A barata cruza ligeira
sob meus pés
circulando móveis
da sala de estar
até a cozinha
A barata envenenada
embriagada
de perfume mortal
da nuvem de aerosol
A barata cai,
agonizante
patas imundas
voltadas para o céu da minha casa
que na cabeça da barata
não passa da extensão do esgoto
um depósito de comida
treme em transe o inseto
que pensa senão em viver
e comer quando tem fome.
Quantas aventuras deve ter
vivido a barata
quantos lugares deve ter
visto a barata
o que pensará ela
agora que se contorce?
Morre a barata
sob o olhar de nojo da minha mulher
sob as cerdas plásticas da minha vassoura.
E no fúnebre cortejo
sem qualquer honraria em direção à lata de lixo
dorme a barata
tão superiora a mim
tão superiora a qualquer um
que só sabe chacoalhar uma lata
antes de disparar veneno
em jatos mortais
Olho em volta
depois de ter lavado bem as mãos
e no armário não está mais a flor que assisti morrer
e logo também não estaremos
nenhum de nós estará.
Façamos então as malas, humanos
pois esse mundo em breve
voltará a ser delas
Por: Rimini Raskin
Baratas me mordam! O que uma barata pode fazer por você? Quem diria, a inspiração para ser conduzido à uma breve reflexão. Esses dias mesmo estava a pensar sobre as formigas. Realmente me simpatizo com elas. Já as moscas e mosquitos, ainda os mato. Mas esses dias ao ver muitos deles mortos no chão do meu quarto, me vi como Hitler, dizimando milhares. Que direito tenho eu sobre a vida de um mosquito? E os mato porque fazem barulho e perturbam meu sono... e os mato porque me picam, levando duas três gostas do meu sangue... Porque cagam no meu porta retrato. O que contém uma foto minha, sentado à beira de abismo com vista para o mar. Daqui cem anos, ou menos, quem se lembrará? Dos mosquitos ou de mim? Quem saberá quantos de nós se foram, ou o que fizemos em nossa breve vida. Porque sim, eles vivem no máximo trinta dias e eu no máximo uns cem anos. Mas o que será isso comparado ao tempo infinito e irreal?... Quem se lembrará?... Puft!
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