domingo, 14 de agosto de 2011

Luxúria (Repostagem Corrigida)


Adoro-me quando não os escuto.
Embebido na ideia de que em uma mente sem consciência reside a melhor estrada para os sentidos.
Amo-me, especialmente quando o álcool guia meus passos entre todas essas silhuetas insinuantes de começo de noite e final de esperança.
E lá estão vocês, em perfeita oposição à tudo que me habita.
Não que isso nos importe, afinal, essa noite algo nos une, não é verdade?
Algo mais forte que qualquer diferença, e mais simples que qualquer desejo.

Adoro-os quando não os escuto. É sinal de que suas línguas estão ocupadas.
E se ainda não me escuto, é porque suas línguas estão ocupadas com a minha língua.
Peço-lhes que encarem o fato de que nossas mãos possuem um compromisso sagrado com nossos corpos, um laço de sangue e suor.
Assim, creio nunca ter desejado tanto não os escutar como nesta noite.

Juntem-se a mim na missão de não darmos nomes a nossos prazeres, socorram-me no caminho dos desejos onde não se limita o paraíso à apenas uma palavra.
Agarrem suas culpas pela garganta e guardem-nas para uma outra vida.
Percebam como estamos tremendo e permitam-se admirar a maravilhosa forma que o sorriso ganha no rosto de alguém que acabou de experimentar uma pequena morte.

Esqueçam as teorias sobre o céu e o inferno que lhes foram ensinadas na infância, esqueçam de tudo que não seja carne, saliva e sussurros.
Levem-me pela mão, acolham-me em seus braços, recebam-me em suas camas. Entrelacemos agora nossas pernas, tornemo-nos um.
Silêncio! Não os quero escutar. Calem minha boca com suas bocas e sintam!
Sintam como o universo se revela tão simples ao usufruirmos de toda arte que nos cerca.

Descubramos juntos que não há prazer maior que matar a sede de um corpo sedento. Não importa a sede, apenas matem-na. Por favor matem-na em mim.
E quando já estiver morta, lhes imploro que matem-na de uma nova morte sem fim. Purifiquem-me pelo desejo. Façam-me acordar ainda sentindo o gosto do pecado de suas peles.
Aprendamos juntos que não se pode queimar uma língua feita de fogo.
E fechemos os olhos acreditando que o amanhã se consumirá na revelação de um dia que jamais existiu.


Por: Rimini Raskin


Um comentário:

  1. Intenso, suplicante como um último desejo a ser solicitado e realizado. Uma forma de esquecer através daquele momento impar em que nossa consciência desvanece em um estado hipnótico.

    Não li nenhum outro descrever com tanta propriedade, poesia e desejo.

    Lembro de já ter lido antes, mas n recordo o que foi modificado, ou corrigido.

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