quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Das Madrugadas Em Que Me Condenso e Não Convenço




Faz tanto frio. Tanto frio quanto insônia dessa madrugada. Tanta madrugada quanto frio...e insônia pelo frio da madrugada acordada. Faz tanto que não sofro tão pouco. Mas faz pouco, isso sim, que não durmo o tanto que deveria dormir. Tenho as mãos tão geladas que não encontro coragem para me tocar a dias. E se não me toco, como poderia tocar a música que imaginei?... Sinto medo pelo vão da porta. Um medo pelo silêncio do escuro. Sinto pena. E se sinto, é porque hoje é meu aniversário. Quero os óculos escuros de Andy Warhol e o poder de me fazer morrer ao contrário sem ter que me sentir uma lata de sopa de tomate. Quero um trampolim para o próximo passo. Serão três longos meses. De espera. De desespero por antecipação. Preciso de alguém que leia minha mão. Que diga que minha linha da vida não é de um todo interrompida. Leio esse livro a mais de um mês. Degusto devagar as palavras e a sensação de ser um peruano tão parisiense quanto qualquer parisiense da Paris de maio de 68. Já não busco senão a mim mesmo. Qualquer um desses me serviria. Como um garçom de memórias da minha própria vida. Estou impaciente com toda essa agitação subterrânea/subcutânea. Estou porque sei. Sei que sob meus pés os vermes ensaiam guerras sangrentas e invisíveis ao olho nu. E por isso acredito que nossos governantes tenham sido ótimos em biologia. E por isso acredito na dor de dente que sinto. O gato corre sobre a casa com elegância maior que o que cai por entre as telhas em dias de teimosia. Os cães estão mudos. Talvez seja o frio que lhes trave a garganta. Assim como acabou por travar para sempre a vida do pobre andarilho na madrugada passada. Ainda que para sempre não exista senão para a estupidez. E o que importa se sou eu quem sente ganas de latir por toda angústia na casa do lado e na outra e na outra que assim como na minha, também se angustia com todo silêncio dos que dormem para descansar?. Não se incomode pois não me importa se faço sentido. Não se incomode pois não me importa se te incomodo. Não me incomoda tua visão de talento. Apenas me importo em ser verdadeiro até mesmo nas minhas mais sórdidas mentiras. Por fim. Feliz aniversário pra mim. Que mesmo com vinte e quatro capítulos ainda não consigo completar um livro que valha a pena ser lido...senão vivido.

Por: Rimini Raskin

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