar

É meu aniversário e estou de mau humor
Com as costas arranhadas
Uma namorada chorona que não entenderia
Que não era com ela que eu passaria a noite passada
que não era com outra senão aquela
de ontem

Hoje eu sou dela
E a outra me liga chorando
reclama que fui um cretino na pizzaria mais cedo,
que me odeia...

...Enfim algo em que ambas concordam.


Por: Rimini Raskin

Um comentário:

  1. FORTE.
    Mas com um capricho, até uma arrogância no modo de falar/escrever - no bom sentido.
    Cara... MUITO bom, como sempre!
    Relato ou história, de qualquer forma, muito bom!

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