sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Desejo


Ela estava lá, caminhando de um lado para o outro da casa.
E era estranho sentir esse calor ao olhá-la, me sentia pecando, sentia sujeira, porém o desejo se tornou incontrolável com o passar do tempo.
Mas como chegar até ela e dizer o que sentia?
Ainda mais ela, mulher de um dos meus melhores amigos.

Os dias passavam e eu não conseguia mais trabalhar, pensando nela. Tinha sonhos eróticos frequentemente, acordava chorando de vontade de tocar a pele dela.
Mas como? Seria um crime, algo proibido, mas não sabia mais como segurar toda minha vontade.

Durante muitas noites acordei sussurando o nome dela, desejando-a com todo fogo que havia em mim, fantasiava situações e me tocava imaginando serem minhas mãos as mãos dela. Mas por que ela? Logo a mulher de um amigo de infância, alguém que eu amava como a um irmão? Como poderia magoar ele assim?
Seria injusto e baixo da minha parte. Mas então como suportar essa angústia, esse desejo de chegar até ela e falar o que sentia?

Com o tempo decidi deixar sinais mais evidentes do meu interesse, passei a visitá-los com mais frequência, e principalmente quando ele não estava, afinal ela era minha amiga também, não teriam do que desconfiar. Mas era insuportável ficar a sós com ela, me insinuava de maneira sutil e ela parecia não perceber nada, o que me deixava em um estado de frustração ainda maior. Já não sabia mais o que fazer, e sentia muito medo de abrir o jogo e receber a pior das reações. Tentei várias vezes tirá-la da cabeça, e cada vez que fazia isso o desejo voltava ainda mais forte.

Aquela situação estava me enlouquecendo, era uma guerra interna, não conseguia aceitar o que sentia. Minha criação foi muito religiosa e apesar de não mais seguir religião alguma, a idéia de pecado ainda estava muito latente na minha cabeça e não era nada fácil me livrar dela. Poderia acabar com o casamento dela, poderia acabar com o meu casamento, arruinar 4 vidas de uma só vez, por culpa de um desejo que eu não sabia de onde vinha. Algo completamente novo, inesperado e insano para mim.

Já não encontrava mais saída, a não ser me afastar, para longe, onde não mais a veria, onde a presença ingênua e inocente dela não pudesse atiçar meus desejos proibidos.
E foi o que fiz, mudei de cidade, com a mudança perdi a vontade de viver, como se a existência não pudesse ser possível longe daquela sensação divina que sentia ao olhá-la pela janela.
Fui me arruinando aos poucos, transformando meu casamento em um inferno, escrevia dezenas de cartas, mas nunca as enviava. Não sabia mais como lidar com tanta saudade, não conseguia mais aguentar a angústia do desejo e da falta.

Não podia mais fazer isso com meu casamento, era injusto fazer sofrer alguém que me amava como eu estava fazendo. Então voltei para casa naquele dia com a decisão de esquecer tudo e pedir perdão por todo o desconforto e tristeza que criei, mas só o que encontrei foi um bilhete sobre a mesa:

"...Desculpa partir dessa maneira Suzana, mas não consegui suportar todo esse clima, me sinto impotente por te ver triste e não saber o motivo nem como ajudar. Espero que encontre o que buscas. Te amo, e por isso não posso mais continuar te fazendo mal. Me procure quando tiver decidido o que quer, tem meu número, e afinal de contas ainda sou teu marido, desejo que seja feliz, mesmo que não seja à meu lado! Adeus..."



Por: Yuri Pospichil

Frase

Eu só confio nas pessoas loucas, aquelas que são loucas pra viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosas velas amarelas romanas explodindo como aranhas através das estrelas.


Por: Jack Kerouac

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Até

Estou ansioso para voltar pra casa.
Devoro minhas batatas fritas enquanto leio e
Confirmo pela quarta vez o relógio do meu celular.

Acho engraçado a forma como tenta ler o nome do livro na capa,
E como fica sem jeito quando eu de propósito
afasto meus dedos que estavam sobre o título.


Fingimos não nos notarmos,
nem mesmo quando olhamos juntos e com dó
para a criança que chora no portão de embarque.


Percebo tua ansiedade em ir para casa,
e por constatar o mesmo em mim,
acaba se sentindo mais a vontade.


Odeio o silêncio engasgado,
Peço as horas, e você sorrindo me responde :
- "Vinte e trinta e cinco"


Pronto, dei o primeiro passo.
Mas você se envergonhou, e mais uma vez engasga as palavras.

"Desculpa te incomodar de novo, tem horas?"
Você sorri mais do que antes e me responde com sotaque carioca :
- "Dez pras nove...Ta indo pra onde?"

- "Porto Alegre". Eu respondo.
-"Vou para o Rio"...
E sorri com boca linda e carisma invejável.


A conversa se alonga, rimos, falamos das diferenças de nossas cidades
e convidamos um ao outro para conhecê-las.


Falamos ao mesmo tempo, teu rosto se contrai envergonhado,
mas quem pede desculpas sou eu,
te deixo falar primeiro e apenas admiro tua elegância.


Os óculos e o ar executivo não escondem o jeito de menina.
Percebemos nos olhos um do outro o horror ao caos de São Paulo.
Reclamamos e rimos ainda mais.

A hora chega e nos abraçamos como velhos conhecidos.
Ainda te olho dar três passos e virar sorrindo:

- "Vá com Deus Yuri ... e até!"

- "Até."


Por: Yuri Pospichil

O Quarto II


Sozinho

Olhando os abajures invertidos entre meus pés.

Sozinho

E nem a brancura do quarto abranda meu ser.

Sozinho

Com uma televisão balbuciando bobagens em vinte canais.

Sozinho

Sem menos, sem mais...

Sozinho.


Por: Rimini Raskin

Estética Estática

Nas ruas, onibus verdes invertem esquinas cinzentas.
O pixo polui de negro a parede que parece nunca ter sido nua.

Da janela observo, mas os objetos me repelem,
Não sou bem vindo, não me deixo ser aceito.

Magnífica e opressora São Paulo.
O monstro de concreto e aço,
A fábrica de sonhos e pesadelos.

Cidade sem face,
De raízes confusas.

De peruanos que vendem arte para japoneses
Que vendem para italianos que vendem para
Brasileiros que vendem.

Desconfiança e pressa nos olhos de cada um.
Homens fundidos ao concreto da calçada passam desapercebidos
Aos homens fundidos ao relógio que por uma mágica cruel funciona com o dobro de velocidade.

É como se Kerouac escrevesse a cidade,
Desenhando uma Tristessa doidona dentro de cada táxi.

A cidade que não dorme, que engole
Que paralisa e encanta olhos estranhos.

Cidade que do céu já sem sol, sem sal e sem céu,
Me chega em som a saudade do sul.


Por: Rimini Raskin

Eu ♥♥♥ amo Porto Alegre!

Tão diferente e indiferente à prepotência desse lugar.
Assim é minha Porto Alegre.

Uma linda dama de charme discreto e deslumbrante,

Que acolhe filhos adotivos como se fossem seus.
Que me faz sonhar no futuro com seu glamour atemporal.

Ah Porto Alegre, sinto falta de teu sorriso e de tuas jóias.
Sinto falta de tuas veias escuras e arborizadas.
Tão diferentes desse organismo assustador onde pulsa sangue neón.

Sinto falta de tua voz gentil e teus hábitos inconfundíveis.
Essa noite senti um nó ao olhar pela janela e não encontrar no céu as tuas estrelas,
E nunca antes como nessa noite desejei tanto a ti.

Minha amante, minha amada


Porto Alegre


Por: Yuri Pospichil

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Risada ao revés (2004)

Eu sou um triste palhaço
Artista da vida

Um triste palhaço é o que sou.

Maquiagem borrada

Uma alma esquecida e sem dor.


Eu sou um triste palhaço

Corpo sem vida

Criança de riso fácil é o que sou.

Identidade apagada

O triste palhaço do amor.

Eu vim para alegrar suas crianças

Eu vim para sentir o calor.

Eu vim relembrar a alegria
Que o maldito amor me roubou.


Escuro, triste, louco melancólico.

Fingido, maldito, palhaço otário.


Ninguém mais me aceita

Ninguém mais me quer.
E não há nada mais deprimente
no mundo
Que um triste palhaço qualquer.



Por: 
Rimini Raskin

Jovens Demais

Tudo aquilo que eu teria feito
Hoje faz falta em você.
Já tem tanto tempo mas ainda me lembro
De tudo que fiz pra te ter.

Sei que não fui tudo
Mas ao menos tentei.

Hoje estamos tão separados
E nada eu posso fazer.
Por que maquiar o nosso passado?
Você tem medo de quê?

E o meu destino
Aos quatro ventos joguei.

Agora nada mais vai me impedir de dizer.
Tudo que eu sempre quis, agora eu vou fazer.
E se eu nunca disse aquelas palavras
É porque não precisava dizer.
O que mais posso te explicar?

Éramos jovens demais!

Não adianta fingir que esqueceu
Isso não tem como esconder.
Sorriso nervoso, um frio no estômago.
Não é tão fácil conter.

E essa noite
Com você eu sonhei.

Agora nada mais vai me impedir de dizer.
Tudo que eu sempre quis, agora eu vou fazer.
E se eu nunca disse aquelas palavras
É porque não precisava dizer.
O que mais posso te explicar?

Agora é tarde demais!


Por: Yuri Pospichil

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Tinta e um pouco de amor


Pintava o rosto para afirmar sua real identidade.
Cobria a dor com sorrisos de deboche
E suas brincadeiras com verdades.

Dissimulava gestos corriqueiros.
Olhava a todos com verdadeira luxúria indelével.
E assim vestia-se de rebeldia para esconder o rebelde.

Se fazia cínico para falar de Deus.
Firme demais para ser ateu.
E fraco para não perder a bondade.

Despertava a dúvida por ser óbvio.
Corria para que parado ficasse.
E raza queria sua cova para poder voltar quando da morte cansasse.

Escrevia as mentiras mais belas.
E colocava sua alma a tal ponto
Que morreria por cada uma delas.

Se fazia ser quem era apenas com tinta e um pouco de amor.
Odiava espelhos por serem exatos.
E mais ainda o próprio corpo por sucumbir à dor.

E assim se manteve santo.
Sem posses e sem fardos.
Mas orgulhoso de cada um de seus pecados.


Por: Rimini Raskin

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

25 de agosto de 2003, segunda feira


Hoje acordei decidido a escrever uma história, ou melhor, despertei decidido a escrever um pouco sobre minha própria história.
Acredito que a maioria de vocês, não sabem como era ser uma criança rica nos anos 70. Pois é nessa época que começa minha história. Tentarei ser mais direto.
Tive uma infância confusa, nasci em Estocolmo na Suécia, rodeado pelo frio, tanto da neve quanto do mundo familiar. Tinha um dia-a-dia muito complexo, entre aulas inúteis e falsos amigos. E é engraçado como lembro pouco de meus pais, estavam sempre tão ocupados, ele, meu pai, era um grande empresário de uma fábrica de automóveis, e minha mãe, bom, ela vivia ocupada demais com suas viagens, suas roupas e suas jóias.
Haviam se tornado personagens tão diferentes do que um dia chegaram a ser, quase caricaturas daqueles dois jovens apaixonados que um dia desafiaram as famílias em nome de um amor impossível.
Eu passava o dia escutando ordens de empregados de minha mãe e nunca havia saído de casa antes dos 13 anos de idade. Idade em que também conheci meu tutor de música, um maestro belga com longos cabelos brancos e ar teatral, se chamava Louis Sagat.
Nos tornamos grandes amigos em pouco tempo, a ponto de me presentear com seu violino favorito, instrumento esse que acabei por demonstrar uma maior afinidade.
Apartir desse ponto a música passou a ocupar quase metade de minha vida, a outra metade preenchia com as garotas e principalmente com meus novos amigos, entre eles 3 garotos que assim como eu amavam a música acima de tudo. Johan B. era um grande guitarrista, bastante rápido e muito técnico, assim como os irmãos Vülley e Zander A. que assumiram os postos de baixista e baterista. Com eles passei a ter contato com um estilo de música diferente da que eu estudava, uma música rápida, carregada de força e melodia, se chamava Hard Rock.
Um dia ao me perguntarem sobre minha habilidade como vocalista, respondi cantando uma canção do Deep Purple que eles haviam me mostrado em um de nossos primeiros encontros. Quando terminei de cantar os três pareciam hipnotizados por minha voz, e aí nascia a banda Red Star.
De volta à minha casa, tomei uma dura do maestro Sagat, cheguei tarde e congelado, como castigo fui trancado em meu quarto, mas estava tão feliz que nem me importei com a punição, encontrei um jeito de escapar pela janela, escalei até o telhado com meu violino. Toquei como nunca antes havia tocado.
O violino era naquele momento como uma extensão de meu próprio corpo, minhas notas se confundiam com os raios de lua que me iluminavam enquanto a brancura virginal da neve da noite cobria meus cabelos.
Ao meu redor, embaladas por cada acorde emanado pelo violino, as árvores pareciam dançar...nada poderia estar mais perfeito.
Algumas semanas depois passamos a compôr nossas próprias canções, a maioria falando sobre o sobrenatural e o oculto. Entre elas minhas preferidas, Victorius V e This is my curse for you, duas canções que narravam a história de um vampiro. Criaturas que me fascinavam pelo poder e o mistério.
Alguns meses mais e já estávamos fazendo nossos primeiros shows em alguns bares e pequenos clubs como o Music Mix, meu club preferido, aconchegante e com as garçonetes mais lindas de toda a Suécia.
Com o desenrolar dos anos 80 nosso estilo já havia crescido em todo o mundo, a Red Star acompanhou esse crescimento, ao ponto de alcançarmos um status bem grande de reconhecimento no underground de Estocolmo. E em novembro de 1985, num show para pouco mais de 100 pessoas, entre elas um importante empresário musical sueco que veio até nós no final da apresentação. Lembro que fiquei apreensivo na presença daquele homem de sorriso prepotente e terno italiano, mas Peder foi extremamente educado, se apresentou e foi direto ao assunto, "Quero um contrato de dois discos com vocês", disse ele.
E assim aconteceu, lançamos nosso primeiro albúm em janeiro de 1987, batizado com o mesmo nome da banda, foi um sucesso de vendas na Suécia e alguns outros países da Europa, o que nos rendeu uma turnê por todo o continente, iniciada em agosto do mesmo ano.
Me entreguei totalmente aos excessos proporcionados pelo status de estrela em ascenção.
Festas regadas a drogas, sexo e todo luxo que se podia pagar. As polêmicas e a fama se acumulavam na mesma proporção que nossa falta de privacidade. Buscando me manter um pouco afastado dos holofotes por um tempo, aproveitei uma folga para visitar a Espanha, admirar a bela arquitetura e lógico apreciar a ótima cozinha espanhola.
Seguindo a dica do empresário da Red Star, fui a um restaurante no centro de Madri para jantar. Mas antes de comer, decidi dar uma passadinha no bar instalado dentro do próprio restaurante, enquanto bebia minha vodka,
um senhor muito elegante sentou ao meu lado, muito educado perguntou o que eu estava bebendo e pediu o mesmo para ele. Se apresentou como Leonardo Soleza, conversamos longamente em inglês sobre assuntos variados, e apesar de nossa diferença de idade, encontramos grandes semelhanças em nossos gostos pessoais. Consultando o relógio, educadamente se desculpou e despediu-se sorrindo, dizendo que voltaríamos a nos encontrar. Apesar de eu achar estranha aquela afirmação de Leonardo, não dei muito caso, pois partiria no dia seguinte de volta para Estocolmo.
A Red Star voltou a entrar em esúdio para a gravação de um segundo LP chamado Love Against The Wind, que ao contrário do albúm de estréia, saiu bem mais suave e melódico. Com ele novamente vieram os shows, uma turnê bem maior, incluindo países da Ásia na agenda, maior e muito mais estressante que a primeira eu diria, para relaxar acabei criando um laço forte demais com a bebida, ao ponto de não conseguir entrar no palco sóbrio pelo menos nas últimas 10 apresentações. Quando a turnê terminou em março de 89, não conseguia organizar os pensamentos, acabei por pedir um tempo para relaxar e voltar aos trilhos.
Me isolei por 1 mês no campo em busca de concentração e inspiração. Descanso esse que só foi interrompido por uma carta me convidando a ir à Espanha para dar uma entrevista à uma rádio, falando dos
rumores de um possível fim da banda.
Aceitei o convite, não pela rádio, mas por não recusar uma oferta de voltar à Espanha.
Na rádio tudo ocorreu tranquilamente, não procurei ser polêmico, desmenti os rumores, expliquei meu motivo de afastamento e prometi um disco novo em breve.
Voltando ao Hotel Claris pedi a um dos funcionários uma dica de um bom club para eu me divertir em Barcelona, o cara me indicou um club moderno cujo nome não me recordo, um lugar frequentado por Cyberpunks e apreciadores da música eletrônica que vinha ganhando espaço no underground mundial. Decidi conhecer o lugar, era um prédio de arquitetura moderna, o interior era um tanto sombrio, não diria aconchegante, mas envolvente, entre os frequentadores pude constatar a presença de alguns artistas conhecidos do cenário europeu.
Pouca luz e centenas de faces, mas uma me pareceu estranhamente familiar, me aproximei do homem que sorria ao me ver. "Nos conhecemos?", perguntei eu, e como resposta ouvi: - "Na verdade sim, deverias lembrar melhor das promessas que a ti são feitas". Como um flash a lembrança me voltou à mente e acabei por rebater encabulado: - "Perdão, acho que a vodka acabou me deixando com memória de peixe, mas agora lembro, nos conhecemos a uns dois anos atrás em um restaurante em Madri, não foi?".
Soleza me respondeu afirmativamente com um sorriso, nossa conversa acabou por se desenrolar com a mesma facilidade com que amigos de escola falam sobre o dia. A música estava incomodando um pouco, o volume alto dificultava a conversa. Percebendo isso Leonardo me convidou para irmos à sua casa, me disse que possuía um estúdio de gravações fonográficas que eu me interessaria em conhecer.
Saímos do club e fomos até seu carro, um BMW prateado que nos levou com rapidez até uma mansão nos arredores da cidade. A casa era maravilhosa, uma mistura de clássico e moderno, um jardim enorme na frente e por dentro era completamente adornada por obras de arte.
Tomamos alguns drinks enquanto conversávamos, pedi para ver o estúdio que ele havia me comentado no club e fiquei surpreso com a seriedade que o rosto de Soleza tomou, mas com voz muito calma foi me falando enquanto se aproximava: - "Não o trouxe aqui para ver estúdio algum". Me levantei e tentando não parecer grosseiro falei:- "Desculpa cara, acho que você acabou confundindo as coisas, não sou...", Soleza me interrompeu às gargalhadas, e tratou de explicar melhor: - "Também não o trouxe aqui pra isso minha criança, só gostaria de fazer algumas perguntas."
Apesar de estar achando a situação no mínimo bizarra, concordei em responder algumas questões. Leonardo começou me perguntando por que muitas de minhas músicas falavam sobre vampiros, respondi que achava as criaturas da noite interessantíssimas, carregadas de poder e de charme.
"Você já conheceu algum?" - me perguntou ele. Com um tom de brincadeira comentei: "Não, mas seria um bom presente de aniversário, amanhã completo 23
anos."...Soleza parecia não achar muita graça do comentário, e então continuou:
- "Gostaria de ganhar a imortalidade como presente então?"
Aquelas palavras por algum motivo me chegaram geladas até à espinha, mas não tive nem mesmo tempo de piscar os olhos, senti o pescoço ardendo como se fosse marcado à ferro incandescente. Lembro ainda de estar caído ao chão,
muito fraco, com forças suficientes apenas para manter a consciência e ouvir as palavras: "E então? Aceitas meu presente?"
Quase que hipnóticamente as palavras "Eu aceito" escorreram da minha boca como mel. Ainda pude ver Leonardo cortar o próprio pulso e oferecer seu sangue à mim. Bebi como se fosse néctar. No mesmo instante senti uma força incrível, quase insana se apoderar do meu corpo e então apaguei.
Acordei na noite seguinte em um quarto branco com pinturas sacras no teto, olhei para os lados e não encontrei alguém ou algo que me parecesse familiar. Meu corpo todo doía, me coloquei em pé com dificuldade, muito tonto abri a porta e me deparei com um corredor cheio de portas, a primeira revelou uma pequena adega de vinhos, a segunda levava a uma sala de estar em que todos os objetos pareciam familiares e desconhecidos ao mesmo tempo, foi quando ouvi uma voz imponente vinda de minhas costas, me virei por reflexo e me deparei com um homem de ar assustador, tentei correr mas acabei não indo muito longe, caí ao lado de um candelabro enorme.
O homem me chamava pelo nome e pedia calma, olhei para o seu rosto
novamente e as coisas começavam a se encaixar aos poucos na minha cabeça. Leonardo me ajudou a levantar, me levou até o canto esquerdo da ampla sala onde estava o sofá. Me serviu uma taça de vinho e perguntou com ar de riso o porque de eu estar tão assustado.
Respondi que havia sonhado com vampiros; ele soltou a taça e me perguntou sobre o sonho, mesmo muito constrangido falei: -"Sonhei que você era um vampiro, e que tinha me atacado."
Soleza se colocou de pé e principiou a falar: - "E se não fosse um sonho? E se fossem lembranças?"...
Me senti desconfortável com a pergunta, -"Está brincando comigo ou algo assim?", perguntei eu com uma certa impaciência na voz, inabalável, Leonardo disparou outra pergunta, - "Gosta desse vinho que estamos bebendo? Não notou nada de diferente no sabor?"...
Olhei a taça, dei outro gole e respondi: -"É delicioso, mas realmente não parece com nenhum vinho que já tenha provado."...
-"Não é vinho!", respondeu Soleza;
-"Algum licor então?", continuei...
-"Sangre!", me respondeu por fim o espanhol.
Comecei a rir mas logo fui interrompido por Leonardo:
- "Acha que isso é alguma brincadeira?", gritou ele.
De alguma forma, na mesma hora percebi que meu sonho era real, perdi a voz, não conseguia crer no que acontecia .
Segurando minha mão, Leonardo me pediu calma mais uma vez, -"Escute minha criança, meu filho, agora você já sabe a verdade, terá que aprender muita coisa, você tem um poder grande nas mãos, terá que aprender como e quando usá-lo, é um mundo difícil para nós, terá que aprender a se manter seguro, e para isso existem regras que você precisa saber."...Algumas semanas se passaram até que fui apresentado ao príncipe da cidade, o líder escolhido pelas crianças da noite. Com sua benção me oficializei um vampiro, ganhei um clã a quem jurei lealdade e aceitei um código que jamais poderia quebrar.
Convidei Soleza para me acompanhar até Estocolmo, queria que ele me fizesse um grande favor.
Chegamos à Suécia às 2 da madrugada, um carro já nos esperava para levarnos à minha casa onde Johan, Vülley e Zander estavam à minha espera.
Ao entrarmos na residência pude ouvir Vülley se aproximando e gritando comigo: - "Porra Vic, onde você estava?", nos abraçamos
e então apresentei Leonardo.
Na sala de estar, com todos reunidos expliquei melhor quem era Soleza, quem era eu agora e o que propunha para os três. Sabia que eles não recusariam a
oferta, e assim aconteceu, a Red Star estava unida para sempre com Leonardo Soleza como nosso mestre.
O contrato de dois discos com a gravadora havia acabado e por culpa das polêmicas envolvendo a banda, os diretores acharam melhor não renovar. Decidimos seguir no underground de forma independente, não era difícil esconder nosso segredo, imortais nos acompanhavam nos shows e mortais nos viam como atores representando muito bem o papel de vampiros.
Fizemos shows maravilhosos no Chile, onde conheci um Assamita anti-tribo chamado Julio Rodriguez que aceitou trabalhar como meu segurança em troca de moradia e refeições fáceis. Do Chile partimos para a Bolívia, depois Colômbia, uma passagem na anárquica Los Angeles, alguns shows no México e depois Brasil, lugar escolhido inclusive para uma parada nos shows. Nos localizamos ao sul, gostamos tanto do clima e da refeição que decidimos
morar em Porto Alegre.
Queremos lançar um novo disco esse ano, apenas para a América do Sul
e Central, um registro com o melhor dos shows pelo continente.
Mas chega de escrever, estou com fome e a noite está tão gelada hoje que precisarei de um pouco de sorte para encontrar alguém nas ruas.
Enfim, ninguém nunca lerá essa história, mas mesmo assim foi divertido imaginar que estou compartilhando um pouco do meu segredo com o mundo mortal.


Victor Svensson.



*Trecho do diário pessoal de Victor Svensson, encontrado na mansão em Porto Alegre onde o vocalista da banda Red Star junto com seus companheiros moraram antes de desaparecerem de forma misteriosa em janeiro de 2004.

*Traduzido do original em sueco.

Por: Yuri Pospichil

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Time for Music!!



Tenho andado sumido, não escrevo a dias e dias.
O fator principal para esse sumisso seja talvez a minha incômoda insônia.
Mas dae vocês podem pensar: "Quem não dorme tem mais tempo para escrever".
Na primeira noite essa teoria funciona bem, mas nas seguintes é impossível organizar os pensamentos de forma descente. Combinando a falta de sono com os calmantes, a coisa fica ainda pior. Apesar de gostar do que sinto When I take my meds.
Porém não estou aqui para citar os motivos, ou escrever um tratado psicológico sobre causas e sintomas do meu caos mental. Estou aqui para deixar uma música que tem flutuado na minha mente nos últimos dias. Esse duo australiano de electro rock conquistou minha admiração já na primeira escutada. Vale a pena, podem conferir.
Acho que é isso, desculpem a pobreza do post!
Beijos abraços e um ótimo restinho de semana para todos!

Por: Yuri Pospichil

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ode à amizade pagã!



Não entendo ainda como ela consegue.
Como pode saber? Como pode compreender a dor?
Como consegue curar ou acalmar uma aflição que não é a sua?

Um sorriso, um sorriso e mais nada!
Um olhar, apenas um olhar e lindo se mostra o mar,
Misterioso, profundo, verde como jóia submarina.

Que mais posso dizer-te além de que me fazes bem?
Que me aqueces e me apontas o norte?
Te presenteio linhas, te dedico odes.
Tudo isso para juntos nos regalarmos amor.


Por: 
Rimini Raskin






quinta-feira, 12 de novembro de 2009

!Yuri



Calor!
Se tivesse que escolher uma palavra para definir o que sinto, seria: Calor!


Mas não é sobre definições que quero falar.
Bom, de certa forma é sim. Mas não quero definir o mundo, nem os sentimentos nem nada desse tipo. Quero definir a mim mesmo, ou pelo menos tentar. Vai ser assim então, Yuri por ele mesmo. Primeiro fato importante, Yuri tem noção de que não é a pessoa mais fácil do mundo, sabe que está sempre se esquivando ou criando obstáculos entre ele e as pessoas de bom sentimento. Não descreveria como medo de ser amado, nem como sadismo. Tem pessoas que acham o jeito dele, de certa forma sádico, ele permite uma aproximação mas escorrega quando bem entende. Yuri não é um cara ruim, ele só é estranho. Sempre gostou de criar a dúvida, de viver do jeito que gosta, mesmo que esse jeito mude semana que vem. No final o importante sempre vai ser viver à própria maneira. Yuri não gosta do tédio, nem gosta de amigos que não se permitem rir alto ou beber nos fins de semana. Yuri odeia quem não fala palavrão. Quando se sente triste, ele simplesmente se afasta para não contaminar quem ama, isso sim seria sadismo. Não gosta que o vejam triste, nem gosta de pessoas amargas. Yuri gosta de vida. Ele faz um número incontável de merdas, a maior delas com certeza é ser sincero, mas ele não muda, nem adianta pedir. Yuri é o tipo de pessoa que fica entre o cara de óculos da biblioteca e o mendigo da calçada. Ou seja, entre esses dois extremos ele pode ser e é quem ele quiser. Ele é romântico, safadamente romântico, algo entre Gondry e Tinto Brass. Yuri não tem vergonha de ser quem é, apesar de reservar seus segredos apenas para quem merece. Gosta de cinema, gosta de música, gosta de literatura, gosta da beleza seja ela qual for. Não é um grande escritor, não se prende à regras, não tenta impressionar, não tem pretensões, nem na literatura nem em nada. Gosta de personagens, gosta de se enxergar como um personagem. Explora a própria dor por detestar quem explora a dor alheia. Porém Yuri como qualquer ser humano também causa dor, carrega nas mãos mais sangue do que gostaria, apesar de não sentir vergonha disso também. As vezes quer ser Tyler Durden, mas lhe falta coragem, outras vezes quer ser Dalai Lama, mas tem muita sujeira na mente para isso. Acho que Yuri seria um perfeito Martin Romaña. Corajoso demais para uma pessoa comum e covarde demais para os revolucionários peruanos. Yuri é apenas o cara que está do teu lado, ele não finge, só não sente necessidade de ser o mesmo para todo mundo. É o cara que levaria um tiro por quem ama, é Amir buscando redenção, é Benjamin C. com o diabo na cabeça, é uma verdade lascerante vinda da ponta da pena de Nieztsche, é a mentira necessária, o remador preguiçoso, é Theo, é Isabelle, é Guevara ofegante na floresta, é nada, é nada, é nada, é tudo e não é nada, é mais do que precisa e menos do que gostaria, é escada de degrau único, porta que leva para o mesmo lugar, é presente eterno, ele é, ele é, ele está e ele é...

Caos!

Se tivesse que escolher uma palavra para definir o que sinto, seria: Caos!


Por: Yuri Pospichil

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Simples

Não foi a forma como olhavas a taça.

Não foi.

Nem o sorrisinho malicioso nos lábios bêbados.

Não, definitivamente não foi.

Muito menos o modo provocante de mexer no cabelo.

Não foi nada disso.

É o modo como unes em ti tudo isso.

É essa toda a tua beleza.

Só tua.


Por: Rimini Raskin

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Vodka, Chocolate e Web Cam


O pato observava tudo com seus olhos negros semi cerrados, ou seria um cisne ? Enfim...isso não importa. A música estava alta, mas não o suficiente para atrapalhar o quarteto que conversava e bebia em tom alegre. Era sexta feira, a maioria trabalharia no outro dia, mas e dai? Só se vive uma vez até que se prove o contrário. E sinceramente, para aqueles quatro ninguém provaria, não naquela noite. Não era uma ocasião especial, ninguém estava de aniversário, não comemoravam nenhuma conquista, só celebravam o fato de serem amigos, de serem jovens e de serem eles mesmos. O cisne, ou o pato, como preferirem, se mantinha imóvel no canto da sala, perto da porta. E quando ninguém olhava ele ria dos 4 amigos que bebiam e brincavam sem preocupação, sem conhecimento do mundo exterior, sem se importar se estavam sendo subversivos ou não. Os 4 não eram o exemplo da juventude saudável, estavam mais para uma espécie de marginais conscientes de seus próprios limites. Para eles não importava nada mais do que ser feliz, um dia de cada vez. E assim as horas passavam, com vodka, chocolate e web cam. No ar a música tocava repetidamente, sem cessar. Só a pequena ave de louça poderia entender o que falo, só ela poderia contar essa história melhor do que eu, mas ela sabe que ainda não é hora. E quando a manhã chegou vestida de meio dia, lembrando os trabalhadores que teriam um dia e meio para bolar uma boa desculpa para os chefes, também trouxe consigo a difícil missão de decidir o que mais doía. Se era o estômago pedindo comida, a cabeça latejante ou a terrível necessidade de encarar o fato: O rock havia acabado!

Por: Yuri Pospichil

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Segue o Baile

Não consigo pensar em nada.
Isso mesmo...em nada.
Não sei porque, mas achei que o vazio também merecia um espaço.
E é incrível como eu escrevo sem realmente pensar em nada.
Totalmente oco, sim senhor, sem o menor fluxo mental.
Só vou mexer os dedos ao longo desse teclado.
Nadinha vai ser corrigido ou poetizado aqui.
Fluxo livre amigão, nada de regras ou de rimas.
Uma estrada sem buracos, sem estratagemas ou morais da história.
Apenas linhas soltas. Sim senhor.
Nem o barulho de pratos na cozinha ativa meu lirismo barato.
Nem mesmo essa claridade insuportável nos olhos que regularmente coçam me incomoda.
Meu irmão agora me fala sobre o seriado na TV.
Ele me pergunta por que estou escrevendo o que ele me diz e faz piadas.
Meus dedos já escorregam pelo teclado quase em desespero.
As pausas são frequentes, me irritam.
Discutimos sobre as novas regras ortográficas...que se fodam as regras ortográficas.
Estalo de ossos, gosto deles.
Olho a pirâmide sobre a mesa do computador, lembro de Gramado.
Dou risada da propaganda da Pepsi...gosto de Pepsi, mais do que Coca.
Odeio as lojas do Aldo...propaganda horrível.
A porta se fecha, a luz se apaga, estou sozinho de novo.
Estrada livre, como uma lona ensaboada onde as palavras se divertem.
Sinto vontade de brigar, gosto de brigar, não vou esconder, é um instinto afinal...mas não faço, sei lá...não encontro um oponente que mereça, ou talvez eu seja só um bosta que tem preguiça até de levantar os punhos.
Não, não, não...não sou um bosta, conheço muita gente muito mais bosta que eu...me diverte não ser tão idiota, mas também não sou do tipo intelectual.
Sou pervertido, penso em sacanagem..e dai??..todo mundo pensa.
Talvez perca meia hora de sono vendo pornografia...ou não...muito sono hoje.
Acabei de pensar que lá na rua está frio, tem bêbados nos bares e prostitutas nas esquinas que normalmente me passam cantadas péssimas.
Nunca paguei por sexo, é contra meus princípios...ok ok, podem rir de mim "macho men"...mas mesmo assim não pagarei por sexo.
Sou do tipo que a mãe acha que conhece...que droga mãe, a Sra. não me conhece. =)
Já fiz coisas erradas, um caminhão delas...nunca matei ninguém, mas já tive vontade, muita vontade.
Não tenho medo de morrer...eu sei...isso só aumenta minhas chances de levar um tiro reagindo a um assalto, mas e dai? Todo mundo vai morrer mesmo, camarada.
To olhando para a minha tatuagem do Che...ela é feia, que merda...não façam tatuagens em estúdios que um primo diz que é bom...ele não é.
O banco me mandou uma carta só para dizer que meu saldo é zero...que tipo de sadismo financeiro é esse?? Eu sei que tô duro, mas eles me avisam só para poder dar risada, pelo menos eu acho isso...é um desperdício de papel...poderiam mandar uma carta de amor com esse papel...que bobagem a minha, ninguém mais manda cartas de amor.
Que ridículo o que eu escrevi ai em cima, esse papo idiota sobre carta de amor, cara, que doente que eu sou.
Desculpa, demorei para escrever porque fiquei batendo com os dedos sobre a base do teclado, tem um som engraçado. Fiz de novo, não façam também, vicia.
Tô me sentindo mal comigo mesmo, e tô gordo também, odeio ser viciado em chocolates.
Sim, sinto falta de ter uma namorada, mas não consigo, eu sempre estrago tudo, sou como um fio de arame mal esticado, não se pode manter o equilíbrio caminhando sobre ele por muito tempo.
Mas mesmo assim eu sinto falta. Meus amigos são legais, cara, eles são muito legais mesmo, as vezes fazem merdas, falam merdas, dissimulam, são arrogantes sem perceber, mas eles são legais, gosto de beber com eles, to contando as horas para o Drunk Hour da sexta feira no Jack.
Os amigos de longe também são importantes e eu gosto deles mais do que eles imaginam, o lado ruim é que eles não podem beber comigo para dividirmos teorias cretinas sobre um assunto complexo.
Não tenho fotos da minha adolescência, isso me deprimiu hoje...me fez pensar que talvez eu tenha uma lembrança falha dessa fase da minha vida. Afinal como eu vou saber se minha primeira namorada era realmente bonita quanto eu achei esses anos todos?... Isso é ruim, acho que criei uma imagem errada do passado, talvez eu sempre tenha tido barba.
Não paro de pensar no passado agora, que merda...mas agora é um passado recente, enfim, deixa pra lá, ainda dói.
Acho que cedo ou tarde as pessoas desistem, eu faço muita cagada, falo no impulso, me arrependo, sou perdoado e faço cagada de novo...prêmio pra mim!
Esse post já ta grande pra burro, e se alguém leu até aqui, meus parabéns...tu realmente não tem nada melhor para fazer!...brincadeira..eu também leria, mas eu não tenho nada pra fazer mesmo, dai não conta.
Sono...chega.

Por: Rimini Raskin

Tão Tarde




Por que vens tão tarde ?
Já não te esperava mais.
Já havia desistido de acreditar,
já lhe tinha feito um risco.
Por que vens tão tarde ?
O que te traz aqui ?
Que crueldade estranha
este desejo repentino.
Por que vens tão tarde ?
Sua mãe não lhe ensinou nada ?
Não se deve chegar tarde
para aqueles que lhe são ternos.
Sem flores, à rigor.
Mas a verdadeira cortesia
é chegar na hora
quando o tempo nos pressiona.

Por que vens tão tarde ?
Quando tudo está terminado
e um novo encontro
ocupa o meu lugar em sua cama ?
Por que vens tão tarde ?
Não tens nenhuma desculpa,
nem a menor história
nem a menor artimanha.
Por que vens tão tarde ?
Guardo para mim o que deseja
com sua boca cheia de histórias
do futuro luminoso.
Oh não é tão tarde!
Meu anjo, que bobagem.
Se eu pudesse te ver.
Não é verdade que crescemos ?

Por que vens tão tarde ?

Por: Alex Beaupain

sábado, 24 de outubro de 2009

Dói mais quando chove


Ele ficava lá, sentado, assistindo as gotas desenharem lembranças no vidro da janela. Surdo, mudo...frio. Assistindo o espetáculo da chuva com seus olhos profundos de quem não conhece o sono. O mundo olhava-o tentando entender, as vezes nem isso, mas ele ficava lá, apenas estando. As vezes sorria e tocava com a mão um rosto que só ele enxergava. As vezes chorava e afastava com fúria um corpo invisível que lá não estava. E assim os dias passavam, com as folhas caindo, com as flores nascendo e sua pele enrugando. Muitos o amavam, com certeza o amavam e fariam tudo por ele. Passavam as tardes tentando fazê-lo lembrar de suas faces, contavam velhas histórias, choravam ao vê-lo chorar e choravam mais ainda ao vê-lo sorrir com sorriso impostor. Seu quarto se mantinha imutável, mas seu fôlego passou a carregar algo de doente. Primeiro perdeu a cor dos olhos até se tornarem tristes globos cinza-morte. Depois foi a pele, que de tão pálida se poderia jurar que seu sangue já não mais circulava nas veias. O fim se aproximava como uma tortura chinesa, lenta e dolorosa, física e acima de tudo estética. E foi naquela tarde chuvosa, cinza como seus olhos, que ele desviou o olhar da vidraça para fitar o mundo ao seu redor. Viu uma pequena sala abarrotada de rostos preocupados. E percebendo que o olhavam atônitos na espera de seu último pedido, ele apenas se calou. Fazendo assim com que todos entendessem que só o que precisava era ficar só!

Por: Rimini Raskin

Parques de Giz


Foi demais.
Dá um tempo, desta vez foi demais.
Está doendo pra valer.
E é tão doentia essa tua compaixão
e tão pequeno me abraçar
se desinfetas tuas mãos.
E tua vontade de perdoar
o que eu não tenho vergonha de ser
nesse teu mundo vulgar.


Ah, acho tão discreto esse teu charme
e teu sorriso nos jornais.
Diz então, como podes me abrir o teu lar
se pões pregos em meu corpo?
E os espinhos em meu coração
não me deixam caminhar
sem deixar esse rastro no chão.


Faz assim, desenha um parque pra mim
e vem brincar até a tua mãe chamar.
Que amanhã aproveitamos o giz
pra desenhar outro lugar.


Quão cruéis crianças podem ser?
Quão cruéis elas podem crescer
e mostrar o que aprendem com os pais?
E apontar seus dedos aos demais.
Será que nascemos mesmo assim
ou será que deixamos tudo desabar?
Pois não lembro de um dia sequer
sem sentir não ter meu lugar
e sem ver meus parques de giz
sumirem com a chuva.



Por: Nenê Altro

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tanto



Tempo que desperta o pranto,

que colore o dia,

que anoitece o peito.


Tempo... Tempo...


...Tanto...

Tempo...
Ponto...


Por: 
Rimini Raskin

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ode à Redenção

Pequeno caminho corriqueiro.
Passagem obrigatória.
Velha conhecedora de meus pés.

Sabedora de segredos ocultos.
Cúmplice de meus amores corruptos.
Antiga e acolhedora rua.

Tu e tuas irregulares formas.
Companheira de meus passos bêbados.
Professora não reconhecida.

Humilde rua de pedras disformes,
É à ti que presto essa pequena homenagem.
Foste tutora dos "guris do galinheiro".
E de alguns cobraste um preço alto demais.

Mãe de minha geração.
Uma rua sem donos
Um pequeno caminho chamado Redenção.


Por: Rimini Raskin

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ode à Selene


És tu Selene,
Filha de Hipérion.
Dona da magia.
Força regida pelo signo do dragão.

Luz da noite,
Farol noturno.
A mão invisível que guia
aquele que perdeu a direção.

Musa poética,
Poetiza da alma.
Escrevendo em voz alta
os anseios do ser.

Amiga sincera,
Olhar encantado.
Exemplo de força,
de essência e poder.

Oh anjo de alma simples!

Em teu peito repousa a bondade,
nas mãos a justiça
E em tua língua o saber.

Faça do silêncio equilíbrio.
Transforme teu mundo em idílio.
E com tuas asas voe o mais alto que puder.

Pois essa noite, linda Selene.
Ao contemplar teus olhos de esmeralda,
Sinto-me um pouco como o jovem Endymion.
Que mesmo adormecido,
Sente-se orgulhoso de sua condição.

Feliz por ter sido escolhido.
Honrado por ser um amigo.
Levando-te junto ao coração.


Por: Rimini Raskin

domingo, 11 de outubro de 2009

E se?


E se de repente a onda trouxesse mais do que os restos de algum navio pesqueiro?
Se com ela, de repente, viesse também as lembranças dos velhos marujos naufragados?
Como agirias se os fantasmas se elevassem de suas sepulturas marinhas?
Teria medo de fitá-los nos olhos?

E se te oferecessem segredos?
Se te presenteassem tesouros?
Como responderia ao convite do capitão quando ele lhe propusesse uma viajem até um paraíso de Sereias e Tritões?

Choraria se um deles tivesse o rosto de teu pai?
Cederia à oferta de uma vida onde a fome, o frio, ou o tempo não existissem?
Um mundo onde ninguém lhe cobraria um punhado de bobagens hipócritas todo dia?
Uma realidade onde ninguém é mais ou menos, pois todos apenas são e estão?

Sentiria nojo em ter que selar o acordo apertando as mãos húmidas e decompostas do capitão?
Em sentir seu cheiro de peixe podre e rum barato?
Se importaria em abrir mão de seus pequenos luxos para seguir os fantasmas até as profundezas do tempo?
Ou será que recusaria todos os prazeres e martírios do mar por tua individualidade cotidiana?

"Quando sentas na areia e olhas para o abismo onde a antiga terra plana desagua, o que esperas enxergar?"


... Assim pergunta um marujo com rosto triste, já praticamente transformado em ossos.

E você pensa, mas não sabe responder, então sorri com vergonha.
Feito isso, o pobre fantasma aproxima-se e lhe encosta a mão ao peito.

"O abismo que procuras está aqui, quando navegares tome cuidado para não ser sugado pela cachoeira e devorado por demônios. Ou pior, ser pego pelos campos magnéticos que um dia roubaram meu norte, enlouquecendo assim a minha bússola."

Ao terminar a frase o espectro se afasta para desaparecer nas profundezas do oceano escurecido pela noite.

Restam agora apenas três deles.
E com exceção do capitão que segue sorrindo como que para clarear a noite com seus dentes de ouro, os dois marujos, por algum motivo, levam os olhos injetados rasos d'água.

Mais do que isso, eles agora choram e gritam palavras em um idioma incompreensível.
Uma língua marinha de melodia baleiesca.
Correm de volta para o mar e te olham com fúria.

Mas espere!!!

Eles são você!

O capitão às gargalhadas também é você!

E quando as ondas passam a quebrar vermelhas com o nascer do sol, você sente o rosto queimar como se lhe tivessem atirado ácido. Seu corpo todo queima, e o cheiro pútrido de carne estragada lhe entope as narinas.
Num anseio de tentar manter a pele ainda presa aos ossos, você olha para os lados, mas as palavras não saem, pois sua língua já não habita mais a boca.

"Você está morto, camarada, o navio está pronto para partir, seque as lágrimas e porte-se como homem!"...

Seus olhos húmidos em vão procuram alívio, pois isso foi tudo que se pôde ler nos lábios purulentos do velho lobo do mar.



Por: 
Rimini Raskin

Partes II


Somos feitos de éter
Somos vítimas dos sonhos

Corpos fechados
Em corações abertos

Somos demônios inocentes
Esperançosos da vitória

Instigadores do sentir
No mais instigado dos sentidos

Somos além do pó
E somos mais do que espíritos

De corpos perdidos
À passos em passos
Aprendizes do infinito



Somos Vento!


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Quando eu tiver 5



Quando eu tiver 5
Eu lavarei meu rosto e mãos sozinho.
Quando eu tiver 5
Irei mastigar e cuspir tabaco como meu vô Jones.
Porque eu só tenho 4.
E 5 é muito longe.

Quando eu tiver 5
Lerei as revistas da gaveta da mamãe.
Quando eu tiver 5
Marcharei atrás dos soldados no desfile de 1° de maio
Porque eu só tenho 4 e os crescidos caminham rápido demais.

Ontem foi um dia horrível, porque Raymond chutou minha canela
E mamãe disse que se eu for bonzinho, ela me levará pra escola em agosto.
Papai gritou alto com mamãe e eu derrubei minha torrada no café da manhã.
E eu ri quando Bonzo lambeu meu rosto, porque faz cócegas.
Eu queria saber por que papai chora e como eu queria estar perto dos 5.

Quando eu tiver 5
Irei pegar uma borboleta e comê-la sem ficar doente.
Quando eu tiver 5
Pularei em poças, vou rir na igreja e casar com minha mãe.
E colocarei meu pai para fazer a limpeza.

Se eu fechar um olho, as pessoas desse lado não poderão me ver.
Eu tenho dor de cabeça pela manhã e eu monto no triciclo do Freddie.
E todo lugar é divertido, quando eu desço correndo até a loja de doces.
Então eu caio e meu joelho sangra, e todos me fazem carinho.

Eu vi uma fotografia de Jesus e perguntei a ele se poderia me fazer ter 5.
Eu vi uma fotografia de Jesus e perguntei a ele se poderia me fazer ter 5.

Quando eu tiver 5
Quando eu tiver 5


Por: David Bowie

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

F.O.D.A.



Seja amigo!
Tenha amigos!
Dê sorrisos!
Faça com que a noite dure para sempre!

Se permita viver!
Se permita dançar!
Se permita celebrar!

Curta a noite!
Incendeie as paredes!
Deixe lá fora os problemas!
E dance...porque a festa é infinita!

Por: Yuri Pospichil

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Gênio, louco e gênio

Oh pequena estrela de gás, brilho difuso.
Planeta sem órbita habitado por sonhos.
Jóia poética.
Gênio, louco e gênio.
Guardado na caverna uterina de tua própria mente.
Sujo de tinta, cansado da luta.

Eles não te deixavam em paz, não é?
Batiam na porta, invadiam teus sonhos.
Sussurravam segredos que você não queria escutar.
E por isso fugiu.
De si mesmo, do mundo.

Atirei o prisma contra o sol para assim olhar teu rosto uma última vez,
e chorei ao vê-lo tão modificado.
Tua imagem, deitado imóvel na esperança de manter as portas sempre abertas,
ilhado por tinta fresca no assoalho, afinando a velha guitarra.

E por que, Syd?

Agora quem me falará sobre o espaço?
Quem vai segurar minha mão quando eu viajar para dentro de mim mesmo?
Para quem eu vou fazer perguntas que não existem
só para ouvir respostas que não poderão ser dadas?

Pode me ouvir, diamante?
Me conte como são as luzes.
A música é mesmo doce?
E o mar? Ele é verde agora, Syd?

Emily manda lembranças e sente saudades.
Assim como todos nós.
E quando ando com minha bicicleta por aí,
ou até mesmo quando pinto elefantes pelos muros da cidade;
é como se sentisse tua presença sorridente
observando a todos nós com esses olhos de neón confuso.

O mundo perdeu a efervescência, Syd.
Já não era mais um bom lugar para o filho de Cambridge.
Por isso, descanse tranquilo poeta do espaço.
Teu brilho já foi lançado.
E daqui de baixo, continuaremos sonhando por ti.

!Shine On!



Por: Yuri Pospichil


Créditos da foto: Arte by Junior Web Arts. Fone:(35) 8411-4250

sábado, 3 de outubro de 2009

Palavras presenteadas!


"O dia que se consome e vira noite
consumindo a minha alma
na noite, eu me deparo com faiscas do sol
e o fim do fogo
a poeira dos ossos
a noite me tira o folego
engole toda minha lingua
viro, volto e retorno
na noite vejo a verdade oculta
escondida na clara mentira do dia
olhos bem fechados
dentes brancos em sorrisos
o sono anda e fala
e pés marcam o ritmo
de uma batida sem tambor...."

Por: "Não encontrei o nome do autor"

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Nossa guerra é espiritual!


Encontrei essas palavras quando mais precisava.
E particularmente ontem, elas faziam todo o sentido possível nesse mundo.
Me cansei de lutar para ser um número, para garantir um status idiota,
para provar aos outros o meu valor.
É a mim que eu devo mostrar, é somente pela minha felicidade, pelo meu bem estar que eu preciso lutar.
Ontem cheguei a pensar em deletar esse blog, pensei em mandar tudo ao inferno. Toda minha arte parecia sem sentido algum.
Mas depois pensei - "Foda-se, é isso mesmo que essa merda de sociedade quer, desacreditar minha felicidade para que eu me torne mais uma força de trabalho não-pensante, um zumbi-engrenagem, saindo da cama todos os dias pensando em ganhar dinheiro a qualquer custo. Lambendo botas, ajoelhado para provar serventia e obediência à "ordem natural" do mundo globalizado".
Foda-se, morro de medo de olhar para trás e perceber que não fiz nada de útil,
tenho medo de estar no leito de morte e pensar na minha vida como um tijolo a mais no muro. Não quero dormir na fogueira da existência, com sua chama fraca e duradoura, eu quero ser raio, quero ser brilho cegante e fugaz, quero que lembrem de mim por minha personalidade, por ser aquele que um dia tentou correr contra a multidão, aquele que gritou tão alto que todos ouviram.
Preciso de luz, longe dos números frios, distante da propanga mentirosa e manipuladora da TV.
E assim me sinto grito, me sinto raiva, me sinto vida!

"Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é a nossa vida. Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos ricos, estrelas de cinema e do rock. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso. E estamos muito , muito revoltados." [Chuck Palahnuik]

Por: Rimini Raskin

Canção Para Quem Não Merece

No verde falso dos teus olhos,
eu me perdi.
Já não me importo com o que falam,
pois só quero te ter aqui.

Se o meu crime foi te amar demais,
então acho que sou culpado.
Se não é certo o que agente faz,
então adoro estar errado.

É indescritível a sensação
de voltar a ser criança.
De não saber, de ficar sem ação.
De te esperar com esperança.

Se o meu crime foi te amar demais,
então acho que sou culpado.
Se não é certo o que agente faz,
então adoro estar errado.

Vou fazer uma canção
só pra te conquistar.
Vou gritar pelo teu nome,
pela noite e em qualquer lugar.
Vou viver de sonhos,
vou te fazer me amar.
Vou roubar uma estrela.
Eu vou te roubar.

Vou te roubar pra mim.


Por: Yuri Pospichil

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Comece a brigar!


Se você está lendo esse aviso, então isso é para você.
Cada palavra lida deste texto inútil é um segundo perdido da sua vida.
Você não tem mais nada para fazer?
Sua vida é tão vazia que você não consegue vivê-la melhor?
Ou você está tão impressionado com a autoridade que você respeita todos aqueles que a exercem em você?
Você lê tudo o que deveria?
Pensa tudo o que deveria?
Compra tudo o que lhe dizem para comprar?
Saia do seu apartamento/casa.
Pare de comprar tanto e de se masturbar tanto.
Peça demissão.
Comece a brigar. Prove que você está vivo.
Se você não fizer valer pelo seu lado humano, você se tornará apenas mais um número.

Você foi avisado.


Por: Tyler Durden (Clube da Luta)

Presente especial!!




Por: Fabíola Alcazzar