quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ode ao meu pau duro



Homenagem à minha torre de Pisa
minha pissa
companheira de noites gostosas
solidões desastrosas
Meu saxofone
entregue aos lábios
da menina antes da festa

Sufocado
perseguido
por falsos moralismos
escondido

E por quê não?

Por quê não deveria eu
caminhar na rua
com a vara dura?

Por quê não?

A senhora que se choca
é a mesma que deseja na boca
o leite morno dos tempos de moça
É a mesma que roça a xoxota
com o chuveirinho
e lambe os beiços às escuras
quando o entregador de pizza
lhe toca suave a campainha

E então?

Por quê não?

Ah, meu companheiro
desbravador de cavernas
peço que jamais me deixes na mão
Deixes isso para quando eu já estiver muito velho
de cobra mole
indo aos puteiros
mentir a mim mesmo

Nunca irei entender
o por que de toda essa vergonha
Obrigados a andar por aí
como se na cueca levássemos uma pistola
sendo que a munição é puro amor

Nas calcinhas
aprisionadas
todas as rosas
cheirosas
que deveriam aos ventos
florescer sem dor

Caralho
Boceta
Tão normais
completamente naturais
ao ser

E então?

Por quê não?

À eles e à elas
Aqueles e aquelas
que me enchem tanto o saco
mais do que os pentelhos
À todos esses
os envergonhados
deixo essa homenagem
na forma de pau sempre ereto
no escuro e fundo de seus retos
para todas as vezes que pensarem:
- "Que horror!"


Por: Rimini Raskin

terça-feira, 29 de maio de 2012

Opium



Estou deitado na cama
e um raio de
sol-luz-quentura
brada
branda e
de branco
me cega o olho esquerdo

Desfaço-me antes de
reagrupar novamente
líquido ou
denso
tal qual
mercúrio em
bandeja de prata

I want More
and More
Wants me
Please, Miss Pussy
Let me In
To More
and More
Wants me
Miss Pussy
Please
Let me...

Estendo a mão
e a luz
agora é sombra
repousada em
cegueira que
passageira parte
da mesma estação

&
nesse espaço
(vazio)

Penso que...talvez não...
Mas, digamos que seja real
esse ato de pensar
que de negro deveria banhar-se o mar
a cada pensamento que
possivelmente não seja...

E fico na espreita...
Na espera do ouro de toda manhã
O abrigo nos olhos do Buda
profundos e reluzentes como
um presente
de candura elevada
às mais puras esferas da consciência
ou total falta dela

Ah, esse paraíso...
Que não existe
no preciso momento em que
minha boca
se torna capaz de pronunciar

Talvez ele chame
Poesia
Estrada
Loucura
Talvez soe
como os barulhos da noite
quando eu deitava
no campo
para me olhar nas estrelas
Ou ainda,
é possível que
não chame
nem soe
Nem exista além dessa cama

É contra toda minha lógica
de relatividades, eu sei...
Mas, ao voltar minha cabeça para o lado
imaginem quem encontro?

A luz do Sol
encarnada
com toda brancura
do conhecimento
ancestral
maior

Interior

Buda está aqui -
Digo em um suspiro...

(ou penso dizer)

&

Ele é perfeito & brilha mesmo quando dorme
dentro dos pequenos olhos escuros que
me fitam ao lado da cama
Eu não posso mexer mas,
meu coração dispara diante das pequenas
lanternas de chama pura e de bondade
dos sorrisos que não são dados

Me sinto leve
ao ponto de segurar-me na cama para
que não rompa com o teto
dessa vida
longe...
longe..

&.

Embora eu saiba que
no próximo passeio
os cães da vizinhança seguirão 
enfurecendo-se ao me ver passar
tão miserável
com meu lobo mostrando-lhes
os dentes...
Agora,
ao menos tenho a
certeza de que
esse pequeno deus
terá sempre o poder de me
presentear com o
perdão


Por: Rimini Raskin

Familiares Aldeias do Ser



Os distúrbios da maquinaria do dia roendo meu nariz causando convulsão em meus ouvidos.
Germes agrupando-se em meus poros & pêlos & pernas que jamais serão amputadas.
A Cidade é cosmopolita – os carros do caos atropelam a vizinhança toda.
Cerne do firmamento – nosso habitat ainda natural – instintos animais não extintos.
Meus intestinos não se adaptam a confusão de frituras, congelados & carnes empapadas ensopadas de sangue venoso.
Eu cuido deste túmulo que eu durmo e ronco até ficar rouco –
locomovido por loucos motivos que me desloca para locais inóspitos que de certa forma me agradam.
Intocado na toca na oca da tribo atribulada triturada por essa sociedade civil desgraçada!
eu não sou como você pensa, como eles pensam, como vocês pensam, como todos nós todos pensamos!
Tenho todos os requisitos para viver em comum paz superior com aqueles que almejam a serenidade –
pois passei todos os meus dias semanas meses anos horas dedicados a consulta e a idolatria dos ensinamentos de Allen Bob Dylan Thomas,
e digo. sim. e confirmo tudo que aprendi fielmente.
As faculdades mentais não me anulam – as faculdades mentais me informalizam ao mundo secreto dos belos e ignorados.
Oh Lua me diviniza! como fizeste perfeitamente aos meus bravíssimos ídolos!
Ponho meu anel de rubro rubi folheadourado escrevo & decanto & declamo para os meus amores únicos & solitários.
Sonho que estou flutuando pelos cômodos da minha casa, voando pelas nuvens arranhadas do Céu do Mar.
A tarde me despertando para agarrar a cabeleira & as barbas negras de Cristo.
E eu sossego neste Infinito nesta infinitude ou melhor numa plena miríade de bocas & bucetas.
Assim visto seu espartilho, minha Mãe!, uso seus óculos quadrados, meu Pai! – sem sapatos & meias – debalde me perco em familiares aldeias do Ser.





Por: Felipe Rey


sábado, 26 de maio de 2012

Minha Boêmia (Fantasia)





Lá ia eu, de mãos nos bolsos descosidos; 
Meu paletó também tornava-se ideal; 
Sob o céu, Musa! Eu fui teu súdito leal; 
Puxa vida! A sonhar amores destemidos! 

O meu único par de calças tinha furos. 
- Pequeno Polegar do sonho ao meu redor 
Rimas espalho. Albergo-me à Ursa Maior. 
- Os meus astros nos céus rangem frêmitos puros. 

Sentado, eu os ouvia, à beira do caminho, 
Nas noites de setembro, onde senti tal vinho 
O orvalho a rorejar-me as fronte em comoção; 

Onde, rimando em meio à imensidões fantásticas, 
Eu tomava, qual lira, as botinas elásticas 
E tangia um dos pés junto ao meu coração!






Por: Arthur Rimbaud

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Rimbaud



Nos conhecemos por acaso, nem sei ao certo como ou onde foi. Corremos entre ruas molhadas com nossas roupas surradas e cabelos ensopados. Gritei - Me espere, Arthur. - E de presente ganhei algumas palavras dos jovens olhos-azuis-lanternas-da-noite, ofegantes palavras de desconfiança. - Não podemos ser vistos juntos neste beco escuro, não seria seguro. - Ele me falou. Tratei de tranquilizá-lo no próximo instante, com meu braço ao redor de seus ombros, - Acalme-se, poeta. Não tema aquele bêbado imundo. O que o louco do Verlaine deseja de ti, à mim não interessa nem um pouco.-




Por: Rimini Raskin

terça-feira, 22 de maio de 2012

Prematuros



Lembra quando o plano era fugir para um lugar onde ninguém nos conhecesse, raspar a cabeça, as sobrancelhas e todos os outros pelos do corpo para nos sentirmos de novo como recém nascidos em uma casa onde portas e janelas estariam outra vez abertas às possibilidades? Eu lembro. E era triste conhecer o futuro antes mesmo de sair da escola.

Por: Rimini Raskin 

sábado, 19 de maio de 2012

A Barata



A barata cruza ligeira
sob meus pés
circulando móveis
da sala de estar
até a cozinha

A barata envenenada
embriagada
de perfume mortal
da nuvem de aerosol

A barata cai,
agonizante
patas imundas
voltadas para o céu da minha casa
que na cabeça da barata
não passa da extensão do esgoto
um depósito de comida
treme em transe o inseto
que pensa senão em viver
e comer quando tem fome.
Quantas aventuras deve ter
vivido a barata
quantos lugares deve ter
visto a barata
o que pensará ela
agora que se contorce?

Morre a barata
sob o olhar de nojo da minha mulher
sob as cerdas plásticas da minha vassoura.
E no fúnebre cortejo
sem qualquer honraria em direção à lata de lixo
dorme a barata
tão superiora a mim
tão superiora a qualquer um
que só sabe chacoalhar uma lata
antes de disparar veneno
em jatos mortais

Olho em volta
depois de ter lavado bem as mãos
e no armário não está mais a flor que assisti morrer
e logo também não estaremos
nenhum de nós estará.
Façamos então as malas, humanos
pois esse mundo em breve
voltará a ser delas


Por: Rimini Raskin

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Lágrimas Negras




Na frente do cortejo
O meu beijo
Forte como o aço
Meu abraço
São poços de petróleo
A luz negra dos seus olhos
Lágrimas negras caem, saem, dóem
Por entre flores e estrelas
Você usa uma delas como brinco
Pendurada na orelha
Astronauta da saudade
Com a boca toda vermelha
Lágrimas negras caem, saem, dóem
São como pedras de moinhos
Que moem, roem, moem
E você baby vai, vem, vai
E você baby vem, vai, vem
Belezas são coisas acesas por dentro
Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento
Lágrimas negras caem, saem, doem

Por: Jorge Mautner

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Não há importância no título do que não foi feito para ser levado a sério



É inútil,
é sempre
inútil.
Quando sento para escrever algo,
quando tento pensar em algo é
inútil.

Me empenho em buscar na lembrança
mulheres,
amigos,
lugares,
ou
qualquer noite fodida
que eu tenha vivido
é
inútil.

Não existe poesia possível
às 13:55
com o estômago cheio
de bacon e batatas

Não existe nada que possa ser dito
nada que os faça prestar atenção.
Imagino apenas personagens bem alimentados
sorridentes
comendo um chocolate
bebendo café
Desejosos por um cigarro.

É patético
Não porque não consigo escrever,
é patético
porque é real.
É triste
e se é triste
é
porque são 14:01
e lá fora algo interessante acontece,
algo que talvez eu teria escrito mais tarde

Mas, ok.
Sobrou café
e tenho chocolates.
Ao menos até as 17:30
posso me desperdiçar sem culpa.
O poema fica para mais tarde


Por: Rimini Raskin

terça-feira, 8 de maio de 2012

Ode ao gigante gentil



O gigante do parque
nos fala,
mas ninguém,
ninguém entende que a piada
por trás do sorriso
é uma profecia
de morte.

O homem verde
grita gentil,
contra a vida.
Desejando dormir
entre folhas cor de laranja,
marrom e ouro
que forram sua cama.

O trovão no peito,
o sarcasmo depreciativo
tentando matar em si...
O veneno contra o veneno,
o lugar vazio na mesa de natal.
As manhãs horrorosas
não querendo sair da cama.

Preto e verde
escrito nas bordas da imagem,
todos nós.
Eu, que muito jovem
me deitava na cama para escutar.
Eu, que de quando em quando,
deitava outra na cama para me ouvir,
já não tenho mais esse amigo.
E depois de dois anos,
é como se me sentisse um pouco mais surdo,
mais perto dos ventos de um outono que jamais será esquecido


Para Petrus T. Ratajczyk (A.K.A. Peter Steele) 

(04/01/1962 - 14/04/2010)



Por: Rimini Raskin