sábado, 24 de outubro de 2009

Dói mais quando chove


Ele ficava lá, sentado, assistindo as gotas desenharem lembranças no vidro da janela. Surdo, mudo...frio. Assistindo o espetáculo da chuva com seus olhos profundos de quem não conhece o sono. O mundo olhava-o tentando entender, as vezes nem isso, mas ele ficava lá, apenas estando. As vezes sorria e tocava com a mão um rosto que só ele enxergava. As vezes chorava e afastava com fúria um corpo invisível que lá não estava. E assim os dias passavam, com as folhas caindo, com as flores nascendo e sua pele enrugando. Muitos o amavam, com certeza o amavam e fariam tudo por ele. Passavam as tardes tentando fazê-lo lembrar de suas faces, contavam velhas histórias, choravam ao vê-lo chorar e choravam mais ainda ao vê-lo sorrir com sorriso impostor. Seu quarto se mantinha imutável, mas seu fôlego passou a carregar algo de doente. Primeiro perdeu a cor dos olhos até se tornarem tristes globos cinza-morte. Depois foi a pele, que de tão pálida se poderia jurar que seu sangue já não mais circulava nas veias. O fim se aproximava como uma tortura chinesa, lenta e dolorosa, física e acima de tudo estética. E foi naquela tarde chuvosa, cinza como seus olhos, que ele desviou o olhar da vidraça para fitar o mundo ao seu redor. Viu uma pequena sala abarrotada de rostos preocupados. E percebendo que o olhavam atônitos na espera de seu último pedido, ele apenas se calou. Fazendo assim com que todos entendessem que só o que precisava era ficar só!

Por: Rimini Raskin

3 comentários:

  1. Existem muitas coisas que só são possiveis serem descobertas em conjunto. Mas há tbm, aquelas que só podemos descobrir na companhia de nós mesmos.

    TAke care!
    =)

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  2. No meu caso, ficar só passou de uma escolha, virou necessidade...enfim...coisas demais para serem explicadas por aqui..mas é como eu já disse antes...eu volto, eu sempre volto! =)

    Abraço!

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  3. estaria sendo eu cruel ao dizer para apegar-se a um passado que vale a pena?
    acho que não...
    sei quem tu és... e não está naquele momento... apesar de teus sentidos te dizerem que sim
    mesmo que às vezes a chuva te faça retornar.
    não te desejo uma dor maior...
    mas te desejo um desejo maior...
    e um dia de chuvas com lembranças fenomenais

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