Hermeticamente devorado tantas vezes pela boca mole da vagina da loucura,
que de muito chorar me nasceram olhos nas bochechas
e lábios nas costelas feito guelras de peixe.
Constantemente me transformo nessa criatura disforme - ou não? -
sou minha própria utopia - Tristeza -
e vejo o mundo com suas máquinas de guerra
e fome e músicas MP3 através da enorme ferida aberta nas minhas costas
A nação da estrela escolhida machucando crianças do outro lado do muro
de lenços, terra e olhares negros em rostos morenos - já não basta? Que importa? -
afinal sou só um monstro bebendo refrigerante em frente aos bancos de papel assassino.
Só um monstro Só lembrando os professores da infância que invadem sonhos
com suas caras de mulher velha e sorriso canceroso
para ensinar antigas fórmulas de vida aos filhotes do homem.
Tempos áureos em que a curiosidade consistia em apenas querer conhecer
a árvore do queijo ou saber como funcionavam as máquinas de galinha assada
- Não me deixarão descansar -
Esse mundo inteiro como um corpo nu sob o sol da criação
queimando coxas, bundas, seios - Mares de caralhos em chamas -
Tonéis de bocetas calvas ou abrigadas sob seus hirsutos pêlos de barba arábica
O Mundo Belo Mundo Belo é O Mundo
Com seus índios suicidas, ganância branca azeda, negros morro acima,
determinação asiática, crianças barrigudas, senadores de Satã,
polícia de ossos e gás venenoso, bem feitores do inferno - É belo o mundo -
Estou cansado, deixemos isso de lado, esse carro sem freios,
portas trancadas - Quero outra vez enxergar a beleza -
Eu lembro que um dia foi lindo
Talvez antes de me quebrarem as janelas e a lágrima
misturar-se à sangue e cacos de vidro.
Tudo tão lindo que
Até a morte ficava do lado de fora brincando com os viciados,
e as beatas gordas agarradas à seus terços e à infindável piedade
do nosso Senhor Jesus Cristo
pareciam agradáveis.
Por isso só peço para ser outra vez eu mesmo - Mas só as vezes -
Ser outra vez com V me ligando para dizer que descolou um chocolate para essa noite
Pirados Malditos Macacos de Laboratório
A noite é F.O.D.A.
e mais do que isso
Loucos,
sacrossantos, sacripantas
Dom Quixotes com a língua de fora
Me deixem ser monstro com vocês uma última vez,
afinal estou doente da cabeça
e se sinto medo da loucura é porque já estou louco
Por isso me deixem enlouquecer um pouco - A vida há de perdoar? -
Me deixem rastejar nesse lodo
que logo canso e volto a segurar nas mãos de quem me espera voltar.
Por: R. Raskin