Estremeço diante destes olhos já quase cegos pela catarata que me observam sem olhar.
Sei que enxergam além de carne e ossos em um mundo de criaturas cujo alcance se limita à distâncias obtidas por meio de sentidos carnais, e isso é o que mais me atormenta e fascina nos dedos magros e atrofiados pelo reumatismo que em vão escondem muito mais do que só sujeira sob as unhas compridas e mal cuidadas. Transbordam histórias de amor e trabalho duro vivenciados em tempos onde minha existência sequer imaginava existir.
O corpo fraco que se assemelha a um embrulho de ossos frágeis e músculos ausentes recobertos por folhas de papel manteiga amarrotado me transtorna como um calafrio ao imaginar-me em um retrato futuro.
Quanto deve esta alma ter acreditado e se desiludido com os dias que traziam na bagagem a noite em ciclo doloroso?
E hoje, como em uma festa onde os convidados não receberam o convite, ela veste a melhor roupa da adolescência para erguer uma taça vazia em um caloroso brinde à solidão e à loucura.
Tudo isso sem sair do meu lado, de boca e olhos fechados, solitária neste banco de ônibus.
Por: Rimini Raskin
Quando pensamos na velhice dificilmente pensamos com alguma alegria, mas somente com nostalgia, tristeza e incertezas diversas. Talvez sejamos muito, muito tolos. Talvez nossas ambições de compreendermos alguma coisa mude com o tempo, e quem sabe passemos com a idade nos preocuparmos mais em viver a vida em todos os seus momentos e sentires. Talvez envelhecer seja triste se nós não soubermos lidar com a nossa juventude no agora. Antes, eu costumava sentir muita tristeza ao ver minha vó (ainda viva hoje) que a cada dia ficava mais velha, e eu pensava "como será saber que se está tão próximo da morte e que tudo será uma questão de muito pouco tempo?". Acho que de tanto tentar imaginar o sentimento, hoje sinto que seja algo mais tranqüilo do que parece ser. Uma vez tendo passado por todo o percurso, fica mais fácil compreender o motivo de as pessoas que ainda o estão percorrendo não te darem a atenção que gostarias, ou tomar atitudes as quais, para a pessoa velha, é tão óbvia. Mas n haverá motivo para tentar interferir, você já foi jovem e sabe que nenhum jovem leva muito a sério o que os idosos dizem. É tudo uma questão de aprendizado para aquele que acredita estar inventando a roda. Mas, como jovem, penso que se não é possível inventá-la, é , no mínimo, possível reinventá-la. E assim deve ser.
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